O desconhecido

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CAPÍTULO OITO



- Quem é você? - perguntou Adam antes de mim extasiado no banco da frente.


Agora com mais calma podia ver o cara direito. Parecia algum namorado ou amigo da minha tia Luiza que ela sempre trazia nas férias quando fazia faculdade na capital, tinha cara de universitário. Com certeza não era de Santa Rita.


- Daniel! - respondeu atento à estrada.


- Isso não ajuda! - reclamou Ramon com os cabelos molhados de suor nos olhos.


- Daniel Lensson.


Senti um calafrio na hora.


- Quê? - perguntaram Ramon e Adam ao mesmo tempo.


- Me diz aí, vocês são bem malucos não? - disse sério.


Nós continuamos calados, eu tentava formular uma explicação do cara ter o mesmo nome do livro.


- Quê que foi? - perguntou ele novamente nos vendo atordoados.


- Cara você tem o nome do livro - falei.


- Coincidência não é? - disse carrancudo.


- Vai nos explicar? - perguntei irritado com sua ironia.


Ele me olhou direito pelo retrovisor e voltou-se para a estrada novamente.


- Na verdade não passa de uma coincidência mesmo. Uma desgraçada coincidência...


Seus olhos pesavam vagamente.


- Como assim? - perguntei.


O cara parou o carro, olhou ao redor e voltou-se para nós e Adam ao seu lado.


- Vocês já sabem muito do Lensson... - lastimou. - É melhor esquecerem isso.


Percebia que ele sim sabia muito sobre o livro, aparentava já ser vivido e bem maduro para alguém que deveria ter uns vinte e cinco anos ou menos.


- Agora não dá mais pra esquecer... - disse Ramon.


- Pois devem. E vão! - disse nos olhando ameaçador. - Essa gente não presta, todos já têm crimes que vocês nem imaginam nas costas, e se caso se meterem com eles de novo vão ter o mesmo rumo que todos que se meteram no caminho deles tiveram.


Daniel voltou-se para o volante novamente e funcionou o carro.


- E por que não estão presos? Sei lá... - perguntou Ramon.


- A maioria deles já foi, mas eles são muito espertos, alguns deles já fugiram das prisões mais seguras do país. Outros nem ao menos foram pegos!


- E como você entra nessa história? Seu sobrenome... - lembrei.


- É o seguinte vou contar tudo a vocês se prometerem não se envolver mais nisso - disse ele sério.


- Claro! - assenti.


- Como eu disse, meu sobrenome não passa de coincidência.


Fred me encarou e Daniel continuou.


- Eu fui criado em um orfanato em São Paulo, tentaram nos traficar quando éramos bebê, eu e meu irmão gêmeo, Edgar, que era a única coisa que eu tinha de verdadeiro na vida. Tráfico humano era muito raro naquela época. Acabou que a traficante morreu em um ataque cardíaco quando foi presa em São Paulo e a polícia nunca descobrira de onde ela havia nos roubado, já que até seus documentos eram falsos. O tempo foi passando e acabamos sendo criados em um orfanato... Com o sobrenome Lensson! - Daniel nos olhou de relance pelo retrovisor. - Nome esse que eles diziam que era nosso verdadeiro sobrenome.

O Mistério do Livro LenssonOnde histórias criam vida. Descubra agora