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Esses dias não estavam sendo fácies. Nada fácies, para ser sincera. Desta vez, eu dirigia noite a dentro. Sempre gostei da estrada escura. A maioria dos meus amigos dormiam, inclusive Mason. Assim que voltamos juntos para o carro, acabamos surpreendendo todos, principalmente Branca de Neve. Eu queria ser outra pessoa e fotografar a cara dela naquela hora. Essa foto ia passar até no meu enterro. Liguei o rádio, curtindo algumas músicas. A madrugada se mostrou tranquila. A bussola que ganhei da minha tia estava imóvel. Thomas havia nos dito que havíamos conseguido recolher todos os personagens perdidos, ou seja, parte um da missão estava concluída. Agora eu só tinha que achar o maldito ladrão e recuperar a pedra.

Chegamos na cidade assim que o sol nasceu. Paramos em um hotel perto da estrada, escondidos da população local. Thomas pediu o maior quarto do estabelecimento. Afinal, tinha que caber nove pessoas. Até que o quarto era espaçoso e elegante. Tinha uma pequena sala, uma cama grande de casal, banheira e um frigobar. Em poucos minutos todos se acomodaram. Chloe, Cooper, Henry, João e Maria decidiram assistir um filme na sala. Thomas saiu para investigar pela cidade. Infelizmente, a idiota da princesa havia torcido o pé e como apenas eu e Mason sabia coisas básicas de primeiros socorros, ele ficou responsável por cuidar dela. Se eu gostei daquilo? Poxa! Eu adooorei. Melhor coisa, impossível.

Peguei meu livro e sentei em um lado da cama para ler. Caramba! Era muita coisas que eu não poderia fazer. Revirei os olhos e fiz uma lista irônica na minha mente.

Coisas que a Alexa não pode fazer:

-Olhar para outros garoto? Não.
-Falar com ele? Óbvio que não.
-Comer comidas calorosas? De maneira nenhuma.
-Respirar? Naninão. Em hipótese alguma.

Cada vez melhor. Eu podia morrer de três mil formas diferentes. Eram muitas coisas para decorar. Regras, condições, advertências, deveres. Eu fiquei até zonza. Quatro horas lendo e ninguém notou que eu estava ali, nem o Mason. Que grande namorado eu tinha. Senti uma mágoa crescer dentro de mim. Talvez eu precisasse de um pouco de ar puro e silêncio. Peguei as chaves, uma lata de refrigerante, o livro e sai. Sabia que ninguém se importaria se eu sumisse um pouco. Abri o carro e pulei para dentro, fechando a porta. Joguei o livro no banco ao lado e abri a lata. Bebi todo o seu conteúdo e tirei meus tênis, dando liberdade aos meus pés. Abaixei o banco,fazendo dele uma cama. Talvez eu pudesse passar a noite ali. Eu estava agindo como uma criança extremamente mimada, mas não pude evitar. Aquela era eu. Chata, mimada, impulsiva e agressiva. Eu era esse ser mutável, de constante transformação.

Subi para o quarto novamente, ás onze horas da noite. Não quis falar com ninguém. Peguei minha mochila e fui para o banheiro. Um banho quente me faria muito bem. Arrumei a banheira na temperatura que eu queria e entrei dentro. Sem duvidas, aquilo era muito terapêutico. Senti a água entrar em meus ferimentos, lavando-os. Ardiam um pouco, mas uma limpeza os fariam bem. Peguei meu celular e liguei para minha madrinha:
-Alô, madrinha.- respondi.
-Oi, Alexa. Como estão as coisas por aí?
-Estão fluindo. Estamos com todos os personagens aqui. Vamos para aí amanhã. Alguma pista do ladrão?
-Ainda não, mas Guths achou um feitiço que dá para localizar a pedra. Ele está trabalhando nisso.
-Certo. Tenho um amigo nos ajudando também. Ele é bom com informações. Talvez consiga alguma coisa.
-Um amigo? E o Mason está aceitando bem isso?
-Na medida do possível. Eu espero que Guths tenha uma poupança razoavelmente gorda, porque essa sua missão está me dando um trabalho grande e vou querer uma recompensa bem generosa.
-Alexa!
-Nada disso, madrinha! Essa missão está acabando comigo. Estou com alguns machucados e preciso de alguns medicamentos. Afinal, batemos seu carro. Foi sem querer.
-Vocês? O quê? Se machucaram?
-Nos batemos o carro na floresta e eu machuquei a perna, mas está tudo bem agora. Arrumamos um outro carro. Como eu disse, logo estaremos aí.
-Tudo bem. Tomem mais cuidados. Até logo.
-Tchau.

Desliguei e fechei os olhos. A água estava tão quente, que relaxou todos os meus músculos.Eu queria poder ficar lá por mais tempo, mas senti minha pele se enrugando. Tempo demais na água. Sai e me troquei. Ainda no banheiro, fiz os curativos necessários na minha perna, joelhos e mãos. Coloquei uma regata branca e reparei um hematoma no meu braço em formato de dedos. De propósito, deixei-o daquele jeito.Queria que ele fizesse o que tinha feito e como isso havia me afetado. Coloquei um short folgado, deixando livre as faixas. Sai do banheiro e voltei a sentar na cama. Mason veio na minha direção.
-Você sumiu...- comentou ele.
-Ah, você reparou.- falei irônica.
-Claro. Como não repararia?- perguntou ele, sorrindo.
-Sei lá. Hoje parecia que estava bem ocupado. Incrível ter notado.- retruquei, fazendo um gesto de desdém com a mão.
-Você está com ciúmes?- questionou ele e seu sorriso aumentou.

Revirei os olhos e comecei a deitar na cama.
-Até parece, Mason.- retruquei. Até parece! Óbvio que não! Eu, Alexa, com ciumes? Está mais fácil chover meteoros.
-A negação é o primeiro sinal.- respondeu ele.
-Você não tem coisa melhor para fazer, não?- perguntei, arqueando as sobrancelhas.
-Não. - confessou ele, vindo na minha direção.
-Então, vai achar algo. Por que tem que mexer com quem está quieto?-perguntei, barrando ele com as mãos.
- Porque essa pessoa é você. Vou ter que te perturbar a noite toda.- respondeu ele, segurando em minha mão.

Um frio passou pelo meu membro e eu recolhi o braço. Ele subiu o olhar e notou o hematoma. Seu olhar se encheu de tristeza. Certo. Não era aquilo que eu queria. Levantei da cama e disse:
-Acho que vou pegar um casaco.- afirmei.

Mason segurou na minha mão e negou com a cabeça.
-Lexy, isso não vai adiantar.Vai só piorar. Eu sinto muito. Não acredito que te machuquei. - confessou ele, puxando-me e apoiando sua cabeça na minha barriga.
-Está tudo bem. Já passou. Vamos esquecer isso.- falei, passando a mão nos seus cabelos.
-Devo ser um dos piores namorados da face da Terra.- resmungou ele.
-Depois eu que falo merdas, não é? Se fosse realmente ruim, você acha que eu ainda estaria aqui? Claro que não, Mason. Você é ótimo. Só essa missão que está nos testando.- expliquei.
-Testando a gente?- perguntou ele, confuso. Seus braços me pretenderam ali e eu não me importei com isso.
-Sim. Você não queria o caleidoscópio inteiro? Essas são as nossas cores mais escuras.- contei.
-E vamos passar por elas, ok? Juntos. - disse ele, abrançando-me forte.

Concordei com a cabeça. Olhei ao nosso redor e vi que a maioria já havia dormido. Mason colocou João e Maria na cama, enquanto eu cobria Cupido e Henry. Desliguei a tv e reparei Branca dormia perto de Chloe. Minha amiga acabou acordando e me encarou.
-Eu ia ver como você estava, mas acabei dormindo.- comentou ela com a voz sonolenta.
-Tudo bem. Volte a dormir.Já está tarde.- respondi a ela.
-Só...não briga com o Mason, não. Ele está triste pela briga de vocês.- retrucou ela.
-Está tudo bem agora. Já conversamos. Pode relaxar já.- contei, sorrindo.
-Ok. - disse ela, virando para o lado e voltando a dormir.
-Boa noite, amiga.- falei, afastando-me.

Mason me esperava deitado no sofá. Sentei em cima da sua barriga afirmei:
-Parece que você arrumou uma defensora.
-Ah, é? E quem seria?- perguntou ele, sorrindo e me puxando para deitar.
-A Chloe. Ela pediu para mim não brigar com você, porque estava triste com a nossa discussão anterior.- confessei a ele, deixando me puxar.
-Sério que ela disse isso? Eu estava hoje conversando com ela, por que notei que você estava meio diferente. Achei que ela saberia de alguma coisa ou poderia me dar uma dica de como agir. - contou ele.
-Sério. Acabei de contar a ela que está tudo bem agora.
-Eu não diria que está tudo tão bem assim.
-Não?
-Não. Eu lembrei de uma velha dívida sua e acho que vou cobrá-la agora.
- Que dívida?
-Estava me devendo um beijo, mas como já passaram alguns dias e levando em conta os juros, impostos e taxas, o total deu de...Deixa isso quieto. Eu decido a hora que for paga.

Gargalhei.
-Não vou pagar nada. Sem comprovante ou nota fiscal, você não tem direitos. - respondi.
-Aqui estão os meus direitos.- e começou a me beijar.

Garoto chato! Ele sabia como me ganhar e isso era muito chato, assim como ele. Sua boca se deslocou dos meus lábios para o meu pescoço. Nos afastei com cuidado e o encarei.
-Você estragou a minha cobrança.- resmungou ele rindo.
-Vamos dormir, Senhor cobrador. Amanhã será um longo dia.- afirmei.
-E eu não quero que essa noite acabe tão rápido.- disse ele.
-Você é muito idiota.- confessei, deitando em seu peito.

Ele passou os braços ao meu redor e começamos a conversar, assim como fazíamos a maioria da noites no meu quarto. Após poucas horas, acabamos dormindo.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora