Thinking Of You

CAPÍTULO VINTE E DOIS

Segunda feira. Milagrosamente acordei horas antes de o despertador escandaloso começar a ecoar pelo quarto. Pensei em levantar e me aprontar para o novo dia, mas assim que a conversa que tive com Bridget na noite anterior surgiu em minha mente, senti meu corpo afundar no colchão, buscando refúgio embaixo das cobertas. Esperei que tudo não tivesse passado de um sonho louco, mas, infelizmente, tudo indicava de que nossa conversa havia sido real até demais. Quando meu celular finalmente começou a apitar, indicando que estava na hora de levantar, lutei contra a vontade de continuar na cama e tomei um banho quente para tentar relaxar. Me vesti depressa e quando me dei conta estava novamente em minha cama, encarando o nada. O dia não havia começado muito bem.

Olhei no relógio e vi que ainda tinha algum tempo, então resolvi descer para tomar um café da manhã decente, coisa que não fazia há alguns dias. A casa ainda estava pouco iluminada, e apesar de meu banho eu continua sonolenta, o que fez com que tivesse que descer as escadas devagar, tateando o corrimão e fitando os degraus em minha frente. Quando cheguei ao final da escada corri os dedos pela parede e finalmente apertei o interruptor, acendendo a luz e praguejando a claridade excessiva. Quando ergui o rosto, senti meu corpo congelar. Meu Deus. 

― Seja lá quem sejam vocês ― Falei sem pensar, ouvindo minha voz sair mais firme do que o esperado ― Não roubem nada muito valioso, por favor! 

Estavam assaltando a casa! 

Bom, na verdade não estavam. O homem de cabelos grisalhos e que trajava um terno escuro de alta costura, acompanhando por uma graveta mostarda, não se parecia em nada com um ladrão. Na verdade, ele já não parecia ter idade para se aventurar por aí assaltando casas alheias. A mulher ao seu fez com que eu chegasse a conclusão de que havia acabado de pagar um grande mico. O vestido longo e florido chegava até o chão, e o chapéu claro com uma fita alaranjada escondia parcialmente o rosto bem maquiado. Eu os encarei e eles fizeram o mesmo, parecendo tão confusos e perdidos quanto eu. Alguns segundos se passaram, mas pude jurar que eles pareceram horas. Finalmente a mulher esboçou um sorriso radiante, sendo seguida por aquele que julguei ser seu marido. De repente minha ficha começou a cair, fazendo com que eu sentisse vontade de abrir um buraco no chão para me esconder. 

― Senhor e Senhora Brewster ― O sobrenome saiu engasgado. Levei as mãos até o rosto em uma tentativa falha de tentar esconder minhas bochechas vermelhas. Eu havia confundido os donos da casa com ladrões. Parabéns, Anne! ― Eu sinto muito! ― Me apressei em pedir desculpas, tentando disfarçar meu nervosismo ― Minha cabeça não funciona muito bem de manhã e não sabia que vocês estavam chegando!

A mãe de Sean e Bridget se aproximou calmamente, com uma elegância que parecia só existir em atrizes hollywoodianas. Antes que eu tivesse tempo de pensar no que estava acontecendo, os braços desnudos e finos me envolveram em um abraço apertado e reconfortante, que me pegou de surpresa. Bom, talvez eu estivesse perdoada. 

― É um prazer finalmente conhecê-la, querida! Anne Hallward, certo? ― Assenti com a cabeça ― Estou muito feliz por estar recebendo-a em minha casa! 

― Eu fico muito agradecida, Senh... ― Não tive tempo de terminar a frase, já que ela me interrompeu, erguendo a mão como se me pedisse para parar. 

― Por favor, agora você faz parte da família! É quase irmã de Bridget e de Sean, então é claro que pode me chamar apenas de Emily ― O seu sorriso era gentil e suas palavras sinceras. Senti meu peito se aquecer com todo o carinho que parecia transbordar nas palavras e gestos de Emily, e senti saudades de minha mãe. Só mais tarde consegui prestar atenção que ela havia dito que eu e Sean éramos quase irmãos. Precisei controlar a vontade de suspirar frustrada e balancei a cabeça procurando me livrar de pensamentos inúteis como esse. Sean Brewster e eu não éramos irmãos. E pensamentos ainda mais inúteis como esse. Droga.