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Fazia duas horas que estávamos viajando. A bússola nos guiava para sul, sem mudar a direção durante todo o percurso. O rádio estava ligado e a música ecoava no ar, mas ninguém se fala.
-Então, a quanto tempo vocês dois estão juntos?- perguntou o Cupido, quebrando o silêncio.
-Tecnicamente, passei umas cinco semanas no livro mais um ano aqui fora. Acho que um ano e uma semana, pois demorei um mês para aceitar tudo. - afirmei, pensativa.
- E vocês não sabem o quanto sofri para fazer ela aceitar.- comentou Mason no volante.
- Sofreu nada.- confessei, rindo.
-Ah não? Quantos sinais tive que te dar para se apaixonar por mim?- perguntou ele.
-Incluindo as brigas?- questionei de volta.
-Sim. Tudo. As todas brigas, declarações, os beijos roubados.- afirmou ele, dando ênfase na última parte.
- O caleidoscópio todo.- murmurei, lembrando.
-Sim. - confirmou com um sorriso torto e um brilho nos olhos. Graças ao grande tempo que passamos juntos, eu conseguia interpretar sua linguagem corporal fácil.
-Idiota!- falei, jogando meu celular nele.
-O que eu fiz?- perguntou ele, rindo.
-Nasceu! Agora devolve meu celular.- pedi.
- Vem pegar!- disse ele, maliciosamente.

Olhei na direção em que eu joguei e vi o aparelho parado entre suas pernas.
-Pego depois.- afirmei, virando o rosto para esconder o riso.

Como muitas vezes havia feito, fixei o olhar na bússola e percebi a movimentação descontrolada de seu ponteiro.
-Mason, para o carro!- ordenei.

Para a minha sorte, Mason freiou imediatamente, numa parada brusca. Desci segundos depois que o carro estava no acostamento. Peguei a bússola na mão e olhei para a direção que apontava.
-O que foi?- perguntou Mason se aproximando.
-Olhe só. Estamos perto de alguém fictício!- anunciei.
-Que susto! E para onde a bússola está apontando?- perguntou Chloe também vindo, acompanhada por Cupido. Eu não entendi o porque do cara ter vindo. Não tinha muita lógica ou razão. E o pior de tudo: ele me deixava nervosa.

Respirei fundo e olhei para o sol. Ele tinha apenas algumas horas que estava no céu, então significava que ainda estava apontando para o leste. Observei o ponteiro e pude notar que apontava para a direção oposta, ou seja, oeste.
-Para lá!- e apontei para a densa mata que nos cercava.

Fui a primeira a entrar no mato. Eu seguia fielmente a bússola, até que vi uma movimentação suspeita. Gesticulei para os meus amigos, para que ficassem ali. Caminhei em completo silêncio entre as árvores. Havia um barulho atrás de um grupo de árvores. Escondi-me atrás de uma dessas. Eu estava sem nenhuma arma, então cerrei os punhos preparando para a desefa. Pulei de trás da árvore e levei um susto. Dei de cara com um garoto. Mas não é um simples garoto.
Ele estava com um tipo de uniforme, porém antigo. Ele parecia ter a minha idade. Seu cabelo preto estava cortado em um estilo militar. Seu rosto era quadrado e tinha belos olhos azuis. Ele sorriu.
-Olá, donzela. Você poderia me informar em que reino estou?- perguntou ele.

Ergui as sobrancelhas.
-Donzela? Reino?- perguntei.
-Sim.- respondeu ele.
-É... O que você está fazendo numa floresta com essa roupa?
- Estou indo atrás da minha amada. Meus guardas, parece que sumiram, mas sinto que estou perto dela. Recebi uma dica.
-Sua amada? Quem seria?
-Eu não sei seu nome, mas ela deixou isso.- e tirou um sapato de trás das costas.

Segurei a respiração. Eu conhecia aquela história.
Não! Não! Não! Ai, meu co...deixa quieto! O coração nem é meu, pensei enquanto colocava os braços encima da cabeça.

-Mason! Pode vim.- gritei para ele.
-Desculpe-me, mas se referiu a mim?- perguntou o jovem.
-Não. Ela chamou a mim.- disse Mason parando do meu lado.
-Isso.- concordei e virei na direção de Mason:- É ele! Um dos nossos. Aparentemente o príncipe da cinderela.
-Como sabe tanto?- perguntou ele.
-Eu conheço os contos. Li os livros do Irmãos Grimm. Sei a versão macabra, mas sei. E olhei o sapato na mão dele. É de cristal. Quem mais usa um desses?- expliquei.
-Verdade.- confessou Mason.

Cupido apareceu acompanhado por Chloe.
-Quem é esse?- perguntou ele.
-Príncipe...- comecei, mas parei pois não lembra o nome dele.
- Príncipe Henry.- confirmou o príncipe.- É quem são vocês? Se vestem de uma maneira distinta a qualquer outra pessoa que já vi.
-Puts! Parte difícil do trabalho.- falei.- Eu sou Alexa. Eu vou fazer um resumo: Você está muito longe de casa. Está praticamente em outro mundo.
-Que mundo?- perguntou ele de volta.
-Conhece livros?
-Sim.
-Os de contos?
- Não. Lamento.
- Sem problemas. Contos seria uma história com uma lição. Entendeu?
-Sim.
-Então, você é um personagem. Uma pessoa de um livro.
-Impossível!
-Não é. Alguém roubou um item que tem esse poder. Você é o segundo que encontramos na mesma situação.
-Inacreditável! Isso não soa como uma calúnia de vossa parte, mas chega a ser...
-Difícil de acreditar. Eu saquei essa parte.
-Sacou? Como assim?
-Ai, pai! É uma gíria. Um pseudônimo moderno que se refere a outra palavra.
-A senhorita fala de uma maneira peculiar. Assim como sua aparência.
-Não estou aceitando dicas de moda. Você precisa vim com a gente.
-Porque?

Porque eu estou mandando, oras, pensei em responder.
-Por que vamos ajudá-lo a voltar para casa!- contei.
- E minha amada?- perguntou ele.
-Se vim com a gente, você verá ela! -afirmei.
-Está tudo bem, então. Seguirei com vocês.- confessou ele, seguindo em nossa direção.

-Ok.- disse e peguei na mão de Mason.
Cupido ficou bem do meu outro lado e Chloe seguiu ao lado do Príncipe.
-Senhorita Alexa, você disse disse que havia encontrado outra pessoa na mesma situação que eu. Quem seria?- perguntou o Príncipe.
-Ele.- disse apontando para o Cupido.
-Olá. Eu sou o Cupido, mas ultimamente me deram o pseudônimo de Cooper.- afirmou Cupido, com um olhar acusador na minha direção.

Sorri, satisfeita por ter pensado num nome tão...bom em tão pouco tempo.
-E você e o senhor Mason são casados?- continuou a questionar.
-O quê? Não! Sou muito jovem para isso!- justifiquei-me assustada.

Mason parou imediatamente e me encarou.
-Então não quer casar comigo?- perguntou ele.
-Não disse isso. Eu falei que para a minha idade, não sou casada.- afirmei, arqueando as sobrancelhas.
-Não foi isso que eu perguntei.- retrucou ele, aparentemente bravo.
-Sim. Eu quero. Futuramente.- respondi, voltando a andar.

Ele não disse mais nada. Apenas passou os braços na minha cintura e seguiu o caminho em silêncio. Voltamos ao carro e Mason assumiu a direção.

Sabe que eu te amo, não?,perguntou ele, apertando de leve minha perna.
Sei. Eu também. acho idiota essa sua falta de confiança em mim, respondi.
É medo de te perder. Ainda acho que tudo pode me tirá-la e para mim, isso é pior que morrer, confessou.
Isso não vai acontecer. Eu não vou permitir, confirmei.

Ele apenas sorriu. Aquele sorriso que acabava com minha parte racional e me fazia me perder. Voltei a olhar para a bússola, que voltou ao normal.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora