XXXIX

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Passei horas sentado naquele chão frio à espera de algo que eu nem sabia o quê. Estava escuro mesmo de dia. De repente, passos altos foram escutados pelo corredor e a sombra do guarda apareceu na porta.
- Isso é muito arriscado! - disse o guarda, preocupado.
- Eu sei, mas eu...preciso. Será rápido. - disse uma mulher. Eu reconheci a voz. Era Elisabeth.
- Só sete minutos. - avisou ele.
- É mais que suficiente. - afirmou ela.

Então a sombra sumiu e escutei a porta ser destrancada. Elisabeth passou e sorriu. Coloquei-me de pé, estranhando sua presença.
- O que quer? - perguntei.

Ela caminhou até mim, rapidamente. Senti seus braços no meu pescoço e seus lábios esmagaram os meus. No começo, fiquei imóvel, mas depois de dois segundos, acabei mordendo ela e a empurrando para longe.
- Sorte que fez isso ou eu ía te chutar onde o sol não bate. - ameaçou ela.

Aquela ameaça. Eu só era ameaçado por uma pessoa. Olhei para Elisabeth, incrédulo. Ela sorriu e tirou o colar do pescoço. Logo traços do seu rosto começaram a mudar. Seu cabelo loiro ficou preto e ondulado. A pele clara ficou parda e seus olhos azuis mudaram para violeta.
- Oi, idiota. - exclamou Lexy.

Meu corpo ficou sem controle, pois voei nela e a abracei o mais forte que pude. Ela segurou nos meus braços.
- Legal! Não quero morrer asfixiada. May, a força. Diminui só um pouco. - pediu ela, rindo.

Soltei um pouco, mas não tirei meus braços dela. Não queria soltá-la nunca mais. Suas mãos subiram até meu pescoço e desta vez, deixei-me levar. Era muitas saudades para pouco tempo, mas naquela hora eu sentia que nem com o tempo conseguiria acabar com aquele sentimento. Minha Lexy estava nos meus braços finalmente. Ela me empurrou devagar e lamentei muito por isso.
- Como... - comecei a dizer.
-Eu sei que tem muitas perguntas e vou respondê-las, só que depois. Não tenho tempo agora, mas vou explicar tudo. - afirmou ela, ofegante.
- Três minutos. - anunciou o guarda na porta.

Ela me olhava com culpa, como se carregasse todos os pecados nos ombros. De repente, algumas coisas se encaixar: a Scarlett me mandando para cima e para baixo, tentando me distrair; A Lexy ligando somente para ela; o GPS mostrar o endereço desse lugar. Lembrei da cena na sala dos tronos e um sentimento pesado cresceu no meu peito.
- Vamos embora, Lexy! - afirmei, um pouco autoritário.
- Não posso. Não agora que estou quase terminando. - confessou ela, negando com a cabeça.
- Você está diferente. - sussurrei, com medo das palavras seguintes.
- Mason... - murmurou ela. Eu sentia a dor em suas palavras.

Dei dois passos para trás, afastando-me dela. Seus olhos se arregalaram.
- Você pode sair daqui? Desculpe-me, mas você não é a minha Lexy. É outra pessoa, menos ela. Eu não quero isso. - confessei, sentindo as lágrimas inundarem meus olhos.
- O qu-uê?- perguntou ela.
- Não quero você. Quero minha namorada de volta e você não é ela. Por favor, saia daqui, Alexa. - pedi novamente.

Foi então que escutei o som mais forte do mundo. Era como se todos os canhões fossem disparados ao mesmo tempo, como se todos os vidros quebrassem. Olhei para ela e vi seu rosto sem expressão alguma. Ela poderia fazer qualquer coisa para me convencer que estava errado, porém preferiu a pior coisa: o silêncio. Lexy endireitou a postura.
- Ok. - foi a única coisa que disse antes de sair pela porta.

A porta bateu forte, como se nunca devesse abrir mais.
- Alexa, tudo bem? - perguntou o guarda.
- Dê um jeito para que ele fuja antes do Ben resolver fazer uma visita. Tem que ser ainda hoje. - falou ela em um tom muito baixo.
- Você não parece bem. - retrucou ele.

Houve um minuto de silêncio.
- Certo. Em duas horas resolvo tudo isso. - anunciou o guarda.
- Ok. Valeu, Connor. Vamos, Twaila. - chamou ela.

Escutei mais passos se distanciando. Com passos pesados, fui até o canto da parede e sentei no chão. Eu me sentia horrível, como se estivesse me condenado ao próprio inferno. Apoiei minha cabeça nos braços e comecei achorar. Agora nada mais me importava.

The Cursed HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora