CAPÍTULO QUATRO
O dia seguinte amanheceu chovendo bastante em Santa Rita. Aquele calorzinho que fazia ultimamente havia virado um friozinho particularmente bom pra mim que havia acordado com uma puta preguiça de ir pra escola, até lembrar que não haveria aula, pois era sábado. Estava bem enrolado em meu cobertor grosso que estava com sua metade jogada no chão do meu quarto bagunçado, junto com minha mochila, meus tênis e umas roupas que eu havia jogado antes de dormir. Meu quarto não era muito grande, por isso não me arriscava a levar a bateria do Adam pra tocarmos lá. Tinha uma estante com alguns livros sobre biografia de músicos e CDs, meu guarda-roupa onde eu havia guardado o velho livro, além da minha guitarra e outros pequenos objetos e lixos no chão.
Já passava das dez horas quando a preguiça me deixou levantar depois de ter novamente dormido. Após sair do banheiro - que eu havia ido às pressas, fui até a porta apanhar o pequeno jornal local da cidade que era publicado semanalmente e que não me interessava nem um pouco, já que as poucas notícias que havia pra relatarem eram sobre política e outros assuntos que só interessa os velhos.
Joguei o jornal no sofá e algo me chamou a atenção. Na pequena folha havia escrito "ATAQUE NA MADRUGADA", seguido de uma foto embaçada de três pessoas encapuzadas de preto. Logo me sentei e li a matéria.
Na madrugada deste sábado (16), um ataque agressivo seguido de roubo escandaliza a população de Santa Rita. Segundo a vítima, o vigia contratado para cuidar do pequeno hotel "Chaves", localizado no bairro Pedro Teixeira, que quase desmoronou no dia anterior (15), por motivos ainda não esclarecidos pela policia (pg.3). Três homens vestidos totalmente de preto como mostra a imagem acima, tirada de uma das câmeras de segurança de uma lanchonete, o agrediu deixando-o inconsciente. Em seguida entraram arriscadamente no hotel interditado para roubar objetos dos ex - moradores.
A polícia confirma que os vândalos não são da cidade, e suspeita que sejam amigos do homem encontrado morto, que também não é de Santa Rita na Rua Olavo Bilac - Bairro Bom Pastor, na madrugada também na sexta, que você confere na página seguinte.
Fiquei meio em êxtase com o texto. Tinha um pressentimento muito ruim em relação a Ramon, mas ele não poderia ser um dos caras da foto, eu o conhecia desde criança, era o amigo que eu sempre defendia dos outros por ser mais tímido e baixinho. O conheci nas antigas aulas de violão. Ramon era o menor de nós, ainda tinha cabelos curtos, mas já se vestia com roupas escuras. Sentava no fundo da sala e não conversava com ninguém, eu sempre achava que ele não gostava muito de mim, pois sempre revirava os olhos impaciente quando eu perguntava algo do Luciano, nosso professor. Comecei a falar com ele quando uma vez uma corda do violão dele havia quebrado e Luciano perguntou se alguém poderia dividir o violão com ele, logo me ofereci pra dividir o violão, primeiro porque naquele tempo eu tinha a mania de não admitir que alguém não gostasse de mim, eu me achava! Segundo, que eu achava bem maneiro o modo como ele se vestia. No mesmo dia ficamos amigos e vimos que nós tínhamos muito em comum, Luciano dizia que eu estava um passo a frente que os outros na guitarra, mas não, Ramon era tão bom quanto eu só não era tão exibido como eu, e se mostrou muito melhor que eu com o passar dos anos.
Ramon jamais seria capaz de algo tão grave. E pior que eu não conseguia reconhecer ninguém na imagem, que além de embaçada, havia sido feita muito distante dos três, o que deixava o reconhecimento impossível.
Embaixo da meteria li "AUMENTO DO PREÇO DO TOMATE", virei a página aonde li "DESCONHECIDO MORTO", virei novamente e li "HOTEL QUASE DESMORONA", mas nada disso me interessava tanto, eu já sabia do homem morto e da tragédia no hotel. Eu nunca achei o jornalzinho útil, já que aqui as noticias se espalham tão rápido no mesmo dia para o jornal só informar no final da semana, mas dessa vez o jornalzinho havia me deixado mais intrigado que nunca. Era absurda a ideia de Ramon está metido naquilo, mas eu não tinha como não desconfiar, assim como era inevitável não perceber a relação dos desconhecidos com tudo o que havia acontecido de ruim aqueles dias...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Mistério do Livro Lensson
FantasyNa pacata cidade de Santa Rita no interior do Rio Grande do Sul, o estudante Davi e seus amigos companheiros de banda têm uma reviravolta em suas vidas ao encontrar um misterioso livro com supostos poderes sobrenaturais, entrando em uma tremenda bri...