CAPÍTULO DOIS

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Pouco mais de três horas depois e o avião estava aterrissando em um aeroporto que parecia ser ao menos dez vezes maior que o "projeto de aeroporto" de St. Brokklin. Enquanto eu esperava que minhas duas malas aparecessem na esteira, aproveitava também para observar as coisas e pessoas a minha volta. O ritmo de vida em Londres parecia acelerado, como se os ponteiros do relógio estivessem se movendo mais depressa,  talvez. As pessoas iam e vinham depressa, como se o tempo estivesse prestes a acabar ou como se o lugar para o qual elas estivessem indo estava desaparecendo. Era exatamente como Joseph havia dito certa vez: "Você vai trocar a pacata St. Brokklin para viver na movimentada Londres." Agora eu entendia o que ele queria dizer com movimentada. 

Depois de quase cinco minutos de espera, finalmente consegui encontrar minhas malas. Um dos passageiros que também me esperava me ajudou, exibindo um sorriso gentil e atencioso. Senti uma corrente de positividade correr por meu corpo, e tive a certeza de que apesar do início de dia estranho, eu tinha chegado em Londres com o pé direito. Agradeci ao moço e me dirigi ao portão de saída, cuja passagem estava quase que inteiramente bloqueada por  pessoas que aguardavam aqueles que desembarcavam. Corri os olhos pelo saguão enorme, me sentindo perdida, quando consegue avistar um folha sulfite, meio amassada, com o nome 'Anne Hallward' escrito em letras de forma. Respirei fundo e segui em direção ao cartaz, só então parando para prestar atenção na pessoa que o segurava. 

Um garoto. Ele parecia ser um pouco mais velho que eu, mas ainda assim era novo. Era alto. Vestia um jeans escuro desbotado e meio surrado, e uma camisa branca, com gola V. Os vans pretos combinavam com algumas pulseiras também pretas que ele usava em um dos braços, e também com os óculos escuros que usava. Meus passos pareciam diminuir conforme mais me aproximava. Não era gordo, nem magro. Na verdade, ele parecia ser do tamanho ideal. Os cabelos eram de um castanho escuro, quase negro, mas com alguns vestígios de reflexos em um tom de castanho mais claro. Alguns fios desalinhados caiam perfeitamente e ironicamente arrumados sob sua testa, ao contrário do restante, que era bagunça. Quando acabei com a distância que nos separava, ele baixou a folha, tirando os óculos escuros e me encarando. Seus olhos. Os olhos mais profundos e misteriosos que eu já havia visto em todos meus anos de vida. Eles tinham uma coloração diferente; eram castanhos mas a cor parecia tornar-se mel conforme mais perto da pupila. Não consegui manter o contato visual, e desviei o olhar para minhas malas. 

Toda minha confiança se esvaiu, e eu me vi culpando aqueles olhos, que em menos de cinco segundos de contato já pareciam querer desvendar todo meu ser. Quando voltei a encarar a garoto, minha atenção se voltou para outra coisa. Sua expressão. Eu estava atrasada? Tinha feito alguma coisa? Juntei todas minhas forças e resolvi quebrar o silêncio desconfortável que havia surgido. Coloquei o melhor dos sorrisos nos lábios e comecei a falar. 

― Prazer! Sou Anne Hallward, e você dev... 

― Sean Brewster ― Ele me interrompeu. Seu olhar se desviou para meus pés, e no segundo seguinte ele estava me analisando dos pés a cabeça. A expressão meio brava deu lugar a um meio sorriso, um pouco convencido, o que me deixou meio enfurecida. Ele amassou o sulfite e o arremessou na lixeira ao nosso lado, deixando o sorriso crescer ao acertar o lixo em cheio. 

Sem saber ao certo o que responder, apenas continuei sorrindo. Ele baixou o rosto e balançou a cabeça negativamente, ainda com um sorriso divertido nos lábios. Enquanto eu tentava entender qual piada havia perdido, ele se virou sem aviso nenhum e começou a caminhar em direção a saída. 'Obrigada pela ajuda!' sussurrei para mim mesma, enquanto pegava minhas duas malas e praticamente me arrastava para segui-lo. 

Quando chegamos no estacionamento, minhas malas pareciam pesar o dobro do peso, e eu estava arfando. Ele parou ao lado de uma fileira de carros e retirou uma chave do bolso. Um apito alto ecoou pelo lugar, as lanternas de um carro piscaram duas vezes. Continue imóvel no lugar, encarando o garoto - Sean - abrir a porta de uma BMW preta e conversível e entrar nesta. No segundo seguinte, a porta do porta malas se abriu automaticamente. Pisquei algumas vezes, tentando me concentrar, e não sei de onde tirei forças para conseguir colocar as duas malas no carro. Fechei a porta e soltei o ar com força. Aquela história de chegar em Londres com o pé direito? Bom, Sean Brewster estava tentando me fazer mudar de ideia. 

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