Capítulo 4 - Chuva

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Maxwell

Peguei minhas ferramentas de jardinagem e ajoelhei no chão. Preparei a terra e fiz os buracos para as mudas que havia comprado. Gostava de poder cuidar da área ao redor da casa em que morava, fazer com que tivesse mais minha cara. Além disso, mexer na terra, sentir o sol no meu rosto, era um prazer relaxante e uma boa distração, especialmente depois de um fim de semana estressante, do qual eu ainda não havia me recuperado. Permanecia em estado de alerta, preparado para qualquer emergência que pudesse surgir. Tanto que trabalhar no jardim quase perdia seu sentido, mesmo assim precisava tentar relaxar, caso contrário, iria enlouquecer.

Sarah estava se comportando bem, passou o domingo em repouso e pouco reclamou. Não havia ido para a faculdade hoje, mas ainda assim parecia melhor, ao menos era o que consegui ver no café da manhã. Minha tia não saía do seu lado e isso não parecia aborrecer Sarah. Ela sabia que teria que ser assim. Não tinha como a deixarmos sozinha depois do que aconteceu. Tentei falar mais uma vez sobre marcar o psiquiatra e ela desconversou. Já começava a pensar em ligar para Theodore e perguntar o que eu deveria fazer. Sarah não podia continuar sem ir ao médico.

- Por que está fazendo isso? - ergui o rosto para o lado e encontrei Sarah, que tinha uma das mãos aberta sobre a testa, tentando proteger os olhos do sol. - Temos uma equipe para cuidar do jardim - comentou, apontando a minha pequena bagunça.

- Eu gosto de mexer na terra, e o jardim dessa casa é minha responsabilidade, senhorita - respondi voltando a atenção ao que fazia anteriormente. - Está muito quente aqui fora, deveria estar de repouso - adverti. Ouvi um resmungo e sem que pudesse esperar ela sentou ao meu lado, na grama.

- O que tem de tão bom em mexer na terra. Parece nojento - desconversou com uma careta, fazendo com que uma pequena ruga se formasse sobre seu nariz delicado. Seu comentário não me incomodou, na verdade, achei graça. Claro que ela não veria sentido nenhum em sentar no chão sob o sol e ficar suja de terra.

- É relaxante - dei de ombros. - , me faz esquecer dos problemas, da vida - coloquei uma muda em um dos buracos e o fechei. - Não tem nada que a senhorita goste de fazer que a faça se sentir assim? - perguntei genuinamente curioso, encarando-a sob a aba do meu boné. Ela desviou o rosto e brincou com uma folha de grama.

- Eu desenho - respondeu tímida.

- Mesmo? - disse surpreso. Ela voltou a me encarar com um brilho que ainda não havia visto nela.

- Sim, adoro qualquer coisa relacionada a arte. Eu não penso em mais nada quando tenho uma folha de papel e um lápis na mão, mas... - sua expressão escureceu. Toda a alegria sumiu. - Eu não sinto mais vontade, não vejo mais razão para desenhar. Já se sentiu assim, Maxwell? Sem prazer ou vontade de fazer as coisas que gosta?

Olhei para ela sem saber o que dizer. Sem conseguir imaginar toda a agonia que essa menina estaria passando. Observei minhas plantas e pensei em como seria não sentir prazer em fazer aquilo. Em sentir a terra nos meus dedos, o calor do sol nas minhas costas, a brisa no rosto...

- Não, senhorita. Nunca me senti desse modo - respondi honestamente. - Mas deve ser horrível.

- E é... - rebateu com os olhos lagrimados. - Estou cansada de me sentir assim, de ser um peso para as pessoas, de ter medo de tudo - ela fez uma pausa e suspirou. - Eu decidi conhecer aquele psiquiatra que o médico indicou. Pode marcar uma consulta para mim? - questionou incerta.

- Claro que sim, senhorita - disse surpreso e satisfeito com sua decisão. Ela abriu um singelo sorriso.

- Você se importaria se eu o chamasse de Max? - propôs mudando de assunto.

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