CAPÍTULO NOVE

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Ainda era madrugada, quase cinco da manhã, segundo o relógio ao lado da cama. Ciente de que não conseguiria dormir de novo, resolvi levantar e tirar o vestido de festa. Coloquei uma camisola de malha branca e alcinhas, e prendi o cabelo em um coque frouxo. Antes de sair do quarto parei diante do espelho, e me deparei com uma Anne abatida, com olhos completamente borrados devido a maquiagem. Mas quem se importa com isso? Apaguei a luz do quarto e fechei a porta tentando não fazer barulho. O ruim de festas que não são de crianças é que você sempre saí passando fome. Além disso, talvez fazer um lanche fosse a desculpa perfeita para acalmar minha mente.

A cozinha, como já era esperado, estava vazia. Peguei um prato e separei algumas coisas da geladeira, colocando tudo sobre o balcão de mármore. Preparei um sanduíche de queijo e alface, e peguei um copo de suco de laranja. Finalmente me sentei e comecei a saborear o lanche, mas antes mesmo da terceira mordida ouvi o som da maçaneta da cozinha girando. Não precisei me virar e olhar para trás para saber quem era.

Respirei fundo e continuei comendo, tentando ignorar a presença de Sean. Ele caminhou até o outro lado do balcão, indo até a geladeira e se demorando na frente desta. Resolvi erguer o rosto e me arrependi instantaneamente. Deus, por quê? Que costas eram aquelas?! Ele ainda usava a calça jeans surrada da festa, mas a blusa branca de antes estava pendurava na calça. Os cabelos estavam em desordem total, apontando para várias direções, como já era de costume. Tentei não dar muita bola para o elástico de uma boxer aparecendo, mas não consegui ignorar o suficiente para não perceber que sua cueca era preta. Balancei a cabeça e baixei o olhar para meu prato, colocando uma mão diante de meu rosto e mordendo o interior de minha bochecha com força, em uma tentativa tola e infantil de não ceder à minha vontade. Controle-se, tá? Repeti.

Ele fechou a geladeira algum tempo depois, com um copo de suco em mãos. Esperei que ele saísse logo da cozinha, mas ele parecia disposto a me torturar, já que se sentou em minha frente, do outro lado do balcão. Tentei colocar um pedaço de pão gigante na boca, para terminar logo com o sanduíche e voltar para o quarto, mas não deu muito certo. Sean me encarava em silêncio, e ao ver meu sacrifício em mastigar e engolir o pão, deu um sorrisinho de leve, como se estivesse achando graça. Tentei odiar o maldito sorriso, mas ele combinava tão bem com Sean, que acabei gostando.

― Sinto muito ― Sussurrei assim que consegui me livrar o pão, e dar um último gole em seu suco. Ele permaneceu em silêncio, ainda me fitando. Me levantei e levei o prato e o copo até a pia, agradecendo por Sean não estar disposto a der uma discussão sobre o que acontecera mais cedo. Porém, eu parecia estar enganada. Quando me virei para fugir, Sean estava em pé, logo atrás de mim, seu corpo à centímetros do meu.

― Você se desculpa demais, já te disse isso ― Disse, ainda com um sorriso no rosto ― E eu te pedi para ficar longe, Anne... Mas parece que você não levou isso muito a sério.

― Sean, por favor. Não vamos estragar as coisas ― Senti minha voz falhar ― Eu cheguei faz só uma semana.

― Você tá insinuando que eu devo esperar um mês para chegar perto de você? ― Ele questionou divertido, o típico sorriso cínico surgindo em seu rosto.

― Só estou dizendo que não quero isso... Isso pra mim ― Brewster passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os mais ainda, e então deu um passo curto em minha direção. Em resposta, dei um passo longo para trás, mas... opa... quando foi que o mármore frio da pia ficou tão perto assim, a ponto de tocar minhas costas? Droga.

― Não foi isso que pareceu, An ― Outro passo, e de repente eu não tinha escapatória.

― Sean... Aquilo só aconteceu porque você tinha colocado na cabeça que devia me tratar como se eu fosse sua irmã.

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