CAPÍTULO QUINZE

350 23 8
                                    


Enquanto o motorista dirigia, eu observava a paisagem passar devagar pela janela, admirando o fim de tarde de Londres. O céu azulado começava a ganhar contornos alaranjados, e as ruas estavam cheias e movimentadas. Ben estava prestes a dobrar em uma esquina quando pedi para que parasse o carro, sendo obedecida prontamente, sem perguntas ou protestos. 

― Obrigada. Vou dar algumas voltas no parque, e depois posso voltar a pé para casa ― Disse, vendo-o virar no banco para me fitar. 

― A senhorita tem certeza? ― Assenti, agradecendo mais uma vez pela carona e descendo do carro. 

O parque central estava relativamente lotado, considerando que era fim de uma sexta feira e que estava começando a esfriar. Havia algumas crianças brincando e casais trocando carícias, deitando em cangas esticadas nos gramados extensos e verdes. Ignorei o fato de estar de calças jeans e fui para a pista de corrida, colocado meus fones e resolvendo que talvez correr um pouco pudesse me ajudar a clarear as ideias. 

Cinco minutos. 

Dez minutos. 

Quinze minutos. 

Eu havia entrado no ritmo, e uma música agitada tocava nos fones, me deixando disposta. Comecei a cantarolar enquanto corria, ainda que minha respiração ofegante dificultasse o processo. 

Dica número 2: Nunca corra cantando se não quiser perder completamente o fôlego, e sentir a pressão cair. 

Senti minhas pernas enfraquecerem e minha visão ficar turva, e a música que tocava parecia ter ficado distante e baixa. Lutei contra a sensação ruim mas senti meu corpo cedendo, e o chão ficando mais próximo, quando senti um aperto firme em torno de um de meus braços, me segurando de pé. Puxei o ar com força para dentro dos pulmões, e deixando meu corpo repousar brevemente contra o corpo do estranho, recuperando minhas forças. O homem abanava meu rosto com a mão livre, e senti minha visão voltar ao normal aos poucos. Quando ergui o olhar, achei que iria desmaiar novamente. 

― Stephen... ― Disse com a voz baixa, ainda apoiada contra seu corpo. 

― Acho que está virando rotina eu segurar você ― Ele riu brevemente, mas seu rosto parecia sério, e seus olhos não desgrudavam dos meus. Eu tinha que continuar pagando micos na frente dele? Sério? ― Você está bem? 

― Acho que acabei exagerando, e minha pressão resolveu protestar ― Ele assentiu, sério e preocupado, colocando uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha, mantendo a mão próxima de meu rosto. Quis pensar no quão gentil e carinhoso era o gesto, mas minha mente resolveu que seria melhor lembrar de Sean e do maldito divã. Odiava não ter controle sobre meus pensamentos, e odiava ainda mais não ter controle sobre meus sentimentos. 

― Devia tomar mais cuidado ― Ele disse por fim, finalmente me soltando e afastando nossos corpos. Senti minhas pernas hesitarem um pouco, mas fui capaz de me manter em pé ― Vem, vamos sentar um pouco até você melhorar. Te pago um chocolate quente. 

Pensei em recusar, mas antes que eu respondesse Stephen já seguia em direção a um dos bancos vazios que enfeitavam o parque, indicando que eu sentasse e esperasse por ele ali. Ele desapareceu por alguns minutos, atravessando a rua e entrando em uma confeitaria que ficava na frente do parque, e então retornou com dois copos nas mãos, entregando um para mim e se sentando ao meu lado, com um sorriso no rosto. 

Deixei o líquido quente e doce descer por minha garganta e esquentar meu corpo, finalmente voltando ao normal. Stephen começou a puxar assunto e logo estávamos conversando sobre coisas variadas e aleatórias, sem prestar atenção no tempo ou no cair da noite. Ele falava sobre a faculdade, os alunos, o time de futebol que treinava, e até mesmo sobre coisas mais pessoais, como seus planos para os próximos dias, o que me deixou surpresa. Eu respondia com a mesma animação, prestando atenção em tudo, e sentindo que era bobeira negar que nos dávamos bem. Contei a ele sobre St. Brokklin, e sobre minha moradia com Bridget e Sean, e depois de quase duas horas de conversa contínua, ele se calou, observando o céu escuro acima de nós. O silêncio não era desconfortável, pelo contrário. 

Thinking Of YouOnde histórias criam vida. Descubra agora