Capítulo 22

707 114 13
                                    

Fomos embora na noite seguinte, jurando que voltaríamos assim que pudéssemos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Fomos embora na noite seguinte, jurando que voltaríamos assim que pudéssemos. Na hora dá despedida, meu pai me abraçou forte e disse o quanto sentia orgulho de mim.
-- Eu não sei porque você mudou o rumo dá sua vida -- ele me disse -- mas eu confio em você, no dia que você quiser me contar, eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui por você, você é meu filho e eu te amo.
-- Pai...
-- Não precisa falar agora Trian, eu sei que você ainda não está pronto, mas quando estiver, estarei aqui. Você e seu irmão são meus grandes orgulhos, eu te admiro muito.
-- Me admira?
-- Sim -- ele sorriu -- você tem um coração enorme, você defende quem ama, luta pelo o que acredita, nunca desiste do quer. Eu sempre te admirei muito e sempre me senti muito orgulhoso.
Eu o abracei ainda mais forte.
Edgar voltou dirigindo de novo, ele é meu irmão voltaram dando um show musical de pouca qualidade. Como um anjo caído e um lobisomem podiam cantar tão mal?
-- Mano, podemos parar em algum lugar? Tô morto de fome!
-- Fome? Você comeu como um louco e está com fome?
-- Não seja tão mal com ele -- Edgar o defendeu -- nosso cãozinho está em fase de crescimento, ele precisa de muita comida mesmo.
-- Só não vou te xingar porque tô com fome pra caramba -- meu irmão resmungou.
-- Se não for comportado, não te dou ossinho!
Por fim paramos em um posto de gasolina na estrada. Lá tinha um grande restaurante e meu irmão ficou empolgado. Óbvio que ele não tinha muito dinheiro, para falar a verdade nem eu. Sobrou para Edgar pagar o combustível e a comida. Óbvio que ele fez Matheus implorar.
Os dois resolveram comer, mas eu achei melhor não acompanha-los, mesmo com néctar eu já tinha passado do meu limite
Eles estavam conversando animadamente, fazendo brincadeiras. Mesmo com poucas pessoas no lugar, já que era madrugada, eles conseguiam chamar atenção.
Eu queria fazer parte disso, por algumas vezes eu até me distrai, mas toda a informação daqueles últimos dias ficava voltando. Era coisa demais, eram muitos "e se.."
Confesso que uma das coisas que mais martelava na minha cabeça era que se Alec tivesse chegado a tempo, minha mãe estaria viva? Ele teria me criado? Por que ele deixou minha mãe esperando? O que foi tão importante que custou a vida da minha mãe?
O quão bizarro teria sido ser criado por Alec? Com certeza eu não teria tido nenhum tipo de envolvimento com a Júlia quando mais novo.
-- Tato, tudo bem? -- eu nem tinha percebido que meu irmão estava me chamando.
-- Sim, eu acho que vou dar uma volta lá fora -- eu disse me levantando -- respirar um pouco.
-- Podemos ir com você, só...
-- Não, podem ficar e terminar de comer, vai ser bom dar uma volta sozinho, arejar a cabeça.
Não dei tempo para negativas, eu os deixei lá e saí. Eu não tinha assimilado tudo ainda, talvez se Aurora estivesse comigo, as coisas fossem ser mais fáceis. Eu estava com muitas saudades dá minha loirinha.
Pelo menos eu sabia que ela estava bem e segura na casa da Irmandade. Liam nunca deixaria nada acontecer com ela. Era, de um jeito Liam de ser, fofo vê-lo tentando recuperar o tempo perdido, ele realmente ama Aurora. Saber que meu sogro, um cara que aparenta a minha idade, mas tem milhares de anos de vida, é um dos vampiros mais poderosos do planeta e que já matou centenas e centenas de seres, não ajuda muito.
Você consegue imaginar quantas vezes ele nos pegou nos beijando? Uma vez Aurora e eu estávamos indo para nosso quarto, brincando e nos provocando no corredor. Eu olhei em volta, eu juro que não havia nem sinal de alguém. Prensei Aurora contra a parede, nos beijávamos loucamente. A puxei para meu colo, ela entrelaçou suas pernas na minha cintura, esfregavamos nossos sexos um contra o outro. Ela puxou meu cabelo, aprofundei o beijo, gememos um na boca do outro... então alguém tossiu do nosso lado para chamar nossa atenção.
Liam estava parado nos olhando de um jeito, que eu tive a absoluta certeza que se eu não fosse o herdeiro ao trono vampírico, eu teria tido uma lenta e dolorosa morte.
A brisa gelada batia em minha pele, era revigorante. Eu já tinha me afastado um pouco do restaurante, melhor voltar, eu não podia baixar guarda. Só porque nada tinha acontecido nos últimos dias, não queria dizer que estávamos em paz.
Paz...
Está uma palavra que eu mal me lembrava o significado. Acho que a última vez que tive paz foi antes da faculdade, quando ainda estava na escola. Era tão simples minha vida naquela época, estudar de manhã, fazer algum curso a tarde, jogar bola na quadra do bairro com meus amigos a noite. Aos finais de semana ficar deitado no sofá jogando videogame, ir no cinema, talvez alguma festa sem graça, mas que na época eram o máximo. E, claro, férias e feriados prolongados ir para a praia com a minha família.
Nem preciso dizer que ir para a praia significava ver a Júlia. Eu lembro dela me fascinar, assim que nos conhecemos, já senti uma conexão. Óbvio que um adolescente cheio de hormônios, já achei que estava apaixonado, mas depois percebi que não era isso. Mesmo que sempre"ficassemos" juntos, o que tínhamos era uma grande amizade. Eu podia ser totalmente sincero com ela, sobre qualquer coisa. Contei sobre como me sentia deslocado muitas vezes, dos sonhos estranhos que eu tinha e até do meu inexplicável pânico por sangue. Ela, por sua vez, falou do seu desespero em agradar seu pai, mas ele parecia nunca realmente enxerga-la. Dá falta que sentia dá sua avó, até mesmo das vezes que ela a obrigava a ir nas missas. A avó dá Júlia sempre esteve envolvida com tudo dá igreja, era daquelas que não perdia uma missa, mas não era uma fanática religiosa, ela era bem legal. E fazia um bolo de cenoura maravilhoso.
Júlia a amava muito, ela sofreu quando a avó faleceu. Lembro que até adiantei minha viagem para ficar com ela.
Nossos pais juravam que íamos namorar e, quem sabe, casar. Mas hoje vejo o quanto amigos sempre fomos, até a decisão de perder a virgindade juntos foi baseado nisso, na confiança que sempre sentimos no outro. Hoje não consigo vê-la de outra forma que não uma irmã, mas lembro que fiquei muito nervoso na época. Nós...
-- Nem pense nisso!
Eu estava louco ou tinha acabado de ouvir a voz do Alec me mandando parar de pensar?
Dei a volta pelo grande caminhão estacionado, o que era isso. Agora Alec podia ler pensamentos e só de pensar eu invoquei o diabo?
Anjo no caso, mas você entendeu!
-- O que houve, poderoso Alec? -- um vampiro zombou, ele encarava Alec com um brilho homicida nos olhos -- Onde está seu exército.
-- Não é dá sua conta! -- Alec rosnou. Ele pressionava a mão esquerda em um ferimento em seu abdômen, mas sangue dourado escorria entre seus dedos.
-- Não soube? -- um anjo perguntou para o vampiro, os dois ameaçavam Alec -- Alec desertou, ele mesmo se tornou um renegado. Não tem mais ninguém.
-- Quem diria que o Primeiro Tenente do Céu estaria sozinho um dia -- o vampiro levantou uma espada -- sozinho e indefeso. Diga Adeus -- ele iria golpear Alec, mas eu entrei na frente, bloqueando o golpe e torcendo o braço do vampiro.
-- Adeus -- eu disse, derrubando o vampiro no chão e chutando sua cabeça com força.
-- Mestiço -- o anjo falou com nojo, pulando sobre mim, mas o Alec o chutou no ar, fazendo o anjo rolar pelo chão.
-- Alec -- eu corri até ele, que cambaleava para trás.
-- Eu preciso... preciso... estou fraco demais...
-- Só um minuto -- eu o sentei no chão, o anjo e o vampiro já tinham se levantado para me atacar em conjunto.
-- Não sei quem ficará mais feliz com sua morte, principezinho -- o anjo falou -- o Céu ou a...
-- A realeza vampírica -- eu interrompi entediado com aquele discurso de sempre -- porque querem minha cabeça e blablabla. Eu já estou de saco cheio de toda essa ladainha, podemos partir logo para a parte dá ação? Eu preciso acabar com vocês logo, ajudar meu amigo desmemoriado e ainda voltar para casa, minha namorada não gosta muito de ficar esperando.
-- Seu ... -- o vampiro não teve tempo de terminar a frase, meu punho entrou em sua face, acho que quebrei algum de seus dentes.
Chutei o peito do anjo antes que ele me acertasse, desviei do vampiro que pulou sobre mim, mesmo com​ a boca escorrendo de sangue. Acertei sua perna, depois tronco e por fim cabeça, o jogando no chão.
-- Diga a meu querido tio que estou aguardando ansiosamente por nosso encontro, mas, além de mim, há muitos seres querendo cobrar algumas dúvidas que Grigore deixou em aberto! -- obvio que cada palavra foi acompanhada por um soco. No final dá minha frase, o vampiro parecia uma massa sangrenta.
-- Você pode ter...
O anjo parou de falar quando a espada que o vampiro segurava antes atravessou seu abdômen e foi puxada para cima.
Confesso que não foi bonito, muito sangue dourado escorrendo. Então o corpo foi jogado para frente, Alec apareceu ofegante, com cara de dor, mas segurando a espada suja.
-- Esse cara realmente me irrita -- ele apontou para o anjo ferido e desmaiado.
-- Alec -- de novo tive que segura-lo -- vamos, tenho que te tirar daqui -- eu disse o levando dali, praticamente o arrastando. Ele estava muito fraco, mal andava -- como você deixou que esses dois te ferissem desse jeito?
-- Não me ofenda, principezinho -- mesmo ferido e precisando dá minha ajuda, Alec não deixava de ser Alec -- não foram eles que me feriram.
-- O que houve com você? -- eu o estava levando até nosso carro. Eu ligaria para Edgar e meu irmão, precisava tirar Alec dali.
-- Muita coisa -- ele disse, seu corpo se contorceu de dor -- eu não consigo mais andar. Estou fraco demais... eu... não posso... -- ele disse se soltando e caindo no chão.
-- Venha, estamos quase no meu carro. Alec, eu vou te levar até lá mesmo que tenha que te carregar!
-- Trian -- ele disse entredentes, era a primeira vez que usava meu nome em muito tempo -- eu não me alimento há muito tempo... estou muito fraco... ferido... -- ele estava a ponto de desmaiar.
-- Edgar -- eu gritei no telefone, interrompendo qualquer piada que ele fosse fazer -- venha rápido para o estacionamento lateral, mande meu irmão pegar o carro e nos encontrar agora!
Eu desliguei sem esperar respostas, Alec respirava pela boca, tentava não demonstrar dor, mas era visível. Seus olhos foram fechando e sua respiração foi rareando.
-- Alec? Alec! Não faz isso comigo! Se você morrer nas minhas mãos, Júlia me mata, aí a Aurora mata ela, depois a Raquel, Lyn e cia vão se vingar, aí Liam vai matar todo mundo e a porra toda vai estar fodida, ainda mais do que está.
Ele abriu os olhos lentamente, um sorriso esboçou em seus lábios, suspirei aliviado. Minha alma continuaria residindo meu corpo.
-- Alec, você é o Primeiro Tenente do Céu, você é o cara que nunca falha. Eu tenho certeza que só não caminhei em direção a luz, porque você não me quis morto. Quantas vezes você já esteve no Inferno e voltou? Sua fama é conhecida no mundo inteiro, todos te respeitam! Você é mais forte que isso, você sobreviveu a tanta coisa pior que isso, você venceu todos que te enfrentaram, você tem noção de quantas surras me deu? -- ele riu se engasgando -- Alec -- eu disse sério -- Júlia não vai aguentar se você não estiver aqui. Ela tem se mantido forte, porque tem esperança que você vá recuperar a memória e voltar com ela. Se você morrer, ela morrer junto -- ele me olhou sério, dava para ver a briga interna que ele travava só pelo seu olhar -- Mas eu também não sei se eu consigo -- ele me olhou confuso, fraco demais até para falar -- tudo o que sei, desde lutas até estratégias, foi você que me ensinou. Querem que eu lidere, mas na maior parte do tempo eu nem sei o que estou fazendo. Você se tornou meu melhor amigo e eu preciso, desesperadamente, de você comigo. Você é o verdadeiro líder, é você que temos que seguir. Então, por favor, aguenta firme, recupera sua memória e volta para nós!
