- No que eu posso te ajudar? - me perguntou.
Se Alec era sério, Liam então. . . nem se fala.
- A mansão da Irmandade? Ainda está a disposição?
Mas antes que ele pudesse responder Aurora o interrompeu.
- Para a mansão da Irmandade eu me recuso a ir! - disse descendo as escadas e vindo até nós, parando ao meu lado, encarando Liam friamente.
A expressão de Liam era algo entre o admirado e triste.
Admirado porque ela com certeza era uma das únicas pessoas que o enfrentava. E tristeza porque Aurora, mesmo depois de vários dias vivendo sobre o mesmo teto que ele não, parecia nada afim de uma aproximação. Na verdade ela o ignorava totalmente.
- Nós não temos outra opção - disse tentando intervir - Você viu o que aconteceu hoje - ela finalmente se virou para mim. Mas logo voltou a encarar Liam friamente - A Júlia não tem mais condições de continuar aqui.
Ela fechou os olhos com força, odiava ver a Júlia sofrendo, mas era claro que estar perto de Liam lhe fazia mal.
E ela era orgulhosa demais para aceitar ajuda dele.
- Nós damos um jeito! - disse desviando os olhos para mim - Agora você tem dinheiro, podemos comprar uma casa. Até lá vamos para um hotel.
Quanto ao dinheiro, ela tinha razão. Agora eu tinha muito dinheiro, e, quando eu digo muito, é muito mesmo!
Logo que me recuperei do ataque que sofremos, Liam me chamou para uma conversa e me entregou o testamento da minha mãe. Segundo Liam, ela havia feito o testamento quando ainda estava grávida de mim.
Temia não conseguir sobreviver tempo o suficiente para me criar, por isso colocou todos os seus bens em meu nome. E se tem uma coisa que vampiros conseguem acumular nos anos de vida, é uma bela fortuna.
Então dinheiro, de fato, agora não era um problema.
Mas achar uma casa leva tempo, ficar num hotel não era seguro, e continuar na mansão dos anjos estava fora de cogitação.
- Há um outro lugar fora a mansão da Irmandade onde vocês podem ficar.
- Eu não quero nada que venha de você! - rosnou Aurora.
- A casa é da sua mãe! - disse com firmeza.
- Da minha. . . mãe? - perguntou Aurora, tão baixo que parecia mais um sussurro.
Eu à abracei e a puxei para mim, envolvendo seus ombros com meu braço. Ela apenas se deixou levar, olhando fixamente para o chão, estava claramente abalada.
- Sua mãe gostava daqui - disse olhando para o ombro da Aurora, onde meu braço estava - Comprou a mansão a muito tempo - disse se virando de costas, depois de me olhar com raiva.
Ele sempre me olhava assim quando eu tinha qualquer tipo de contato físico com ela na sua frente.
- É um lugar antigo e está passando por reformas. Por esse motivo não tinha dito nada sobre a mansão antes.
Damien e Raquel se juntaram a nós na sala.
- Nós vamos para lá! - disse Aurora com firmeza.
Liam se virou para encará-la.
- Rodolfo - ele chamou ainda com os olhos fixos em Aurora.
- Sim? - Quanto tempo para o fim da reforma?
- Creio que no máximo mais uns dez dias - respondeu- Resta apenas reformar a cozinha principal, adega e área dos funcionários.
- Avise a Lestat que vá para lá assim que o sol se pôr.
- Pode deixar - disse já pegando o celular e saindo.
- Damien?
- Sim papai - respondeu aproximando Raquel ainda mais de seu corpo.
- Acho mais seguro você ficar com eles - Damien assentiu. Liam fez uma pausa e olhou para Raquel - E acho mais sensato que vocês se afastem.
Raquel olhou para Damien apavorada, como se implorasse que ele se impusesse ao que Liam acabara de falar.
Damien fechou os olhos com força, e não olhou para ela quando respondeu.
- Sim papai - seu olhar era de profunda tristeza, ele encarava o chão incapaz de olhar para Raquel.
O clima naquela sala estava insuportável, peguei Aurora pela mão e fomos até nosso quarto, arrumar nossas malas para a partida.
Alguns anjos tinham ido até nosso antigo apartamento buscar alguns dos nossos pertences, roupas, computadores, e armas. Julia continuava dormindo, e mesmo com os olhos fechados tinha uma expressão triste.
Aurora parou ao seu lado na cama, e acariciou seus cabelos, soltando um suspiro triste.
Ela não era do tipo que gosta de contato físico, aliás, com exceção de mim, a única pessoa que eu via Aurora tocar, e se deixar ser tocada, era Julia.
Soltei as roupas que eu tinha nas mãos, e me sentei na cama, a puxando para o meu colo, nos beijamos brevemente, e então a encarei acariciando seus lábios.
- Princesa você precisa falar com ele - Aurora tentou se levantar do meu colo, mas eu a segurei pela cintura à impedindo - Vocês precisam conversar!
- Eu não tenho nada para falar com ele! - disse com raiva.
- Sim, você tem! Vocês tem muito o que conversar! Você precisa dar a ele uma chance, ouvir o que ele tem a dizer.
- Ele me abandonou! - disse com os olhos brilhando pelas lágrimas - Ele me deixou sozinha, me deixou nas mãos de Grigore! Ele nunca me procurou!
- Talvez ele tenha procurado. . .
- Ele é Liam, Trian! O criado mais poderoso do mundo! Um dos únicos que pode bater de frente com Grigore! Mas o que ele fez? Nada! Ele simplesmente me abandonou! - disse já sem conseguir conter as lágrimas.
Vê-la chorando era insuportável para mim.
A abracei com força para confortá-la, afinal era tudo o que eu podia fazer naquele momento.
Imaginar tudo o que Aurora deve ter passado nas mãos daquele crápula, me deixava louco de raiva, a ponto de me fazer sentir meus olhos mudarem de cor, e minhas presas se alongarem.
Eu tinha muitas questões para resolver com aquele porco imundo!
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Mestizo
FantasyO que fazer quando seu mundo vira do avesso? Quando você descobre que todas as certezas da sua vida, não passam de mentiras? E quando a verdade é a única coisa que você nunca acreditou, sempre achou impossível? Meu nome é Trian, num dia eu era um...