CAPÍTULO VINTE E QUATRO (2)

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― O que achou do discurso? ― Sean perguntou, não se preocupando em disfarçar o tom divertido de sua voz.

― Teria sido lindo se não fosse tão mentiroso. Discursos costumam ser sinceros ― Falei, tentando sorrir da maneira mais irônica o possível, ao mesmo tempo que me livrava de seu aperto e voltava a caminhar. Sean me segurou novamente.

― Vamos embora.

― Sim, é claro. Eu vou no meu carro e você no seu.

― Temos que conversar, e essa reunião familiar deplorável ainda está longe de acabar. E vamos embora juntos ― Disse ele, autoritário.

― Não sei se ouviu o que eu disse, mas você tem um carro e um motorista. E não iremos embora juntos. E também não temos que conversar sobre nada. E se você me soltar, eu ficaria muito grata.

― Mas ficaria ainda mais grata se eu te segurasse com mais força, não? ― Sua voz baixa e rouca me pegou de surpresa, e logo meu corpo estava sendo puxado de encontro ao seu. Uma de suas mãos aperto minha cintura, impedindo que eu me afastasse ― Por favor, precisamos conversar. E esse não é o melhor lugar para fazermos isso...

― Se me soltar posso pensar em seu caso ― Ele hesitou, mas finalmente desfez o aperto em meu braço e deixou que eu me afastasse. Revirei os olhos e acabei cedendo, curiosa para saber o que tanto Sean precisava falar comigo. Não iria morrer por dar uma carona para Sean, e assim eu podia fugir do jantar, que realmente parecia longe de terminar. Além disso, seria bom chegar cedo em casa para poder descansa. Querendo ou não, eu e Stephen iriamos provavelmente colocar os pés na estrada para darmos início a nossas férias.

Voltamos para o salão e Sean se despediu de seus pais, alegando que não estava se sentindo muito bem e que eu daria uma carona para ele. Emily e George insistiram para que ele fosse embora com o motorista, para que eu pudesse ficar e aproveitar o restante do jantar, mas me apressei em dizer que também precisava ir embora. Emily pareceu triste, mas Bridget convenceu a mãe de que Sean ficaria bem e de que eu realmente precisava ir para cama cedo. Seus olhos variavam entre Sean e eu, e ela parecia um tanto curiosa e animada. Me despedi com um aceno breve e finalmente saímos do restaurante. Comecei a caminhar na direção do estacionamento mas Sean logo se colocou em minha frente, me fazendo parar. Seus braços foram parar nos meus e ele me fez girar na direção oposta. 

  ―  O que foi? O carro está pra lá ―  Exclamei confusa, apontado para o estacionamento ao lado do restaurante. Sean ignorou completamente, empurrando meu corpo e me fazendo caminhar na direção oposta ― Sean! ―  Falei mais alto, travando os saltos no asfalto e parando de caminhar. Ele suspirou, um pouco irritado e impaciente. 

―  Vamos para casa a pé, Anne ―  Era uma piada, é claro. Dei uma risada forçada. 

―  Você tirou o dia para ser engraçadinho, né? Vamos logo para o carro. 

Comecei a seguir em direção ao estacionamento e Sean, pela centésima vez na noite, me segurou, me obrigando a parar. Seu rosto estava próximo demais, e havia um brilho intenso e violento em seus olhos castanhos. 

  ―  Será que pode me obedecer pelo menos uma vez na vida? ―  Quis discutir e ir logo para meu carro, mas negar o pedido de Sean pareceu uma tarefa impossível. 

―   Estou de salto alto. E com frio também ―  Resmunguei, vendo-o abrir um sorriso vitorioso. 

Voltamos a caminhar pelo caminho oposto, seguindo por uma rua repleta de pequenos comércios, que continuam abertos mesmo durante a noite. Logo estávamos entrando em um pequeno brechó, prestes a fechar. Eu me infiltrava entre as araras e cabideiros empoeirados, buscando encontrar algum casaco que não fosse tão estilo anos 60, ou 70... Ou hippie. Enquanto eu vasculhava as roupas Sean continuava na frente da loja, apoiado no balcão e flertando descaradamente com a garota loira que parecia encantada. Queria socá-lo. Só não queria socá-lo ainda mais porque, ao perceber que havia esquecido a carteira em seu carro, Sean teve o não tão brilhante plano de dar em cima da pobre e ingênua garota para que ela pudesse nos dar um desconto. A ideia era certamente ridícula, mas parecia estar funcionando muito bem. 

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