II

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Dr. Steve retomou a postura.
-Como eu estava dizendo....Seu pai estava passando por uma recuperação. Mês passado ele me procurou para poder entrar em contato com você. Já que o Pedido de Afastamento foi aceito. O que você pediu, impedi-o de se aproximar.- exclamou ele.
-O Pedido que ganhei por justa causa?!- exclamei irônica.
-Sim. Eu entrei em contato com a juíza que aprovou o pedido e expliquei a situação atual...-confirmou ele.
-Situação atual.- repeti com amargura.
-... Ela analisou o caso e lhe mandou esse documento. Essa cláusula tem consigo a permissão para o rompimento do Pedido de Afastamento e a aproximação de seu pai. Como em poucas semanas, alcançará a maior idade, a juíza só aceitará se for assinada por você e sua tia.- explicou ele, tirando umas folhas da maleta e sentando no sofá.
-Posso fazer uma pergunta?- questionei.
-Sim.-respondeu.
-Por acaso,está tentando me matar?- perguntei,desta vez gritando.
-Nã...-começou ele.
-Porque é o que está parecendo!- respondi ainda gritando.

Lexy, está alterada. Tomou seu remédio hoje?, perguntou Mason.
Eu não sabia. Repassei toda aquela manhã na minha mente,lembrando de todos os minutos. Minha conclusão foi um "Droga!". Virei para Mason e neguei com a cabeça.

Onde está?, perguntou ele.
Na geladeira, respondi.

Vi-o se afastar de mim e aproximar de minha tia.
-Com licença, senhora.- pediu ele.

Ela apenas assentiu. Observei-o sumir pela porta e comecei a bater o pé no chão, cronometrando seu tempo. Em vinte e oito batidas, ele voltou trazendo consigo uma seringa e uma lata de meu refrigerante favorito. Menino esperto.

Abriu a lata e a entregou para mim. Tudo acontecia em um silêncio pesado. Eu sentia os olhos de todos em nós dois, como se fôssemos a atração do dia. Bebi dois bons goles numa tentativa frustante de me acalmar. Tentei pegar a seringa de Mason, mas minha coordenação motora indicava minha incapacidade de executar qualquer movimento com precisão. Havia virado um costume: toda vez que tinha que tomar meu remédio perto dele, automaticamente tomava controle e me medicava. E assim foi desta vez.

Ele tirou a agulha e puxou uma caixinha pequena no bolso. Pegou algo em seu interior e colocou-o no meu braço. Observei com mais cuidado e vi que se tratava de um band-aid redondo. Olhei contente para o adesivo.

Dr. Steve se aproximou curioso.
- O que está acontecendo?- perguntou ele.
-Por acaso, o senhor fez a questão de investigar os ocorridos que me aconteceram após sair do hospital?- interroguei de volta.
-Não. Os médicos comunicaram que a senhorita teria que fazer alguns exames apenas. - exclamou ele.
- Não me surpreendente.- afirmei.

Fui até a gaveta da estante que tinha no corredor ao lado da escada e peguei uma pasta. Joguei a pasta com hostilidade em cima da mesa no meio da sala. Os papéis se espalharam e todos se aproximaram. Com as mãos zangadas, comecei a arrumar as folhas.
-Após sair do hospital, passei por ...- contei os atestados.-... Vinte e um psicólogos e psiquiatras. Agora estou em tratamento apenas com o Dr. Brandon.
-Vinte e um?!- o espanto na voz do advogado era evidente e inevitável.
-Pois é. Não acha que sou muito jovem para ter estado em um hospício?- perguntei sarcástica.
-Acho.-respondeu em transe.
-Eu estive. Foi apenas por alguns dias, mas posso garantir que não é um spa cinco estrelas. Ótimo lugar para pensar em toda aquela injustiça imposta a mim. Não era para mim estar lá. Eu não era louca. Talvez eu fosse um pouco anteriormente. Na época, estava apenas cansada de tantos remédios, médicos, exames e perguntas. Fiquei realmente louca. Hoje em dia posso dizer que consegui controlar a besta dentro de mim...-olhei de minha tia, passando pelo Ryan e para o olhar em Mason-...com ajuda.Certo que ainda necessito de um dos remédios por causa da doença.
-Que doença?- perguntou meu pai.
-Devido a alta quantidade de fumaça nos pulmões, o estado psicológico prejudicado e a forte pancada na cabeça, desenvolvi uma raríssima doença. A Doença do Medo. Pode ler sobre ela em todos essas folhas.- afirmei apontando para os papéis.

O Doutor as pegou e analisou. Ele lia seriamente as linhas.
-Isso é ...espantoso.- comentou.
-Realmente. Alguns são só receitas médicas para a seringa. E agora, doutor? Acha que devo assinar o documento que trouxe? Já não fui prejudicada o suficiente? - continuei nervosa.

Ele ficou mudo. Uma confusão ocorria em seu interior. Era visível, quase auditiva. Após um suspiro, ele disse:
-Sinto muito por isso...- confessou.
-Vai por mim. Eu sinto mais. - retruquei.

Está indo bem. ... Respire entre a pronúncia de cada frase, aconselhou Mason.

Assenti, voltando a atenção para mesa. O clima estava tenso e o ar continuava pesado como chumbo.
-Mas aposto que não é só a minha assinatura na folha, não é? Temos outro que não pertence a família nessa casa.- afirmei, olhando para o garoto emo.
-Não, senhorita Alexa. O único que é intruso aqui é esse seu amigo.- respondeu o advogado.

Não sou amigo dela. Sou n-a-m-o-r-a-d-o. E com orgulho, retrucou Mason indignado.
Apertei os lábios para não rir.
- Como assim?- perguntei, com medo da resposta.
-Senhorita, esse garoto se chama Mike Andrew e ele é seu meio-irmão.- anunciou o dr. Steve.

Sabe quando você leva um tapa forte no rosto e cai no chão, sem saber o motivo da agressão? Eu estava assim, só que sem o chão e o tapa.
-O quê?- gritei alto.
-Avisei que o assunto era delicado.- disse o dr.

Mason..., murmurei em pânico.
Calma. Respira., pediu ele preocupado.

-Após um ano de seu nascimento, seu pai teve um pequeno desvio no casamento...- contou dr. Steve.
-Pequeno? Esse pequeno é eufemismo.- respondi gritando.
- Foi um acidente.- respondeu meu pai.
-Acidente? Acidente é bater o carro ou o dedinho no sofá. Traição não é acidente. E ter um filho é uma conseqüência terrível.- afirmei, completamente zangada.

O remédio não está fazendo efeito, respondeu Mason.
Pouco me importa isso. Dane-se esse remédio, retruquei brava.

-Alexa...- começou meu pai.
-Fique longe de mim.- afirmei, perdida.

Virei em direção da porta e corri. Logo estava nas calçadas correndo em alta velocidade. Agora as lágrimas tomavam conta do meu rosto. Eu só queria me afastar daquilo tudo. Era demais pra mim.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora