XLVII

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Decidi que não ia forçar a velocidade enquanto não pegasse a rodovia. Parei em uma lanchonete e comprei algumas latas necessárias para mim. Passei no mercado e comprei um pouco de carne para Twayla. Enquanto ela comia, eu sai do carro e tomei duas da minhas latas geladas de refrigerantes. Olhei em volta e um letreiro luminoso chamou minha atenção. Por que não?!
- Já volto. Por favor, fique aqui! - pedi a tigresa, ligando o ar.

Ativei o alarme do carro e fui em direção a loja de tatuagens. Entrei e fui falar com o recepcionista.
- O que quer, flor? - perguntou ele.
- Tem alguma com um sol? - questionei de volta.
- Claro. Dê uma olhada. - e me entregou um caderno.
- E posso fazer agora mesmo? - interroguei, folheando o exemplar.
- Vou preparar a máquina. - afirmou ele, sorrindo e saindo da sala.

Continuei olhando, como se olhasse uma revista comum. Era muitas opções, cores e estilos diferentes. Se fosse em outra época, eu teria medo e talvez nem encararia tal ousadia. Mas agora, eu ainda estava à procura de alguma coisa para aliviar a dor, mesmo sendo uma nova dor. Parei em um desenho antigo, cheio de detalhes e um sol no meio. Era estilo tribal e parecia um bracelete. Tentei segui o recepcionista e acabei parando em uma sala bem ampla. Tinha uma maca no meio e vários desenhos na parede. O rapaz saiu de uma sala oposta a que entrei, já com luvas e uma máscara branca. Engoli seco e disse:
- Eu vou querer essa aqui. - confirmei.

Ele olhou o desenho e sorriu.
- É rápida. Dá para fazer em três horas. Tem algum problema? - perguntou ele.
- Nenhum. - afirmei.
- Então, se acomode na maca que vou terminar de me preparar. - exclamou ele.

Assenti e fui para a maca. Depois de quatro horas, a tatuagem ficou pronta. Demorou mais do que o previsto, pois ele teve que desenhar a tatuagem no meu braço antes de ligar a maquina. Controlei minha respiração e meu corpo, para colaborar com ele. Já era difícil fazer uma tatuagem, imagina só em fazer se mexendo o tempo todo? Coitado! E afinal, mal senti a agulha perfurar minha pele.

Saí da loja, agradecida e decepcionada. Não pela tatuagem. Ela tinha ficado linda, mas pelo meu objetivo não ter sido comprimido. Eu me sentia pior. A cada hora, cada minutos, eu estava mais fraca e magoada. Entrei no carro e virei para Twayla, mostrando a tatuagem nova. Ela rugiu baixinho e concordou com a cabeça, como se tivesse gostado do desenho. Respirei fundo, renovando o ar dos meus pulmões e coloquei o carro em movimento, desta vez em alta velocidade. Liguei o rádio e deixei a música rolar. A batida calma e a melodia triste me chamaram a atenção. Uma parte me atingiu bem em cheio, pois tratava o que eu estava fazendo:

Você só faz essas coisas por desespero,♪
Você está passando pelas seis fases da separação...♪

Poxa! Essas indiretas eram fortes. Foquei minha atenção na estrada, na tentativa de apenas curti a música, ignorando sua letra e explicação. Eu sabia que não estava bem e não precisava lembrar disso. Outra música começou e desta vez sua batida era mais agitada. Essa música já retratava uma mensagem minha para Guths:

É minha hora de assumir
Eu sou a chefe agora
Não vou fingir
Não quando você está caindo
Porque esse é meu jogo
E é melhor você vir jogar

Eu costumava me segurar
Agora estou me soltando
Eu faço minhas escolhas
Yeah, eu mando nesse show
Então eu deixo as luzes acesas
Não, você não pode fazer com que eu me comporte

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora