CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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O caminho até o apartamento de Stephen havia sido silencioso. Ele batucava o volante e parecia prestar atenção na música que tocava na rádio, enquanto tudo que eu conseguia ouvir eram os pensamentos altos que rodopiavam em letras garrafais dentro da minha cabeça. Quando finalmente chegamos, e estávamos no elevador, o silêncio finalmente se tornou desconfortável. No carro a música parecia ser capaz de disfarçar o clima tenso, mas agora, entre quatros paredes e dentro de um cubículo, a tensão era quase tangível. Stephen vez ou outra me olhava e curvava os lábios em um sorriso charmoso e convidativo, mas que só me deixava com ainda mais vontade de fugir dali o mais depressa o possível. 

Jurei que mataria Bridget assim que pudesse, porque a culpa era totalmente dela. Se ela não tivesse tocado no assunto sexo eu certamente não estaria paranoica agora. Além disso, eu também iria matar Sean Brewster. Ele também era culpado por ter resolvido aparecer na cozinha justamente antes de meu encontro com Stephen. O maldito parecia fazer de propósito. O elevador finalmente chegou até a cobertura do prédio antigo, revelando apenas uma porta. Stephen seguiu na frente e eu o segui com passos curtos e receosos, ouvindo as portas de metal se fecharem atrás de mim. 

Entramos em seu apartamento e congelei logo no primeiro passo, meus olhos ficando presos logo no centro da sala ampla e bem decorada. Se essa cena estivesse acontecendo em qualquer outro dia, e também em qualquer outra situação, ela certamente teria sido a mais romântica da qual já havia feito parte. Mas, é claro, que ao invés de sentir meu coração derreter feito manteiga dentro do peito eu apenas senti o desespero crescer. Minha vida estava completamente fora dos trilhos a ponto de uma cena linda e perfeita se tornar a mais deprimente do mundo, acabando com meu humor. 

― Desculpe por ter atrasado ― Ele falou fechado a porta atrás e nós e se colocando ao meu lado ― Achei que nossa comemoração merecia algo mais especial, e não uma comida embalada na frente da TV ― Ele deu de ombros, coçando a nuca logo em seguida em um sinal claro de nervosismo. Eu era a garota mais ingrata do mundo. Continuei em silêncio. 

Afinal, o que eu poderia falar? Meu coração parecia ter sido trancafiado em uma daquelas camisas de força, que te apertavam até todos os músculos e nervos de seu corpo doerem e te fazerem gritar por ajuda. Sim, era exatamente assim que eu me sentia, a ponto de gritar por ajuda. Dos Deuses, dos astros, das garotas que dariam tudo para estarem em meu lugar! De qualquer um. Naquele exato segundo, eu tive certeza de que estava ferrada. Estava ferrada porque o jeito que Stephen me olhava enquanto esperava por algum sinal me fez perceber algo que até então havia passado despercebido. Me fez perceber que não era um professor interessado por uma aluna sua, mas sim um homem apaixonado por uma mulher. 

Desviei o olhar para a mesa no centro da sala. O tampo estava coberto por uma toalha branca e longa, e um vaso com rosas vermelhas repousava no centro da mesa, próximo de um castiçal com velas vermelhas e acessas. Ele havia deixado apenas uma luz fraca acessa, deixando o clima mais íntimo e aconchegante. Dois pratos brancos, um de frente para o outro; talheres, taças e guardanapos. Terminei de analisar a mesa e não me preocupei em olhar o resto do apartamento. Na verdade, a única coisa na qual reparei além da mesa de jantar foi na janela enorme que ocupava uma das paredes da sala. A vista para umas das avenidas mais movimentadas de Londres era simplesmente maravilhosa e deslumbrante. Uma porção de luzes se estendia pelo infinito, e a lua brilhava cheia no céu. Stephen sorria tão orgulhoso que parecia ter encomendado a paisagem especial para nós dois. 

Por fim, corri meus olhos pelo corredor escuro que ficava próximo da sala e avistei quatro portas, todas fechadas. Atrás de algumas delas estava o quarto de Stephen. Fiz uma anotação mental e jurei que se ele tentasse me mostrar o apartamento após o jantar, eu sairia correndo. 

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