O Mistério do Livro Lensson

Epílogo

O crepúsculo chegava e eu já sentia a emoção. Um frio na barriga tomava conta de mim e um imenso prazer me satisfazia plenamente, esquentando meu corpo, me fazendo vibrar. Milhões de pessoas gritavam nossos nomes, e nossa música que já tocava nas caixas de som pra aquecer os fãs antes do show, ecoava na multidão, me sentia feliz sempre que entrava no palco, e sempre me lembrava das vezes à uns dois anos atrás quando o prazer se esvaia e as vozes nos chamando diminuía, o que me faz dar muito valor agora a esse prazer que não se esvai e essas vozes que não diminuem. Não via a hora de correr pra frente do palco pra mais um show, e fazer a alegria do povo que tolerava nosso atraso. Havíamos acabado de chegar às pressas. Estávamos no aniversário de um ano do Edgar, filho do Daniel que agora morava em uma cidade do interior de São Paulo onde encontrou sua família verdadeira, e que família hein! Nunca vi tanta gente, tantos parentes tentando empantufar comida em Edgar, e quando eu via Daniel com os primos de costas, tinha dificuldade em reconhecê-lo já que eram todos tão parecidos com ele.

- Carmos chegou confirmando o primeiro dia de estúdio do próximo álbum para o dia 15 - disse Ramon apressado se aproximando de mim, não mudara nada esses anos todos, digo, sua aparência, pois seu talento havia progredido de uma maneira tão incrível que já havia ganhado até premiações sempre com troféus em forma de guitarra, por falar em aparência não podia dizer o mesmo do Adam que se aproximava agora com as baquetas na mão, pois agora era coberto por tatuagens, sua mais recente era a letra "A" que ele havia tatuado no pescoço simbolizando "Adam e Alice". Fred o chamava de lagartão por causa de sua pele quase totalmente verde, Fred apareceu logo em seguida, também não mudara tanto esses dois anos que saímos da pequena Santa Rita, mas agora estava mais responsável, e deveria mesmo, pois sua namorada estava grávida e em breve eu já teria um afilhado. Uhooo! Cara, eu estou tão ansioso com isso! E eu? Bom, eu continuo o mesmo, quer dizer, já ganhei sim alguns prêmios em formato de microfone, além de milhares de cartas, calcinhas, e coisas tão bizarras que você nem imagina. Fiz sim algumas tatuagens mais discretas que as do Adam claro, mas minha preferida é a replica do Lensson que tenho no pulso. E agora não paro de escrever, já tenho letras pra mais uns dez álbuns.

Meu celular vibra e olho a mensagem. É Jennifer dizendo que pegou um puto engarrafamento quando saía da faculdade e que talvez não pegue o voo das seis pra Goiânia aonde nós teremos um show e a verei. Jennifer está fazendo faculdade de educação física e sim, conseguimos nos formar naquele ano, foi um ano bem louco, depois do primeiro show da banda Lensson naquele lendário festival. Voltamos pra Santa Rita que agora era uma das cidades mais famosas do Brasil pelo suicídio em massa que havia acontecido atrás da pousada. A loucura em Santa Rita foi tanta que raramente havia aula, a cidade estava cheia de jornalistas que exploravam ao máximo cada detalhe do ocorrido, enfim, descobriram que eles eram da velha organização sata, e que tinham distúrbios mentais e se mataram, e claro, logo relacionaram isso aos outros dois satas que também se "suicidaram" no penhasco e aos três outros que foram presos Ronald, Águia e o hipnotizador, que pelos crimes que têm nas costas provavelmente nunca mais verão a luz do dia, o que eu acho que eles talvez não achem nada mal. O bom é que nunca chegaram nem perto de descobrir nada sobre o Lensson, o que não quer dizer que o país não tenha ouvido falar do nome Lensson. Ouviu sim, mas como a mais nova banda de rock de sucesso do país. Depois do velho festival, alguns empresários, produtores e até o sócio de uma das maiores gravadoras do país nos procuraram e não demorou nada pra nossa carreira deslanchar.

Carmos acaba de aparecer apressado e aponta para o relógio, precisamos fazer o show.

- LENSSON! - grito para Adam, Ramon e Fred.

- LENSSON! - ELES REPETEM.

FIM