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Foi assim que horas se passaram. Sombrias e geladas. Mason se aproximou de mim, calmo.
- Você precisa comer algo. Não pode passar o dia todo sem comer. - confessou ele.
- Estou sem fome. - respondi, olhando para o chão.
- Eu entendo que está triste, mas eu preciso que você fique bem, meu amor. - pediu ele, puxando-me do chão.
- Ok. - sussurrei, deixando ser levada.

Mason passou a mão na minha cintura e puxou a arma devagar.
- Eu vou ficar com isso daqui por enquanto. - murmurou ele, escondendo a arma em si.

Estranhei sua reação a arma. Não falou nada, não reclamou ou pediu explicações. Fomos para um restaurante e encontrei meus amigos comendo também. Sentei na mesa e Mason pediu um hambúrguer para mim. Meus olhos estavam pesados e inchados por causa do choro. A comida foi colocada na minha frente e a olhei por um tempo.

Vai, Lexy. Coma, pediu Mason novamente.

Segurei o hambúrguer entre os dedos e dei uma mordida. Estava tudo sem gosto, mas acabei forçando tudo a entrar no meu estômago. Voltamos ao hospital, à espera de alguma novidade sobre a Chloe. Cupido e Príncipe se aproximaram novamente. Eles pareciam mais calmos, conformados.
- Não tivemos coragem para entrar... É difícil. Será que você poderia ... ir com a gente? Para dar uma força? - perguntou Henry, sem jeito.
- Claro. - confessei, acenando para a porta.

Eles assentiram. Caminhei na direção do quarto de Chloe e os meninos seguraram em meus ombros, um de cada lado. Senti a tensão em seus dedos. Abri a porta, mostrando a imagem perturbadora. Eles pararam e ficaram imóveis. Aproximei da cama e da minha amiga, sentando na ponta.
- Oi, minha amiga. Hoje foi um dia...confuso, não é? Queria poder trocar de lugar com você, sabe? Essa missão tola. Foi tudo minha culpa. Não deveria ter deixado que embarcasse nessa comigo, mas comigo sempre é assim.O perigo me ronda. Mal consigo proteger o Mason. Entretanto, não quero falar de coisas assim. Quero que descanse e fique boa logo, certo? Temos que ir na nossa formatura. Não podemos faltar àquela chatice, mas precisamos do certificado. Lembra que combinamos de zoar com os meninos na formatura?Temos que fazer isso também. Depois, comemoramos na cafeteria do Sr. Jack com aquele bolo que eu sei que você adora. - disse eu, calma.

Thomas apareceu na porta e me chamou com um gesto de cabeça. Virei para os dois e disse:
- Só... imagine que ela está dormindo. Fica mais fácil assim. Eu já volto. - afirmei, saindo.
- Certo. - falou Cupido.

Saí do quarto e notei que Mason não estava ali.
- Ele saiu para beber água. Logo estará de volta. - exclamou Thomas.
- Ok. O que quer? - perguntei.
- O que eu quero, não posso ter. Mas não é sobre isso que quer falar com você. O médico voltou aqui. Ele precisa de um responsável para por como acompanhante da Chloe. - confessou ele.
- Oh, meu Deus. Que droga! - sussurrei. Eu ainda não era uma adulta, faltava pouco tempo.
- Ei, não se preocupe. Eu vou ficar aqui. Dei meus dados para por na ficha e fazer o crachá de acompanhante. Posso ficar até que ela acordar. - explicou ele.
- Mas ela pode demorar anos ou nem acordar. Você tem sua vida para viver. Não vou te atrapalhar... vou dar um jeito para resolver isso. - afirmei, sentindo-me perdida.
- Por que não só agradece? Chloe também é minha amiga. Apeguei-me a garota e quero ajudar. Eu vou ficar e esperá-la se recuperar. - disse ele, sério.

Suspirei e relaxei os ombros.
- Beleza. Não vai adiantar eu discutir. Que seja assim então...Mas e a missão e o castelo? - perguntei.
- Você sabe o local. Pode ir lá e investigar por contra própria. Tem a arma, então estará a segura. Qualquer coisa com ela, eu vou te ligar e assim que descobrir algo no castelo, quero que me ligue também. Vamos nos manter informados. - pediu ele.
- Claro. Tudo bem. Eu não sei como agradecer. - afirmei, sem jeito.
- Que tal com um abraço? - supôs ele, sorrindo.

Aproximei dele e o abracei. Seus braços fizeram o contorno em minha volta, rígidos. Eu podia sentir seus músculos por cima da roupa e isso acabou me deixando desconfortável.
- Espero não estar atrapalhando em nada. - comentou alguém.

Virei para ver quem era e deparei com Mason com uma expressão muito brava. Ai, caramba! Minha vida estava mais complicada que cubo mágico. Um lado arrumado, os outros cinco bagunçados. Olhei para ele e me senti culpada. Quase sai correndo novamente.
- Não está. - respondi.

Mason me lançou um olhar severo.
Para, ok? Não aconteceu nada demais, afirmei.
Eu não confio nesse cara perto de você, confessou ele.

Fui até ele e o beijei.
Você tem que confiar mais em mim, confirmei.

Revirei os olhos ao vê-lo sem reação. Bobo! Assim que todos estavam reunidos, Thomas e eu nos revisamos para contar o que tínhamos decidido. Assim, em menos de uma hora estávamos de volta ao carro e a estrada, indo na direção da casa da minha madrinha. A viagem foi tensa e silenciosa. Cupido e Henry estavam tristes demais para conversar. João e Maria estavam apenas mudos, sem expressões. Branca de Neve não queria me provocar, então continuou calada. Mason dirigia e eu apenas olhava a paisagem lá fora. Eu estava me sentindo de mal humor, por causa de uma leve dor de cabeça. Assim que chegamos na casa, Pietra veio nos recepcionar.
- É bom vê-los de volta. - disse ela animada.
- Legal!Mais energia negra. - murmurou Cupido.
- A Scarlett vai ficar muito feliz. - e veio nos abraçar.

Assim que se aproximou de Mason, a Marca se ativou automaticamente e barrei ela com a mão.
- Não... faça isso, OK? - pedi.
- Claro. Foi sem querer. - afirmou ela, assustada.

Porque só você pode receber abraços de estranhos?, perguntou Mason.
Porque sim. Eu sou a Protetora e tenho que me previnir. A Marca acha que quase todo mundo pode acabar com a nossa existência, expliquei, mostrando os olhos roxos.

Começamos a ir em direção à casa. Cupido estava bem atrás de nós.
- Alex, pode me proteger também? Não quero ficar perto delas novamente. - confessou o jovem.
- Fica por perto. Elas não vão te fazer mal. São do bem. - argumentei.
- Eu sei, entretanto não gosto da magia delas. - retrucou ele.
- Certo. Pode ficar perto. - respondi.

- Nossa existência? - perguntou Mason depois de alguns minutos.
- A sua, não. A minha e da Marca. Eu sou a única Protetora que existe. Assim que eu me for, a Marca se vai também, levando junto minha espécie. Não temos noção quando terá outra como eu ou se terá. E caso alguma coisa aconteça com nós, e acabemos nos separando, eu morro. Literalmente. Será como arrancar meu coração, que na verdade é o seu. Eu li no livro. Seu coração pulsa junto com meu sangue, uma certa quantidade de magia que é a fonte de meus poderes. Um Elementarie vive sem uma Protetora, porém fraco. Mas uma Protetora não existe sem um Elementarie. No passado, quando uma Protetora não se adaptava a vida de seu Elementarie e ele acabasse se afastando dela, a Marca sumia e a jovem morria em nove horas. Entretanto comigo é diferente. Quando virei Protetora, seu coração substituiu a magia que fazia meu sangue pulsar... - contei.
- ...e caso, a Marca suma também, você morrer? - propôs ele, assustado.
- Em poucos minutos. - confirmei.
- Isso nunca vai acontecer, Lexy. Você sempre será a única pessoa que quero nessa vida. - exclamou ele, dando-me um beijo leve e entrando na casa.

Minha madrinha saiu da cozinha e veio ao meu encontro.
- Eu fiquei sabendo sobre a Chloe e eu sinto muito. Espero que se recupere logo. - disse ela, abraçando-me.
- Eu também espero. Estou um pouco cansada. Tem algum sofá que eu possa deitar para dormir um pouco? - perguntei.
- Claro. Tem um espaço na minha biblioteca. - anunciou ela, apontando na direção.

Segui rumo ao cômodo e Mason me acompanhou. Ele deitou primeiro, de lado e eu, depois. Arrumei-me lado e senti seus braços passarem pela minha cintura, segurando-me. Ele passou uma das minhas pernas entre as suas, prendendo-a para evitar que eu caísse. Peguei uma almofada e coloquei na cabeça. Cansada psicologicamente e fisicamente, dormi rápido.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora