XVIII

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Demoramos mais que devíamos. Uma hora. Sim, fui eu. Minha perna latejava e minha cabeça junto. Mas conseguimos chegar. Não tão sãs, porém salvos. Estávamos em nove pessoas, tendo apenas Thomas com o adulto responsável. Isso, é claro, chamou a atenção das pessoas ali presentes. Paramos na frente da lanchonete, fazendo um pequeno circulo.

-E agora?O que fazemos, Espertona?- perguntou Branca com ironia.

Eu posso te estrangular e assim metade dos meus problemas somem. O que acha?, pensei em responder.

-Precisamos de um transporte. Outra van. - respondeu Mason.

Eu olhava ao nosso redor, quando uma van parou do outro lado do estacionamento. Coincidência ou não, era exatamente aquilo que estávamos precisando. De repente as palavras de Mason ecoaram na minha mente: Precisamos de um transporte. Outra van. Minha dor de cabeça aumentou a ponto de não conseguir ficar com os olhos abertos. Fechei-os forte, tentando controlar a dor. Com a mesma velocidade que a dor veio, ela foi diminuindo e voltei a enxergar. Abri os olhos devagar, adaptando-me a claridade. Olhei a minha volta, assustada. Eu estava perto da van. Abaixei os olhos em direção as minha mãos e vi uma chave e um celular nelas. O quê? O que tinha acontecido? Mason veio correndo na minha direção. Seu semblante era de preocupação.

-Como fez isso, Lexy?- perguntou ele.
-O que eu fiz ?- perguntei de volta, sentindo-me extremamente perdida.
-Você...- começou ele, mas parou.
-Mason , o que eu fiz?- perguntei, quase gritando.
-Nada. Nada de mais. Calma.- pediu ele, se aproximando de mim. Logo os outros também estavam com a gente.
-Mason, como consegui essas coisas?- perguntei novamente.
-Você não se lembra?- interrogou ele.
-Não. A única coisa que lembro é de sentir uma forte dor de cabeça e depois está aqui, segurando isso que não é meu.- contei, mostrando a chave e o celular.
- Você foi até o cara que dirigia a van e pediu.- afirmou Thomas.
-E ele me deu assim? De bom grado?- perguntei, indignada.
-Ele não podia recusar.- respondeu ele.
-Como não?- interrogou Mason.
-É um dos poderes dela. Alexa, achei que estava lendo aquele livro.- exclamou Thomas.
-Eu estava, mas tive que parar para estudar para as provas finais. Ainda sou uma pessoa normal que reprova, sabia?- resmunguei, irônica.
-Certo. Aposto que não chegou na parte dois do livro. A parte da evolução.- falou ele.
-Não. - respondi.
-Alexa, você não é tão comum como pensa. Está chegando um período em que os poderes de Mason vão melhorar e isso significa que você também vai melhorar. Vai evoluir. - contou ele.
-Pronto! Virei um pokémon.- disse, jogando os braços em cima da cabeça.
- O que presenciamos foi apenas um dos seus poderes vindo à flor da pele. Nenhum ser racional pode negar ajuda a uma Protetora quando ela solicitar.Nem um comum nem um Elementarie. As Protetoras usavam esse poder quando se encontravam em perigo em suas buscas ou missões de resgates pelos Elementaries. Esse é um dos poderes mais antigo das Protetoras. Nem sabia que ainda existia. - explicou ele.
-Mas...porque eu não me lembro de nada?- perguntei novamente.
-Porque ainda está se adaptando a essa magia. Aqui na Realidade, torna esse processo mais lento.
-Então, podemos usar o carro?
-Devem. O motorista não o aceitará de volta se não fizerem isso.

Virei para Mason que estava tão impressionado quanto eu. Ele piscou os olhos.
- Mas você está bem, certo? - perguntou ele.
-Acho que sim. Estou bem confusa.- respondi.
-Vai ficar tudo bem, ok?- exclamou ele, abraçando-me.
-Ok. - concordei, respirando fundo e apreciando seus braços em torno de mim.

Apreensivos, todos entraram na van novinha. Prometi a mim mesma que quando terminássemos de usar o automóvel, eu ia levá-la no lava-jato para devolver limpa e encher o tanque. Isso seria minha forma de agradecer pela ajuda. Mason decidiu que seria o motorista da vez. Eu ia do seu lado, sentindo-me pesada por dentro. Aquele poder tinha que vir agora? Sei lá. Não poderia ter dado uma adiada? Eu me sentia um E.T. novamente. E passar o dia todo dentro de um carro não era o que eu escolheria para relaxar. Se fosse em outro tempo, com outras pessoas, eu até que não ia reclamar. Eu sentia muitas saudades dos meus antigos amigos. Doía profundamente saber que jamais voltaríamos a nos ver. Infelizmente, pertencíamos a mundos distintos. Eu esperava que os dois estivessem bem e felizes. Eu queria que a resposta fosse sim, mas não tinha certeza. Aprendi tantos com aqueles dois que daria um troféu a cada um, só por serem quem eram. Por serem únicos daquele jeito. Do nada, um rosto veio na minha mente.

-Mason, você sente muita falta da Julie?- perguntei. Na hora vi sua expressão se entristecer. Merda!

Ele reparou que o observava e sorriu.
-Porque pergunta isso, meu amor?- questionou ele.
- Não me respondeu.- contra-ataquei.
-Não muita. Pense nela e sei que está bem, que está em segurança e é isso que importa. Espero futuramente arrumar um jeito de estarmos todos juntos novamente. Estou feliz em estar aqui e não me arrependo disso, Lexy. E porque está me perguntando isso?- interrogou-me de volta.
-Eu estava pensando no Bear e na Leah e como fazem falta.- retruquei.
-De novo, Lexy?- perguntou, soando chateado.
-É. - respondi, abaixando a cabeça.
-É, desculpa perguntar, mas quem são esses dois?- perguntou Henry.
-Há mais ou menos um ano, fizemos outra viagem de carro. Nessa viagem foi eu, Mason, Bernardo e Leah. Quando passei uma temporada na casa de Mason, acabei conhecendo seu melhor amigo, Bernardo. Melhor hancker e pessoa do mundo. Também conhecemos a Leah, uma garota com um coração do tamanho do mundo. Tivemos boas horas juntos. Queria que pudessem conhecê-los. Principalmente você, Chloe. Aposto que se daria muito bem com a Leah.- confessei.
-E onde estão agora?- perguntou Cupido.
- Em um outro lugar. Bem ditante. - exclamei.
-Assim como a maioria neste carro, eles são personagens. E nem todos saíram.- completou Mason.

Eles concordaram em murmúrios e se calaram em seguida. Mason segurou forte na minha mão e virei para olhá-lo.

Está tudo bem mesmo?, perguntou ele, preocupado.
Era para estar, mas sinto que não está. Acho que estou cansada. Isso interfere no meu julgamento de bem e mal, respondi.
Durma um pouco. Isso te fará bem. Eu cuido de você até acordar, comentou ele.
Medo resumi o que sinto no momento, confessei, rindo.
Você é muito chata. E a senhorita se esqueceu de tomar isso, contou ele entregando-me minha seringa.
Caramba, é mesmo. Sorte que lembro, exclamei pegando a seringa.

Senti o carro desacelerar e eu consegui achar o local correto para aplicar. Não doía, mas era agoniante fazer aquilo na frente de tantas pessoas desconhecidas.
-Obrigado.- agradeci, fechando os olhos.

Algumas horas de descanso iam me fazer bem. Afinal, eu estava precisando. Caí em um sono tão pesado que se fosse um buraco passaria na Terra bem no meio, saindo na China.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora