CAPÍTULO DEZENOVE

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Tomei uma ducha rápida e vesti a primeira roupa apresentável que encontrei no closet enorme e bagunçado, fazendo um coque frouxo no cabelo e passando depressa pela cozinha apenas para roubar uma das frutas frescas que enfeitavam a fruteira no centro da mesa de vidro. Cheguei na faculdade algum tempo depois e percebi que toda a armação que havia sido preparada para a festa de Bridget já havia desaparecido, deixando o campus com cara de um lugar universitário novamente. Estacionei meu carro em uma das poucas vagas disponíveis que ainda restava no estacionamento gigantesco e saí correndo por entre os estudantes em uma tentativa tola de chegar a tempo da primeira aula. Pelas minhas contas, eu tinha menos de um minuto para encontrar a maldita sala antes que o segundo sinal tocasse. 

― Olá, Anne! ― Ouvi alguém gritar meu nome, me obrigando a parar de correr e para no meio do corredor, olhando para trás. Ótimo! Adeus primeira aula. 

― Oi, Matt! Estou atrasada e pelo visto você também ― Falei quando ele se aproximou, dando um breve aceno e voltando a caminhar depressa pelo corredor quase vazio. Assim que passei pela porta ouvi o sinal estrondoso e exageradamente agudo ecoar pelos corredores. 

Caminhei até o fundo da sala e me sentei em uma das últimas carteiras, observando Tibby erguer o olhar para me fitar e em seguida voltar a lixar as unhas, ignorando minha presença. Quando olhei para o lado, determinada a ignorar a loira, me deparei com Matthew que sorria de forma divertida em minha direção. 

― O que está fazendo aqui? ― Perguntei confusa, já que ele e eu não tínhamos nenhuma matéria juntos. 

― Fiz algumas alterações na minha grade curricular ― Disse ele, dando de ombros como se não se tratasse de nada importante. Antes que eu pudesse continuar o assunto a professora entrou na sala, carregando uma bolsa vermelha de couro que combinava com os sapatos de salto. 

A aula, infelizmente, não era tão chamativa quanto os acessórios da mulher, e foi difícil me manter focada. Aula chata, aula tediosa, aula insuportável. A folha do meu caderno estava completamente preenchida com desenhos aleatórios de estrelas, planetas e uma porção de corações. As margens estavam enfeitadas com várias letras 'S'. 'S' de Stephen, que isso fique bem claro. Tentei prestar atenção naquilo que a mulher falava mas no fim das contas minha mente acabou vagando para longe. Quando olhei no relógio pela última vez ainda faltava cerca de vinte minutos para o final da aula, que acabou sendo interrompida logo em seguida. Eu estava tão desligada e imersa em meus próprios pensamentos que nem ergui o rosto para ver quem estava abrindo a porta e chamando a atenção da professora. 

 ― Sinto muito interromper sua aula, mas preciso roubar uma aluna sua por um segundo ― Não precisei estar olhando para reconhecer aquela voz, rouca e aveludada. Deixei o lápis cair e finalmente olhei para frente, encontrado Stephen parado na porta e mantendo-a meio aberta. Os lábios estavam curvados em um meio sorriso. 

― Acredito que ela não vá perder muita coisa, já que já estamos quase no fim da aula. Isso vai demorar? ― Perguntou a professora, aproximando-se de Stephen. 

― Não sei. Ocorreu um problema na festa de sábado e essa aluna ― Stephen travou, como se estivesse pensando no que dizer. Em momento nenhum seus olhos desviaram dos da professora ― Bom, essa aluna foi responsabilizada e como eu era um dos professores responsáveis, preciso conversar com ela ― Ele coçou a nuca, claramente desconfortável. Ele mentia terrivelmente mal. 

― Tudo bem. Qual aluna? 

― Anne ― Ele tirou um pedaço de papel do bolso de seu jeans escuro ― Hallward. 

Deixei o ar que mantinha preso em meus pulmões escapar de uma só vez, e então senti todos os olhares se voltarem para mim. Sabe quando todo mundo te olha como você fosse uma espécie de aberração, ou como se tivesse acabado de ganhar na loteria ou conseguir descolar um encontro com o cara mais cobiçado de todos? É, foi assim que me senti. Fechei o caderno e o joguei dentro da mochila, pegando o lápis do chão e fazendo o mesmo com ele, antes de fechá-la e jogá-la sobre o ombro direito. Caminhei depressa por entre as carteiras e mantive meu olhar baixado o tempo inteiro, preferindo não encarar os rostos desconfiados de meus colegas de sala. Quando passei por Stephen ouvi ele agradecer a compreensão da professora que ministrava a aula e fechar a porta, passando por mim e começando a caminhar. 

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