Eu senti meu corpo formigar, meu corpo estava envolvido numa fraca luz amarela. Alec fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes. Como uma uma brisa quase imperceptível, eu senti aquela luz sair de mim e ir para ele.
-- Como? -- ele perguntou por fim, abrindo os olhos.
-- Como o que​? -- devolvi a pergunta o ajudando a levantar.
-- Como, apesar de tudo, ainda consegue ter tanta fé em mim? E uma fé tão pura?
-- Sabe que não tô entendendo nada, né? -- ele se apoiava em mim, andando até sair da parte escura do estacionamento.
-- Fé é o que alimenta os anjos -- mesmo já conseguindo falar, ainda tinha um pouco de dificuldade -- sua fé em mim é tão pura e forte, que me fortalece e alimenta. Está me mantendo vivo.
-- Jura? Acho que acabei de ganhar pontos com a Júlia! -- ele me olhou tão feio, que parecia que o velho Alec estava de volta.
-- Trian, finalmente te encontrei? Eu... opa, o que foi que eu perdi aqui? -- Edgar perguntou assustado, vendo Alec.
-- Depois te explico, me ajuda! -- Edgar passou o outro braço de Alec por seus ombros e juntos o levamos mais adiante, até que Matheus chegou com o carro e entramos, partindo imediatamente.
-- Só dirige! -- eu respondi (rosnei) para o meu irmão, antes que ele fizesse alguma pergunta. Matheus acelerou, mas logo depois ele teve que parar para mudar de lugar com Edgar.
-- Que porra aconteceu? -- Edgar gritou, enquanto dirigia loucamente, obvio que ele não ia deixar meu irmão dirigir. Os dois estavam no banco dá frente, Alec e eu no de trás.
-- Pra falar a verdade, eu não sei muito bem -- eu respondi. Quando eu o encontrei -- eu indiquei Alec com a cabeça -- tinha um anjo e um vampiro o atacando.
-- Anjo e vampiro? -- Edgar perguntou surpreso -- Isso não faz o menor sentido.
-- Eram um anjo soldado e vampiro da corte -- Alec falou, ele ainda estava com dor -- trabalhando juntos.
-- Ok, isso faz menos sentido ainda -- Edgar assoviou -- e como o poderoso Tenente dos Céus acabou parecendo um mendigo faminto.
-- Ele também era meu amigo? -- Alec perguntou pra mim, indicando Edgar com a cabeça. Edgar gargalhou.
-- Sim, bem antes de mim -- eu respondi. Matheus e eu ríamos.
-- Querido, fui o primeiro a te receber depois que você caiu. Se você não se livrou de mim em setecentos anos, acha que se livrar agora? -- Edgar piscou o olho para Alec, que bufou e revirou os olhos, exatamente como Júlia faz.
-- E você -- Alec perguntou para meu irmão -- também era um grande amigo meu?
-- Não, nem deu tempo. A única vez que passamos um tempo juntos, a primeira coisa que você fez foi tentar me matar -- ele deu de ombros.
-- E por que eu tentei te matar? -- Alec o olhou desconfiado.
-- Por causa da Ju, você achou que eu estava a atacando. Quase perdi o couro aquele dia.
-- E você estava? -- opa, aquele brilho perigoso no olhar do Alec estava de volta.
-- Não, não estava. Só estavam brincando -- eu disse antes que meu irmão fizesse alguma piada que podia acabar com seu espalhado pelo carro. Alec podia estar ferido e cansado, mas não podemos confiar que ele não vai fazer nada. Sabemos bem como ele é.
-- Você ainda não explicou como ficou desse jeito -- Edgar voltou ao assunto, eu olhei feio pra ele, mas ele se fez de inocente -- O que? Como se ninguém mais quisesse saber?
-- Desde aquele dia, com Sebastian, eu não voltei para minha casa, nem para o Céu. Isso quer dizer que não me alimentei desde então -- Alec respondeu.
-- Cara, isso é muito tempo, mesmo para você -- Edgar se virou para trás preocupado. Ignorando que estava mais de 150km/h numa rodovia escura.
-- Eu sei, mas eu não podia voltar.
-- Onde você esteve nesse tempo todo?
-- Por aí -- ele disse vagamente -- fiquei procurando evidências de tudo o que ouvi aquela noite.
-- Encontrou?
-- Mais do que queria -- ele disse olhando pela janela, não dando mais espaço para perguntas.
Alec sendo Alec.

MestizoOnde histórias criam vida. Descubra agora