XLVIII

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Eu não consegui pregar o olho a noite inteira. Aquele lugar não era minha casa. Depois que desliguei a ligação, o guarda não demorou a voltar com o testamento. Nesse documento, Guths deixava tudo para uma tal de Convenção. Eu troquei o nome da Convenção pelo meu e tudo que era dele passou para mim. Eu não considerei isso um roubo, apenas estava cuidando de algo sem dono. Afinal, eu já tinha sido prejudicada o suficiente para não aproveitar as oportunidades. O guarda que conversei anteriormente se chamava Marcus e seu colega e irmão, Nícolas. Havia outro guarda, porém ele ainda estava em treinamento e acabamos não sendo apresentados. Marcus me contou que a maioria ali era personagens e então fizemos um acordo: eles me ajudariam com castelo e assim que meus amigos chegassem, eu mandaria todos para casa.Todos concordaram, contentes.

Enquanto o "amanhã" não chegava, fui dar um tour pela minha nova propriedade. Era maior que o castelo do Ben e se eu não tomasse cuidado, me perderia no lugar. Tinha algumas torres e um grande porão. Possuía uma enorme biblioteca e vários quartos. Eu poderia nomear cada quarto com os dias da semana e eu dormiria em um comodo diferente cada dia. Também tinha uma sala de musica, mas para quê? Eu não sabia tocar nada, a não ser que acordar de madrugada e pegar as panelas da mãe, achando que é uma bateria, conte como talento musical. Para sorte de todos, não tinha karaokê. Finalmente, conheci a cozinha. Era vasta e antiga, estilo barroco clássico. A cozinheira era uma senhora muito bondosa e me lembrava muito a senhora Eleonora. Senhora Nancy me recebeu muito bem e pelo visto, logo seriamos amigas. Ela ficaria no castelo, já que não era um personagem e não tinha outro lugar para ir. Eu aceitei que ela ficasse como uma visita, mas ela pediu para continuar trabalhando. Não tive como recusar e ela me contou que o outro guarda também ficaria, pois era seu sobrinho. O jovem tinha a minha idade e assim como eu, tinha perdido os pais. Pedi para Nancy para que cuidasse do castelo e me auxiliasse, já que conhecia melhor o castelo que eu. Eu também pedi para que trocasse todos os forros de cama e não reclamei ao ver um belo lençol de seda italiana. Eu poderia morar no meu banheiro. Era maior que minha casa! Cabia uma cama lá dentro, não que eu tentasse por uma cama ali (eu não teria forças para isso!). Tinha três jeitos diferentes para tomar banho: o tradicional chuveiro, uma confortável banheira e uma extravagante hidromassagem. Guths era bem exagerado, porém o banheiro me agradou. Afinal, quem reclamaria daquele lugar? Todos os cômodos tinham grandes janelas e portas pesadas de madeira.

No final do tour, eu estava cansada porém sem sono algum. Foi ai que optei pela adrenalina para me divertir enquanto todos dormiam. Vi que uma das janelas de uma torre ficava bem debaixo da piscina. Primeiro testei com objetos: um sabonete, um controle remoto de alguma coisa e depois uma estatua velha e feia. Tudo caiu dentro da piscina e isso me deu uma esperança. Preparei-me emocionalmente e tirei meus tênis.
- Agora ou nunca! - gritei ao pular da janela.

Meu impacto com a água foi meio doloroso, porém não me matou (o quê foi ótimo). Água gelada foi o que me acordou bem. Quando alcancei a superfície, eu sorria. Recuperei tudo que tinha jogado dentro da piscina e repeti o salto mais três vezes. Depois decidi aproveitar aproveitar a piscina. Fiquei brincando na água até meu queixo começar a tremer e minha pele começar a enrugar. Sentei na beirada da piscina e observei a luz do sol que invadia no céu.
- Não está um pouco cedo para nadar? - perguntou alguém atrás de mim.

Virei e dei de cara com Marcus.
- Ta-alvez.- confirmei, gaguejando de frio.
- Testam os efeitos de uma hipotermia? - supos ele.
- Nã-ão. Eu já-á vou sa-air. Nã-ão esta-ava com so-ono, entã-ão reso-olvi acha-ar algo-o para me di-ivertir. - confessei, olhando para a janela.

O guarda segui o meu olhar e viu a que eu me referia.
- É um salto bem alto, não acha? - perguntou novamente, oferecendo-me um roupão.
- É, ma-as nã-ão ten-nho me-edo. Ultima-amente-e nã-ão esto-ou liga-ando-o pa-ara o que aco-onte-eça co-omigo. Vo-ou fa-azer o que tive-er que fa-azer. - exclamei, com um gosto amargo.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora