CAPÍTULO CATORZE
Eu e Adam sentávamos na beira da cama do Fred, e Ramon olhava pensativo pela janela. Fred agora dividia o quarto com seus dois primos pequenos, o quarto era bem iluminado e espaçoso com três camas e vários brinquedos espalhados. Seu contrabaixo estava dependurado em cima do guarda-roupa, provavelmente por causa de seus comportados colegas de quarto, aliás, baixo esse que provavelmente era novo, pois o seu antigo havia sucumbido no velho hotel.
- Onde será que eles foram atrás dessas barracas hein? - perguntava Adam.
- Não faço ideia - respondi.
- Cara não acredito que realmente vamos ter que ficar naquele mato. - disse Ramon virando-se pra nós.
- É o melhor agora Ramon - eu disse.
- Será muito melhor que a gente correr o risco de ser pegos por aqueles esquisitos de novo. - disse Adam.
- Eu sei... - respondeu Ramon.
E ele realmente sabia, pois também já havia sido vítima deles, e é por isso que estava sendo mais compreensível em ir pra esse acampamento, pois o Ramon de uma semana atrás não acamparia ali por nada.
A porta do quarto se abriu.
- Eu acho que serve. Ai! - resmungou Fred esforçando-se com dificuldade pra passar pela porta carregando uma lona desgastada azul e alguns ferros.
- Você vai acampar Fred? - perguntou um dos primos pequenos do Fred que entrava no quarto.
- Não! O Davi que vai - respondeu ele largando a barraca no chão.
O garoto olhou pra testa do Adam e saiu correndo empolgado pra avisar o outro.
- Vou tentar achar um saco - disse Fred saindo do quarto novamente.
Enquanto isso, eu tentava dobrar a lona. Logo depois Fred voltou com o saco. Ouvi os passos das crianças que já corriam novamente rumo ao quarto e Fred fechou e trancou a porta.
- Põe aqui! - disse Fred enquanto seus primos reclamavam atrás da porta.
Forcei a lona a entrar e depois os ferros. Ouvi a buzina do carro lá fora, seguida de uma ansiedade nervosa que senti.
- Você já sabe Fred, não sai de casa! - falei a ele.
- Mas e aula amanhã? Minha tia tá me obrigando a ir agora.
- Enrola ela amanhã. Pelo menos até a gente decidir o que fazer - disse Ramon.
Fred pegou o saco e rapidamente saímos passando pelo corredor, pela sala, e depois pelo portão. Lamentava sair de um confortável quarto de criança pra ir pra uma barraca no meio do nada.
- No porta-malas! - gritou Carmos pela janela do carro. Fred jogou o saco com a barraca desmontada no porta-malas e nós nos despedimos dele.
- Não saia de casa! - gritou Carmos novamente a ele.
Entramos no carro e avistamos Fred ficar cada vez mais distante com seus primos que corriam até ele na beira da rua...
Passei o caminho todo inquieto, mas resumindo: Daniel e Carmos explicaram que compraram as duas outras barracas, Adam ligou pra sua mãe e mentiu que iria dormir na minha casa. Vi direito o arranhão na testa do Adam - não parecia unha, pois o corte era fino, e ele explicou que a unha da mulher ia afinando nas pontas, Ramon confirmou, pois também havia sentido essa mesma unha escrever em seu punho. Atendi a ligação do meu avô confirmando que havia deixado o carro e menti dizendo que já havia voltado pra casa, pensei bastante nas desculpas que teríamos que dar no dia seguinte pros meus avós, pro meu pai, pros pais do Adam e Ramon por sumir do mapa. E finalmente chegamos, depois de uma grande volta pra evitar passar pela minha rua.
Era estranha a sensação de estar tão perto de casa e ir dormir no mato. A rua onde estávamos era mais baixa que a minha, pois havia um barranco pra subir no matagal, diferente da minha rua, onde era bem plaino.
- Temos que ser rápidos, eles tão muito perto daqui - disse Daniel ao parar o carro. A rua não estava muito movimentada. Saímos e ele continuou no carro.
- Mas aonde ele vai? - perguntou Adam a Carmos.
- Deixar o carro longe, pode ser uma pista de onde estamos.
Já havia ouvido isso antes.
Não demorou, Daniel voltou correndo. Um carro passou, e pra nosso alivio não eram eles. Carmos olhou atento para os lados e para as casas no outro lado da rua. Não havia ninguém.
- Vamos! - chamou escalando o barranco. Não era alto, talvez menos de um metro. Todos nós subimos e começamos a caminhar com Carmos na frente nos instruindo. Não fazia ideia de que o mato era tão extenso daquele lado, já que só entravamos pelo outro lado do quarteirão em frente o MeuCafé, e nunca passamos dos limites do parque pra adentrar no mato mais denso. As árvores eram até bem altas. A floresta desse lado lembrava muito a floresta onde os satas estavam. Logo chegamos à barraca do Carmos, não estava tão escuro, pois a lua cheia estava iluminando bastante e talvez as luzes dos postes das ruas também clareassem, ou não, já que estavam tão longes. Não sei!
- É aqui! Ainda não ajeitei nada direito já que achei esse lugar ontem, mas dar pra dormir - disse Carmos.
Pensei em o que poderia ainda ser ajeitado ali. E ri. Aquele clima de estar isolado daquele jeito no meio do meu bairro, onde eu sabia que na real não estava isolado de verdade, me deu uma acalmada. E aquela luz da lua me tranquilizava. Percebia que Adam e Ramon também estavam mais calmos.
- Só falta minha guitarra aqui - disse Ramon.
Adam riu. Ele estava bem.
Com a ajuda do Carmos e Daniel começamos a montar nossas barracas, os dois ficaram com as novas e eu fiquei com a do Fred onde achei lençóis grossos no fundo do saco. Fred realmente era imprevisível...
As barracas ficaram muito bem montadas e bem próximas umas das outras, pois o espaço entre as árvores eram pequenos. Após Daniel ir embora, Adam foi dormir, estava cansado. Eu, Ramon e Carmos ainda ficamos fora por um tempo conversando e logo depois entramos em nossas barracas. Após forrar minha barraca com o lençol grosso do Ben10, que provavelmente Fred havia pegado dos seus primos, ainda demorei um pouco a dormir.
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O Mistério do Livro Lensson
FantasíaNa pacata cidade de Santa Rita no interior do Rio Grande do Sul, o estudante Davi e seus amigos companheiros de banda têm uma reviravolta em suas vidas ao encontrar um misterioso livro com supostos poderes sobrenaturais, entrando em uma tremenda bri...