XXXVI

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Seria arriscado fazer aquilo, mas como a Chloe disse: situações extremas pedem medidas extremas. Bernardo já estava com o seu computador ligado e Leah estava na porta da sala, vigiando tudo. Assim que Scarlett nos deixou a sós para que eu pudesse fazer o relatório, joguei o celular para Bear. Eu havia conseguido pegar o aparelho sem que ela vesse facilmente. Ele conectou o celular em seu computador e começou a hackeá-lo.

- Só preciso da última ligação. Aqui! Isso vai ser moleza. O GPS do celular estava ligado. - murmurou ele.
- Rápido, cara. - pedi, apreensivo.
- Só mais um minuto. - anunciou ele.
- Vai ter que ser só um minuto mesmo. Ela vem vindo aí. - afirmou Leah, agitada.
- Toma, Mason. Devolva no lugar. - disse Bear, jogando-me o celular.

Peguei o aparelho e coloquei em cima de uma pratilheira. Sentei na cadeira rapidamente e comecei a escrever, como se fizesse isso a um tempo. Leah fingia mexer nas unhas e cantarolar, enquanto Bernardo ficou do mesmo jeito, mexendo em seu computador. Ela entrou e sorriu.
- Vocês por acaso viram meu celular? Vivo perdendo-o! - anunciou ela.
- Na pratilheira de sempre. Aquela das poções. - afirmei, como se a localização do aparelho não me importasse.
- Obrigado, Mason. O jantar fica pronto daqui a meia hora. - confessou ela, pegando o aparelho.
- Ok. - respondemos juntos.

Assim que ela saiu, olhei para Bernardo.
- Uma caneta e papel. - pediu ele.

Tirei uma folha do livro que fazia o relatório e lhe dei junto com a caneta. Ele olhou para a tela do computador e depois escreveu na folha. Aproximei-me e ele me entregou o papel.
- Está aí. Espero que saiba onde fica. - confessou ele.
- Não sei, mas descubro. Vou hoje á noite e vou precisar da ajuda de vocês para me darem cobertura até eu voltar. - pedi.
- Sem problemas, mano. Amigos é para isso. - confirmou ele rindo.
- Assino embaixo do que o Bear falou. - disse Leah.

Voltei a mesa e observei bem o papel. Se Scarlett me pegasse com o papel, era perigoso ser trancado em algum quarto, então dobrei a folha e coloquei-a no bolso. Voltei minha atenção ao relatório, decidido a acabá-lo mais rápido possível. Logo, Pietra veio e nos chamou para jantar. De estômago cheio e descansado, eu poderia partir a qualquer momento, porém tinha que ser discreto e não levantar suspeitas. Tomei banho e aproveitei para arrumar tudo o que precisaria. Era tarde da noite quando verificava tudo e-, acabei lembrando de algo que a Lexy me disse na frente de sua antiga casa:

-Sabe que não pode fazer isso para sempre,não é? - perguntou ela, séria.
-Do que está falando?- questionei de volta.
-De me proteger. Não pode fazer isso o tempo todo. Uma hora a gente vai ter que se separar por algum motivo e não conseguirá cumprir essa promessa.

Neguei com a cabeça.
- Desculpas, Lexy, mas eu vou conseguir cumprir isso. - sussurrei para a sala vazia ao meu redor.
- Falando sozinho, cara? - perguntou Bernardo, surgindo da porta.
- Apenas relembrando algumas coisas. - confessei.
- Sabe, Mason, nossa amizade é velha e eu já estive com você em todos os momentos. Posso dizer que em nenhum deles, eu te vi tão feliz como está agora. Mesmo com tudo isso, você transparece sua felicidade. Se toda maldição fosse como a sua, eu não me importaria de ser amaldiçoado um pouco. - afirmou ele.
- Obrigado, mano. Sério. Ter vocês aqui, nesse momento, está sendo ótimo. Espero que fiquem quando tudo isso acabar. A Lexy vai adorar. - confirmei.
- Claro que vamos ficar. Eu acho que entendi tudo isso. Os opostos se atraem. - disse ele.
- Como assim? - perguntei, confuso.
- Cara, você era o melhor aluno da sala. Ótimas notas e um currículo impecável. Você é o certinho da história. A Alex é curiosa, briguenta, impulsiva. Como você mesmo disse, passou por muita coisa sozinha e isso muda qualquer um. Ela sabe atirar, dirigir e quase não tem medo. Já a Alex é a bad girl da história. Você é o oposto dela, assim como ela é o seu. Por isso, se dão tão bem juntos. Chega a ser engraçado. - disse ele, rindo.
- Você está certo. Eu sinto que por ela, posso fazer qualquer coisa, mesmo sendo impossível. A felicidade dela é o que mais me importa e ela é o que tenho de mais valioso. - confessei, sorrindo.
- Cara, não sei como a Alex não te deu uns tapas ainda. Você é muito meloso! Se um dia eu ficar assim, mate-me. - brincou meu amigo.
- Ok. Vou me lembrar disso. Sei que está de olho na aprendiz da Scarlett. - falei.

Ele endireitou a postura e ficou sério.
- Você acha que tenho chances? - perguntou Bear.
- Claro, cara. Invista, mas se eu fosse você, pediria algumas dicas ao Cupido. Aposto que o cara adoraria ajudar. - aconselhei-o.
- Certo. Vou falar com ele mais tarde.- afirmou ele.
- Você já está pronto, Mason? - perguntou Leah, aparecendo também.
- Sim. - confessei, colocando a mochila nas costas.

Bernardo e Leah se aproximaram. Bear foi o primeiro a me dar um abraço de despedida.
- Se cuida, mano. Nos vemos em breve. - disse ele, recompondo-se.
- Claro. - respondi.

Leah também me abraçou e disse:
- Traz minha irmã de volta, por favor. - pediu ela.
- Não volto sem ela. - retruquei.

Caminhei em silêncio até a porta e a abri devagar. O vento lá fora sopra gelado e a noite estava nublada. Fechei meu casaco e pulei para fora. Olhei para atrás, vendo meus amigos parados ali na porta como se fosse estátuas. Acenei com a cabeça e comecei a correr o mais rápido que pude.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora