XLI

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☀Narrado por Leah☀

Entrei na sala e deparei com a cara de espanto do Bernardo. Caminhei até ele, com medo.
- Parece que você viu um fantasma. - afirmei, rindo.
- Acabei de ligar para o Mason e ele está numa pior. - respondeu ele, apertando o celular nas mãos.
- O que aconteceu?
- Pelo que consegui entender, algo péssimo. Precisamos achá-lo antes que faça uma burrada.
- Onde ele está?
- Não me disse, mas já descubro.

Ele desbloqueou seu celular e começou a mexer rapidamente. Por fim, suspirou.
-Ele não está longe daqui. Está em um bar na beira da rodovia. - retrucou Bernardo, decepcionado.
- Em um bar? Achei que a Alex odiasse pessoas que bebiam. - supos, estranhando.
-Esse é o problema. Ela odeia. Isso significa que não está com ele. - afirmou ele, triste.
- Merda! - resmunguei.
- Vou ver com a Scarlett se posso pegar o carro emprestado e ir buscá-lo. - e saiu da sala, determinado.

Caminhei até minha mochila e peguei um casaco, preparada para encarar o sereno da noite. Logo, Bernardo voltou com as chaves do carro nas mãos e acenou para que eu o seguisse. Descemos até a garagem e ele colocou o carro em movimento. Eu estava do seu lado como muitas vezes no ano, quando saímos à procura de Mason. Eu tinha me adaptado a arrumar tudo o que precisava em uma mochila e a viajar por longos períodos de tempo sem passar mal.
- Leah, sei que nunca me intrometi na sua vida pessoal, mas depois desse ano, ainda tenho uma grande dúvida. - falou Bear, sem tirar os olhos da estrada.
- E o que seria? - perguntei, tentando desamassar meu casaco.
- Em uma noite, eu estava conversando com a Alex, a noite que me contou que partiria em breve e ela acabou pedindo para mim não comentar nada que ela gostava do Mason porque você estava meio que afim dele também... - começou ele, sem jeito.
- Alex sempre sem preocupando mais com a gente que com si própria. Isso é surpreendente. - confessei.
- É. Mas não é isso. Depois que você acabou pegando os dois juntos, parece que desistiu dele. Isso é só impressão ou você desistiu mesmo? - perguntou ele, por fim.

- Não foi bem desistir. Eu tive só uma queda por ele, algo momentâneo. Eu não sentia aquela paixão ardente. Eu só investi por que achei que ele também gostasse de mim. Já me apaixonei algumas vezes e sei seus sintomas. Mason sempre foi um cara legal, mas nunca fez meu tipo. Se não fosse pela Alex, eu nunca teria falado com ele. Entenda, Bear: na minha antiga vida, eu estava acostumada com coisas passageiras. Nada durava muito e com o Mason seguiria o mesmo ritmo. Eu esperava um relacionamento estilo amor de verão. Não duraria também. - revelei, sentindo-me pesada por isso.

Bernardo ficou mudo, como se refletisse sobre minhas palavras. Respirei fundo e continuei:
- Por isso, aceitei ajudar a vocês. Eu não tinha nada a perder e é quase impossível dizer "não" a Alex. Eu não sabia que mudaria tanto conhecendo vocês. Foi muitas descobertas: vi amigos juntos para salvar outro, fazendo de tudo. Enfrentamos perigos e estávamos ali juntos naquilo e isso era coisa que eu só vi em filmes ou li em livros. Eu era tão amarga com tudo que acabei desacreditando em tudo, até na amizade. Eu nem acreditava que alguém poderia largar tudo e ajudar outra pessoa como a Alex fez. Eu entendo que no começo ela foi obrigada aquilo, mas no final ela queria ficar. Aprendi com ela o que era uma verdadeira amizade e que mesmo uma pessoa sem coração e fria pode fazer o melhor por todos e se apaixonar. Então, assim que descobri que Mason sustentava um amor por ela, eu não fiquei brava por estarem juntos, mas sim por não ter confiado em mim. Acho que acabei depositando uma confiança nela que saberia que não cumpriria. Alex é forte e carrega muitas coisas, mas é aquele tipo de pessoa que prefere fazer tudo pelo os outros, pois se falhar poderá apenas se culpar. Ela aceitaria a culpa e não se decepcionaria com as outras pessoas. Isso acaba se tornando uma qualidade e um defeito. - anunciei.
- E depois desse tempo todo e vendo ele tão mudado, não restou nenhum sentimento? - continuou Bear.
- Não aquilo que eu sentia. Assim como por você, só sobrou um carinho de amigo. Eles dois, Alex e Mason, são perfeitos juntos e agora enxergo isso. Fico feliz por eles e assim como a Alex, espero achar aquele que seja perfeito para mim também. O mesmo vale para você, Senhor Ruiz. Eu estava pensando e parece que quando vinhemos para cá, a Realidade, foi como uma segunda chance para acertar na vida; para fazer as coisas serem permanentes. - expliquei, calma.
- Nisso eu devo concordar. Podemos fazer mais aqui que em nosso mundo e ainda podemos ser felizes. Para mim, isso basta.- confirmou ele, com um sorriso.
- Para mim também. - falei.

O carro parou e Bernardo olhou para fora. Fiz o mesmo e me deparei com um lugar precário. Desci do carro, admirada e enojada.
-Que espelunca! - confessei.
-Concordo. - retrucou ele, descendo do carro. - Vamos tirá-lo logo desse lugar.

Apenas assenti. Entramos no bar e começamos a procurar. Conseguimos encontrá-lo em uma mesa, jogando no banco.
-Vamos sair daqui, cara. - falou Bernardo, puxando-o do banco.
-Não, Bernardo. Saí! Eu já sei o que vou fazer. - disse Mason, empurrando o Bear para longe.

Ele cambaleou em direção a porta e saiu. Bear se recompôs e saiu atrás. Eu não queria atrapalhar, então segui-o devagar.
- Alexa!- gritou Mason, quase caindo.

Bernardo correu e o segurou.
-Mason, pare de gritar. - pediu ele.
-Solta-me, Bernardo. Ela precisa me ouvir, saber que não era bem eu que falou aquilo tudo. Só estava confuso. Eu vou para cidade. - confessou Mason, falando mole e tentando se livrar de Bear.
- Do jeito que está, não vai conseguir chegar em lugar nenhum e a Alex não vai querer te ver assim. Sabe que ela não gosta quando bebe. - argumentou Bernardo.
- Eu sei, mas eu errei feio. Porém, quando me ver desse jeito, ver o quanto estou machucado, tenho certeza que me aceitará de volta. Eu vou fazê-la me escutar e ela vai entender, vai me curar. Eu só preciso voltar lá. Vou conseguir dar a volta por cima e trazê-la de volta. Ela só precisa me ver. - confessou ele, inundando os seus olhos de lágrimas.
- Calma. Vamos resolver isso, mas não com você assim. Vou te levar de volta para casa da Scarlett.- anunciou Bear, levando- até o carro.
-Não! Não! Você não entendeu! Não tenho tempo. Eu preciso dela agora, por que...nada do que eu fiz, valeu a pena se não for por ela. Assim que nos encararmos, ela vai voltar. Ela precisa voltar para mim! Ela sabe disso, mas esqueceu. Eu vou mostrar tudo, Bear. Vou fazê-la se lembrar de tudo que passamos juntos; que aquela noite no carro, eu não estava brincando. Se eu tivesse o anel ainda, mostraria ele também...- disse Mason, desesperado apalpando os bolsos.
- Que anel? Você comprou um anel para ela?- perguntou Bernardo, assustado.
-Co-omprei. Claro que comprei. Não dava para fazer um pedido de casamento descente sem um anel, Bernardo. Entretanto eu o perdi. - confessou Mason, sentando no chão e deixando as primeiras lágrimas caírem.

Bernardo me olhou agoniado e eu coloquei a mão na boca, sem conseguir conter meu espanto e tristeza. Senti os meus próprios olhos se umedecerem e me aproximei dele.
- Mason, entra no carro. Vou te ajudar a achar a Alex. - falei a ele.
-Va-ai me ajudar?- perguntou ele.
-Vou, mas precisa entrar no carro. - afirmei.
-Bear, me ajuda a entrar. - pediu ele.

Bernardo concordou e o colocou deitado nos bancos de trás do carro. Assim que estava totalmente deitado, mais lágrimas escorreram por seus olhos e ele os fechou forte. Depois de um minuto, já roncava baixo. Bear fechou as portas e me olhou.
- Como fez isso? - perguntou ele.
- Só disse o que ele queria ouvir. Isso funciona quando estamos tristes. Ele está péssimo. - confirmei.
- Sim. Só me pergunto o que aconteceu para chegar nesse estado. - exclamou ele.
-Eu tenho outra pergunta: se o Mason está assim por causa que disse algo a Alex, como estará a minha amiga? - lancei a pergunta ao vento.
- Essa eu realmente queria saber a resposta, mas receio que ela não esteja melhor que o Mason, por mais que eu queria. O que fazemos agora?- perguntou ele.
-Voltamos para a casa da madrinha da Alex, cuidamos do Mason e contamos tudo para ela. Tomara que nos ajude. - respondi, entrando no carro.

Bernardo assentiu e entrou no carro também.


The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora