XXVIII

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Assim que chegamos no quarto, fui até a geladeira pegar uma lata gelada de refrigerante. Tomei metade em um gole só.
-Calor, Lexy?- perguntou Mason, sentando no sofá.
-Um pouco.- confessei.
-Então, a missão...- comentou Henry.
-Vocês vão para casa da minha madrinha e estarão seguros lá. Enquanto, eu vou atrás desse ladrão e roubar a pedra de volta. - respondi.
-Por que você?- perguntou Cooper.
-Por que a missão é minha responsabilidade.- afirmei.
-E ela é uma gatuna.- completou Thomas, seco.

Olhei para ele, intrigada. Ninguém precisa saber do meu passado negro.
-O que você quer dizer com isso?- perguntou Mason a Thomas. Eu senti uma irritação na sua voz.
-Eu me lembro desse termo.- confessou Cooper, pensativo.
-É verdade.É um nome fofo para uma para ladra, uma pessoa de mão leve. - exclamei.
-Legal! Eu ando como uma criminosa.- retrucou Branca de Neve.
- Eu não diria que é um crime descobrir a senha do cofre da família e nem fazer ligação direta na caminhonete do vovô. Eu assisti muitos filmes policiais. Certo que foi chamado a polícia e feito o boletim de ocorrência, mas depois confessei que fui eu e tudo ficou bem.- expliquei.
-Sério?Você chama isso de tudo bem?- questionou a princesa.
- Eu chamo. - afirmou Mason.
- O que posso dizer que esse tipo de coisa não se esquece. É como andar de bicicleta. Você pratica e percebe que é isso que você é. Eu não cheguei a praticar, pois fiz uma promessa de nunca mais cometer qualquer furto. Entretanto, vou ter que quebrá-la para roubar a pedra e trazê-la em segurança.- afirmei, sentindo-me pesada.

Para quem você fez essa promessa?, perguntou Mason.
Para minha mãe. Ela não queria uma filha ladra, afirmei, olhando para o chão.
Talvez haja outro jeito de você consegui essa pedra sem quebrar a promessa, comentou ele.
Talvez, mas vamos pensar em uma coisa de cada vez. Primeiro, achamos a pedra, exclamei.

Ele assentiu. Para mim, era estranho falar sobre aquele assunto. Tinha muitas memórias envolvidas. Não que eu me orgulhasse por ter aquela habilidade, mas sabia que em algum dia seria útil. Eu só não queria ninguém me julgando. Eu sei que as pessoas não gostam disso, afinal quem é o maluco de confiar em um ladrão? Nem eu era tanto.

A noite fluiu silenciosa. Não tínhamos assunto ou vontade do conversar. Eu estava particularmente cansada. Mason percebeu isso e deitou no sofá, puxando-me junto. Repassei o dia na minha mente e uma coisa acabou chamando minha atenção.
-Mason.- chamei-o, baixinho.
-Fala, meu amor.- disse ele.
- Sabe quando a Chloe foi no carro nos buscar? Ela disse que a Branca de Neve disse que você estava estranho.- afirmei.
-Eu ouvi. - exclamou.
-E também que estávamos trancados no carro, fazendo alguma coisa que ela não compreendeu. Acho que ela não sabia...tipo, o que íamos acabar fazendo se a Chloe não tivesse ido lá. Acho que ela não tem noção disso. - expliquei, sentando.
-Será? Mas como eles explicariam os bebês, então?

Olhei na direção da princesa e perguntei:
-Branca de Neve, desculpa a pergunta, mas como você acha que vêm os bebês? - questionei, realmente com medo da resposta.
-Alexa!- advertiu-me Chloe.
-Mas que pergunta tola! É a velha história. Eles são trazidos pela cegonha, como todos nós.- confessou a princesa.

Thomas e Chloe viraram o rosto, escondendo o riso. Cooper colocou a mão na boca e Mason escondeu-se atrás de mim, rindo também. Respirei fundo, mantendo a cara séria.
-A cegonha.É claro.- e virei para Mason. - Ela não sabe.
-O quê? - perguntou o príncipe Henry.
-Nada não. É algo que não vou explicar. Minha mãe já teve essa conversa comigo.- afirmei.
-Já? - perguntou Mason e Thomas ao mesmo tempo.
-Claro. E também tive aulas de ciências. Aprendemos algumas coisas.- contei, olhando para Chloe. Ela estava vermelha.

Olhei para o Cupido que ainda tentava esconder o sorriso.
-Você riu também. Quer dizer que sabe, não é?- perguntei, rindo.
- E como você acha que os deuses e semideuses heróis surgem?- questionou ele de volta.

Eu abri a boca para responder, mas fechei na hora.
-Deixa quieto esse assunto! Temos crianças no ambiente. Vamos deixar na história da cegonha mesmo.- afirmei, olhando de João e Maria para o Príncipe e a Princesa. Dá próxima vez, guardo a dúvida para mim.

Todos riram. Pelo menos, quem entendia o que eu disse. Mason me puxou para trás e encostei minhas costas em seu peito.
-Eu tenho que parar de ser tão curiosa.- sussurrei para ele.
- Não mesmo. Você é perfeita assim. Fez a gente rir.- comentou ele, dando um beijo no meu pescoço.
-Isso foi engraçado, mas não é um tema comum para conversar.- confessei, virando para encará-lo.
-Shiu. Agora, você precisa descansar.- comentou ele, deitando-se e me arrumando em seus braços.

Discutir pra quê? Eu precisava mesmo dormir. Respirei fundo e deixei o sono vim me buscar. O que algumas horas não fazem?! Dormi feito uma pedra. Acordei cedo e sentei na mesa, pensando no que ia fazer da vida, ou pelo menos, descobrir quem eu era. Todos ainda dormiam, então decidi ficar ali quieta. Joguei meus braços na mesa e apoiei minha cabeça. Senti uma mão no meu ombro e quase corri. Olhei para cima e vi Mason.
- O que você faz acordado agora?- perguntei.
-Você sabe que eu não consigo dormir sem você.- confessou ele, sentando nas minhas pernas.
-Está tentando quebrar minhas pernas?- perguntei, rindo.
-Jamais.- comentou ele, colocando a mão na minha coxa.
-O que foi com você? Anda muito pervertido.- afirmei, sem esconder o riso.
-Ressaca de Pós-dia-sem-a-Lexy. É algo muito sério e tem que ser tratado com muitos beijos.- confirmou ele, beijando-me.

Sua boca se mexia com calma sobre a minha. Suas duas mãos estavam no meu pescoço, acariciando-me na região. Uma tosse alta e falsa nos fez parar e olhar na direção. Era Thomas. Opa! Situação constrangedora. Mason saiu de cima de mim e se colocou do meu lado.
-Bom dia.- disse Thomas.
-Bom.- respondi.
-Eu tenho algumas informações. Achei que ia querer saber. - retrucou ele, sério sentando na mesa.
-E quais são?-perguntei.

Ele jogou um papel em cima da mesa e a folha saiu girando na minha direção. Peguei-o e olhei. Falava de um antigo castelo comprado recentemente por um milionário desconhecido.
-Esse castelo custa muito caro e eu não acho coincidência. Milionário desconhecido? Acho que não. Esse ladrão tem gosto fino e antigo.- explicou Thomas.
-E você não tem noção de quem é, não é?- perguntei.
-Ainda não. Mas tem uma localização e é bom investigar isso. Eu vou fazer isso amanhã cedo. - confessou ele, se ajeitando na cadeira.
-Beleza. Eu vou com você.- afirmei.
-O quê?- perguntou os dois de uma vez.
-Eu vou. Essa missão é minha e quanto antes resolver ela, melhor. Caso seja o cara, já faço o que fazer e finalizo amanhã mesmo.- exclamei.
- Você não vai com ele!- falou Mason.
-Exatamente!- concordou Thomas.
-Eu não estou pedindo a autorização de vocês. Vou sozinha então. Felizes?- perguntei irônica, levantando da mesa.
-Está querendo morrer?- questionou Thomas.
-Não. Já fiz isso! Pela segunda vez, perde a graça.- retruquei.
- Ok. Você vai. Não adiantar discutir mesmo.- comentou Thomas, derrotado.

Sorri com a vitória. Eu sabia que desta vez, não poderia levar Mason comigo. Seria perigoso e eu não queria por ele em risco. E também, Thomas não ia gostar. Eu sabia disso. Ia ser complicada essa viagem, porém era emergencial. A parte mais difícil seria convencer Mason a ficar, principalmente agora. Mas eu ia conseguir. Eu sempre conseguia.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora