O Mistério do Livro Lensson

Ramon

CAPÍTULO SEIS

Após sair do MeuCafé, já nos aproximávamos da minha casa quando me surpreendi ao avistar Ramon de quem nós tanto falamos mal nos esperando no portão.

De longe logo percebi que Ramon parecia atormentado, o que era bem estranho já que ele como sempre era bem calmo e às vezes transparecia até certa frieza, mas agora sua expressão era de medo, eu acho - talvez de culpa.

À medida que nos aproximávamos ele sorria aliviado em nos ver, o que geralmente não fazia.

- Aonde vocês foram? - perguntou ele. Fred e Adam apenas os encararam calados, Fred parecendo decepcionado e Adam com pena.

- Por que não esperou lá dentro? Deveria ter pulado a janela... - eu disse com frieza.

Ramon mudou instantaneamente sua expressão. Olhando de perto percebi que ele estava com as roupas sujas e enlameadas.

- Eu vim contar tudo a vocês Davi! Vocês precisam me ajudar! - pediu ele.

Me preocupei com seu desespero, mas a raiva que eu tava ainda era maior.

- Ajudar depois do que você fez cara? - perguntou Fred calmo.

- Eles me obrigaram a falar onde tava esse maldito livro! Não tive escolha. Vocês não sabem o que eu passei.

- Vamos entrar! - chamei.

Além de precisar entender toda a história melhor, no fundo eu ainda achava que Ramon realmente teria uma explicação pra tudo aquilo.

Entramos em casa, e em seguida me sentei perto do Adam que olhava suspeito para Ramon também sentado no outro sofá. Fred continuou em pé encostado a parede.

- Olhem só! - falou histérico levantando a manga esquerda do moletom preto. Seu pulso estava riscado ainda minando sangue.

- Caramba o que foi isso? - perguntou Fred sentando na beira do sofá onde eu e Adam estávamos.

- Uma unha! - respondeu Ramon tenso.

- Quem fez isso Ramon? - perguntei.

- Foram eles! Esses caras são da pesada mano. Do mal mesmo!

Hesitei um pouco ainda não tão convencido.

- Te forçaram a invadir meu quarto com isso?

- Mas eu não entrei no seu quarto Davi! Eu só fiz falar onde tava o livro porque eles me forçaram. Fui um otário! - explicou inquieto apontando para os cortes.

- Conta do começo Ramon - pediu Fred.

- Vocês se lembram de ontem à noite quando perguntaram se eles me conheciam?

- Continua - respondi baixo.

- Não conhecia mesmo. Juro! Mas logo que vocês saíram eles apareceram lá...

- A gente viu! - interrompi e Ramon continuou.

- Eles se apresentaram. Os caras pareciam maneiros, e eu me amarrei no estilo deles... Eles falaram que também tinha uma banda e me chamaram pra assistir um ensaio deles hoje de manhã...

- E...?

- Eu aceitei... Fui até a porcaria de pousada onde eles estavam. E me arrependi. Não tinha banda nenhuma. Me torturaram!

- Torturaram? Como assim? - perguntou Fred.

- Primeiro eles tentaram me convencer a entrar em uma porcaria de sociedade que eles têm.

- Quê? - perguntei.

- Sim! Eles são satânicos ou algo do tipo.

- Quê? - perguntei novamente mais intrigado ainda.

- Cara vocês tem que acreditar em mim!

- Continua... - disse Fred.

- Eles são diabólicos. Estavam naquela pousada que fica na redondeza.

- E você foi até aquele fim de mundo? Pra lá só tem mato - disse Adam que até então estava calado.

- Sim! Eles começaram a falar sobre o capeta mesmo, e outras atrocidades imundas pensando que eu curtia essas coisas. Eu tentei ir embora claro, mas eles não deixaram. Me obrigaram a entrar na floresta. São muitos!

- E como eles souberam que você sabia onde tava o livro? - perguntei já sabendo a resposta. É claro que foram eles que fizeram aquilo no hotel sabendo que o livro estava no quarto de Fred.

- Eles me viram com vocês, com certeza sabia que vocês estavam com o livro.

- É claro! - disse Fred.

- E o que fizeram com você? - perguntei autoritário assim como eu perguntava quando sabia que alguém havia zoado com ele na escola.

- Eu nem lembro direito, tava meio zonzo. Eles queriam saber com quem estava o livro. Eu nem sei como adivinharam que eu sabia, mas eles estavam tão interessados que eu achei que poderia ser algo valioso, aí não falei. Então começaram a me atormentar, me fizeram sentir dor, e uma maluca ainda riscou meu pulso. Eles são loucos. Olha direito!

Ramon levantou a manga novamente e nos aproximamos. De perto percebi que os cortes formavam a palavra HITLER.

- Que porra é essa...? - pensei alto com repulsa.

- Um dos caras que me segurava tinha o símbolo do nazismo tatuado no pescoço. - disse ele.

- São tipo nazistas? - perguntou Fred estranhando.

- Acho que sim. Eram doentes... Racistas... Falavam de um jeito assustador.

- Te bateram? - perguntei.

- Só me chutaram, depois ameaçaram me esfaquear, então não tive escolha e infelizmente falei onde estava o livro... Além Da...

- Além do que Ramon?

- Da dor...