Capítulo 26

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-- Há muito tempo, quando o mundo, tanto sobrenatural quanto o humano, era um caos, foi feito uma Profecia

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-- Há muito tempo, quando o mundo, tanto sobrenatural quanto o humano, era um caos, foi feito uma Profecia. Essa Profecia foi feita em todas as culturas, ficou conhecida como a Profecia das Guerras.
-- E o que ela dizia? -- eu perguntei.
-- Na verdade ela é composta de duas partes. Na primeira, dizia que um ponto de luz extrema viria a Terra para equilibrar as forças e liderar a paz -- Renne contava dramaticamente -- Um ser portador de uma luz incandescente viria aqui e seria o motivo do início e fim da Primeira Guerra Sobrenatural. Ensinaria sobre amor e todas essas besteiras, como lealdade e compaixão. Coisas típicas de seres de luz. Devolveria a cada raça o seu lugar original e seria um tipo de líder para todos que resolvessem seguir o caminho da luz. Depois de tudo isso, séculos depois, chegamos a segunda parte da Profecia.
-- Que seria o que? -- perguntou impaciente.
-- Um ser, nascido das trevas absolutas e da luz extrema, lideraria a Segunda Guerra Sobrenatural. Ele traria a paz, mesmo que a força, em todo mundo. Mandaria os fugitivos do inferno de volta, acabaria com os agentes do caos e seria o rei absoluto. Óbvio que muita gente se assustou, ninguém quer perder seu poder, então essa Profecia foi sendo apagada, suas cópias destruídas. Todo esse trabalho se preparando, mas ninguém esperava o que aconteceu.
-- O que houve?
-- Nada, não houve nada. A Profecia nunca se cumpriu.
Júlia e eu nos entreolhamos, tudo isso por uma Profecia que nunca se cumpriu?
Que porra é essa?
-- Como assim "não houve nada"? -- perguntei lentamente, segurando minha raiva.
-- Fomos perseguidos, tentaram nos matar diversas vezes, quase que eu perdi o amor da minha vida, por nada? -- Júlia não segurou a raiva.
-- Praticamente isso -- Renne se divertia com aquilo, o que me fez ter vontade de mata-lo -- Acontece que ela -- ele apontou para Júlia -- não veio. O espírito de luz tão avançado que equilibraria os três mundos, Céu, Terra e Inferno, simplesmente não encarnou. Você deveria ter vindo a Terra há mais de seiscentos anos, mas não veio.
-- Eu? -- Júlia perguntou surpresa -- Seiscentos anos? Espera, na Profecia dizia se eu iria vir sozinha?
Eu surtando porque nós deveríamos liderar guerras e trazer a paz ao mundo, e ela querendo saber se "iria vir sozinha"?
-- Não, seu consorte seria seu general -- Renne falou com tanto desprezo, como se aquilo fosse um mero detalhe insignificante, mas não era.
-- É isso! -- Júlia quase gritou, se virando para mim -- Alec descobriu pelo Livro das Almas que a alma gêmea dele era o espírito de luz que traria paz. Quando algo deu errado, ele confrontou Balthazar, foi por isso que caiu. Mesmo sem me conhecer, Alec estava tentando me proteger!
-- Balthazar deve ter prendido em algum lugar, feito algo para apagar sua luz, como Damien disse uma vez. Quem diria que Damien estaria certo alguma vez?
-- Mas o que Ceos tem a ver com tudo isso? -- Júlia perguntou sussurrando, não querendo que Renne a ouvisse, afinal não confiávamos nem um pouco nele.
-- Se Júlia deveria ter vindo a tanto tempo, mas só veio agora, o que houve com ela em todo esse tempo? -- perguntei para Renne, que sorria de canto.
-- Não sei, só fui encarregado da Profecia.
-- Quem te deu essa responsabilidade?
-- Seu avô, príncipe Trian, o último verdadeiro rei.
-- Ward -- eu falei.
-- Fico surpreso que saiba algo de sua descendência, já que parece ignora-la.
-- Não comece com sua idolatria pela Corte -- respondi ríspido.
-- Idolatria? Não, já passei dessa fase. Há um pouco mais de dez anos, eu cometi um erro muito grande. Eu estava tentando voltar às graças da Corte, eu fazia trabalhos para eles, tentando me redimir pelos atos do meu filho. Mas fui ferido dentro do castelo, na frente de Grigore, que apenas riu e mandou que me deixassem morrer, fui jogado no lixo como um verme. Contrariando as possibilidades, sobrevivi, mas venho tentando restabelecer minha saúde desde então.
-- E nos contar sobre a Profecia é um ato de rebeldia contra Grigore?
-- Se isso ajudar a mata-lo -- ele deu de ombros.
-- Você sabe mais alguma sobre o que deveria ter sido a Primeira Guerra? -- Júlia perguntou.
-- O que a Profecia dizia, já lhes contei. Mas estou por aqui há muito tempo, ouvi algumas coisas por aí…
-- Fale logo! -- Júlia rosnou.
-- Havia gente que não queria a paz, pelo menos não do jeito que você traria. Dizem que você tem o dom da força.
-- Força? Eu não sou forte.
-- Não essa força vulgar -- Renne a interrompeu -- a força verdadeira, a que vem de dentro, que te move, move o mundo. A força vital. Você tem o poder de aumentar ou reduzir a força de alguém.
-- E como eu faço isso?
-- Você precisa encontrar sua luz, a mesma que tentaram apagar -- ele respondeu.
-- Como apagaram a luz dela? -- perguntei.
-- O único jeito de apagar a luz, é cerca-la de trevas.
-- O Inferno! -- eu cerrei meu punho. Júlia também?
Ela me olhou confusa, sem entender.
-- Trian, seus olhos estão ficando mais claros, o que houve?
-- Conhece o procedimento? -- Renne riu -- Eu te explico vampirinha, o único lugar com trevas suficientes para apagar a luz de um ser iluminado, é no próprio Inferno, o lar da Escuridão.
-- Balthazar me ofendeu no Inferno? -- ela perguntou em choque.
-- Isso explica porque você não veio a Terra no momento certo -- eu falei. Qual era o nível de crueldade de Balthazar? -- Mas como ela saiu? Por que encarnou agora?
-- Isso eu não posso responder com certeza, mas há rumores por aí. . .
-- Sem jogos, fale! -- ordenei. Eu tinha que me lembrar que era o pai do Rodolfo na minha frente.
-- Tem um boato, nada comprovado, mas que acabou virando lenda, uma espécie de mito. Dizem que uma alma de luz foi jogada no inferno, condenada a ficar vagando, mas um dia, ela sumiu.
-- Como? -- Júlia perguntou ainda chocada.
-- Alguns dizem que uma criatura muito poderosa, tão poderosa que matou todos que vigiavam a alma de luz, a levou para outro lugar, Ninguém sabe exatamente onde. Minha opinião, caso queiram saber, é que essa lenda é verdadeira, é toda sobre você -- Renne disse apontando para Júlia.
-- Por isso Cori queria que eu encontrasse a Profecia, olha tudo o que Balthazar fez comigo e com Alec -- Júlia sussurrou, seus olhos ganhando tons de violeta.
-- Vamos resolver tudo isso -- eu beijei sua cabeça, eu não podia perder meu controle, tinha que estar lá por ela -- E sobre a Segunda Guerra?
-- Ah, essa é tão interessante -- Renne sorriu maldoso -- Imagine um ser tão poderoso, capaz de subjugar o mundo inteiro? E sem ter a interferência do Céu ou do Inferno? A Terra inteira sob o domínio de uma​ única pessoa, você -- ele apontou para mim -- Você descende de uma longa linhagem de Caçadores, sabia que seu bisavô, que por acaso você herdou esse nome, foi o maior e mais importante Caçador de todos os tempos? Sabia também que caçadores tem sangue de anjos?
Ele riu da minha cara de assombro, Júlia também não estava diferente.
-- Seu querido bisavô, era filho de uma caçadora com um anjo, por isso era tão forte. Dizem que sua avó, mãe de seu pai também era um anjo. Você tem sangue angelical correndo pelas veia, Príncipe. Você é o perfeito filho da luz e das trevas. Obviamente que a parte negra de seu sangue veio do lado da sua mãe. Eu a conhecia, até que gostava dela, Godfrey teria sido um bom rei.
-- Você conheceu meu pai ou alguém da família dele?
-- Não tive esse prazer, mas sabe como é, eu sou vampiro, eles caçam gente como eu. . . Não é uma boa combinação.
-- Grigore sabia que seria eu o ser da Profecia?
-- Não até que fosse tarde. Ele sempre se fechou em sua arrogância, sendo que foi sua própria ambição que desencadeou tudo isso, pelo menos no seu caso. Ao matar o par de sua mãe, a deixou livre para encontrar o amor em outro lugar, e ela achou. Justo nos braços do herdeiro da maior linhagem de Caçadores.
-- Filho da luz e das trevas -- eu disse assimilando tudo -- Como posso ser a criatura mais poderosa, se Alec e Liam são muito mais fortes do que eu?
-- Alec é o seu consorte? -- Renne perguntou para Júlia que confirmou com a cabeça -- Bem, não me admira ele ser forte, ele é o General que guiaria a Primeira Guerra. Mas, jovem príncipe, não entendeu que se o grande general da Primeira Guerra era a alma gêmea dela, quem é o seu?
-- Aurora -- murmurei espantado -- por isso são tão parecidos, eles têm a mesma função.
-- Nos proteger e nos ajudar a liderar a Guerra -- Júlia completou.
-- Vejo que entenderam -- Renne chamou atenção para si -- a Profecia das Guerras dizia que haveria duas Guerras, mas interfiram, agora há apenas uma.
Júlia me olhou, ela tinha percebido algo, mas não podia me falar, não era algo que Renne pudesse ouvir.
-- O que mais sabe sobre a Segunda Guerra? -- perguntei.
-- Se sua amiga perder a Guerra, o Céu é o Inferno saem de controle. Se você perder, a Terra perde o controle. Por isso eram Guerras separadas, porque cada uma tinha uma finalidade e já eram difíceis sozinhas, mas agora juntas? Boa sorte!
Ele riu de sua provocação.
Muita coisa, praticamente tudo o que vivemos até agora fazia sentido. Mas não queria dizer que era uma coisa boa.
-- Você sabe de muita coisa que tenha a ver com o Sobrenatural, não é? -- Júlia perguntou para Renne.
-- Sim, eu sei de tudo -- ele se gabou.
-- Pois bem, há um tempo atrás, tanto Grigore, quanto um arcanjo chamado Balthazar, estavam atrás de uma jóia, essa jóia, na verdade, era um mapa de uma espada. Que espada é essa? -- ela perguntou.
-- A Espada de Ouro? -- ele perguntou presunçoso -- Achei que nessa altura dos acontecimentos vocês já saberiam.
-- Saberíamos do que? -- perguntei confuso.
-- Pra que ela serve e porque é importante, afinal, ela -- ele apontou para Júlia -- precisa dela para vencer a Guerra. Você já é sua própria arma Príncipe, já tem o poder de destruir tudo, sua amiga é, ou deveria ser, pura demais. Ela precisa da Espada para controlar o Céu é o Inferno.
-- Pai -- Rebeca disse ao entrar na sala, Renne concordou com a cabeça, se levantou e olhou no seu relógio de bolso.
-- Por mais que seja agradável está conversa, chegou o momento.
-- Do que você está falando? -- perguntei também me levantando, puxando Júlia comigo -- Momento do que. . . Porra!
-- Trian! -- Júlia me ajudou a não cair.
Sangue escorria do meu pescoço, onde Rebeca tinha acertado uma pequena adaga. Aquilo ardia como o inferno. Júlia retirou a adaga, fazendo mais sangue espirrar e molhar sua camiseta, eu fiquei tonto, mas minha raiva era muito maior que minha dor.
-- Por que você fez isso sua louca? -- um som alto de asas veio de cima, além do alto teto. Júlia surtou, ela olhou para o sorriso prepotente de Rebeca e pulou sobre ela, acertando o soco mais forte que já a vi dar em alguém -- Sua vaca! Eu não acredito que vocês fizeram isso! -- Júlia a socava sem parar.
-- Guardas! -- Renne gritou -- Guardas! Rápido!
-- Cale-se -- eu gritei, lançando uma cadeira sobre ele.
-- Sua vadia! Filha da puta! -- Júlia ainda socava Rebeca, que tinha um corte e começou a sangrar. . . Oh não!
-- Júlia, temos que sair daqui -- eu a puxei, segurei a respiração para não sentir o sangue da vampira.
Saímos correndo, um vampiro apareceu, tentando nos deter, me joguei contra o ele, o prensando contra a parede e o socando forte, voltando a correr. Mais pra frente outro apareceu, Júlia deslizou pelo chão, acertando suas pernas, depois chutando seu corpo e sua cabeça. Não podíamos parar, o barulho ficando cada vez mais alto, o que significava que estava mais perto.
-- Merda! -- demos de cara com quatro vampiros, precisávamos chegar até a portão, onde Edgar e os outros nos esperavam, era nossa melhor chance -- Por aqui! -- puxei Júlia para a sala lateral, batemos a porta para nos dar mais tempo. A sala tinha grande janelas, precisávamos quebra-las -- A mesa.
Pegamos a mesa de madeira, era muito pesada e eu estava um pouco fraco, precisava me alimentar, mas conseguimos ergue-la. A lançamos contra a janela, que trincou o vidro, mas não o quebrou.
-- Que merda! Vamos fazer de novo! -- nisso a porta explodiu, Rebeca e os guardas entraram.
Ótimo, cheiro de sangue invadiu meu nariz!
-- Vocês não vão escapar! -- Rebeca disse triunfante -- Peguem-no, ela é minha!
-- Pode vir, vadia -- Júlia a encarou.
Os vampiros vieram para cima de mim, soquei o primeiro e chutei o segundo. Os outros dois tinham uma espécie de cacetete de metal, provavelmente prata, e me atacaram.
Eu vi Rebeca, praticamente, voar contra a parede e Júlia limpar com uma mão o sangue que escorria do seu nariz​. Estranhamente, o sangue da Júlia não me causava sede por sangue, o que eu não podia dizer de Rebeca e cia.
-- Com licença -- Júlia acertou um dos vampiros, roubando o cacetete dele. Depois acertou o outro tão rápido, que dentes voaram.
-- O que houve com você? Está lutando como a Aurora! -- eu disse, desviando de outro ataque e socando um deles.
-- E você está igual o Alec -- ela me mostrou a língua.
-- Touché.
Eu estava prendendo a respiração, não podia sentir o cheiro do sangue dos vampiros a nossa volta. E estava indo tudo bem. . .
-- Aaaahhhhh
-- Júlia! -- tentei chegar até ela, mas me agarraram pelo pescoço -- Cori!
-- Me perdoe príncipe, só sigo ordens -- ele respondeu indiferente.
-- Me solta! Seu maldito, me solta! -- Júlia se debatia, tentando se soltar do aperto do Balthazar.
-- Pequena Júlia, como eu estava com saudades de você -- ele sorriu para ela.
-- Vai se foder-- ela cuspiu na cara dele.
-- Tsc Tsc -- Balthazar limpou seu rosto, soltando Júlia que caiu no chão. No seu abdômen tinha uma adaga, do mesmo tipo que Rebeca lançou em mim -- Isso não são modos de um espírito de luz.
-- Foda-se você e sua luz! Enfia no teu rabo! -- Ju gritou, eu riria se eu não estivesse sofrendo uma tentativa de estrangulamento, sem poder de fato respirar e ainda tinha o meu ferimento sendo dolorosamente pressionado.
-- Está andando demais com aquela sua amiga selvagem, a namorada daquele ali.
-- Não se atreva a falar de Aurora -- eu gritei.
-- Ela vai te matar -- Júlia falou calmamente -- Aurora me prometeu que vai te matar. Ela cumpre suas promessas, Balthazar. Não importa o que você fez ou faça daqui para frente, ela vai te caçar e vai te matar.
-- Depois de tudo o que descobriu sobre mim, do que eu fiz com você e fiz com seu namorado traidor, acha mesmo que uma simples vampira pode fazer algo contra mim? -- ele sorriu​ provocando.
-- Não acho, tenho certeza -- Júlia sorriu do mesmo jeito.
-- Quer se vingar pelo maxilar trincado? -- Balthazar perguntou para Rebeca, que sorriu maldosa.
Ela se abaixou sobre Júlia e girou o cabo da adaga, se divertindo com os ofegos de dor, sangue escorria de sua boca. Todos ali pareciam achar aquilo um grande show de entretenimento, menos Cori que mantinha seu rosto sem expressão.
-- O que? -- Rebeca perguntou para Júlia, que tinha sussurrado algo.
-- Minha vez -- Júlia falou claramente, arrancando a faca do próprio corpo e acertando no estômago de Rebeca, que gritou de dor. Prata é extremamente nociva para vampiros, exceto para Júlia -- Sua família escolheu o lado errado de novo, mas dessa vez vai pagar caro!
Num golpe rápido, antes que pudesse ser detida, Júlia sacou a adaga e acertou o pescoço de Balthazar, bem no meio, e foi subindo até chegar no queixo. O corte não era profundo, mas suficiente para verter sangue dourado.
-- O que achou que ia conseguir com isso? -- Balthazar perguntou pressionado uma toalha contra o ferimento. Aquela toalha tinha sido pega por um vampiro para Rebeca, mas Balthazar não se importou com ela, que ainda estava caída no chão choramingando de dor -- Isso não chegou nem perto de realmente me ferir.
-- Mas vai deixar uma marca, é nela que Aurora vai te acertar e vai te matar -- Júlia sorria, mesmo cuspindo sangue e sendo segurada por dois vampiros.
-- Levem-nos -- Balthazar ordenou.
-- Solte-a! -- eu gritei.
-- Sabe príncipe, tem uma coisa que eu queria fazer há muito tempo -- Balthazar se aproximou de mim, sorrindo, então Cori me soltou ao mesmo tempo que levei um soco que me fez tombar para o lado, contra a parede -- Você é um monstro! Uma aberração! Deveria ser um animal e matar todos a sua volta, não ficar se mantendo sobre controle! Nem para isso serve?
Ele gritava comigo e me chutava. Eu ainda tentava não respirar, cada vez ficava mais difícil, eu precisava manter o controle, eu não podia…
-- Trian! -- Júlia gritou.
-- Mesmo agora, ainda está tentando se controlar. Quanto desperdício de potencial -- ele era teatral e tudo o que eu queria era mata-lo -- Quando eu descobri que o herdeiro ao trono era outro Mestiço, fiquei feliz, achei que não ia precisar me resolver com o vampiros, que você ia acabar com esse problema para mim. Mas não, você resolveu ser bebê chorão que se esconde atrás dos outros -- ele me chutava, minha raiva era tanta que senti meus olhos brancos, ainda sem sentir o cheiro do sangue.
-- Não me importo se eu morrer hoje -- eu disse numa voz que não reconheci como minha, segurando seu punho, antes que me desse outro soco -- Mas você vai comigo!
Chutei o peito de Balthazar, que recuou tanto que só parou porque Cori o segurou.
-- E quem disse que você vai morrer hoje? -- Balthazar sorriu, voltando a pose e se recompondo do susto -- Você vai matar.
-- ME LARGA! -- Júlia gritou quando a arrastaram para longe.
-- NÃO! -- eu tentei alcança-la, mas jogaram cordas apertadas em mim, meu pescoço, meus braços -- ME LARGUEM! NÃO CONSEGUE ME ENFRENTAR, BALTHAZAR? PRECISA DE TUDO ISSO?
-- Levem os dois -- Balthazar ordenou.
Nos levaram para um porão mal iluminado e muito úmido, onde tinha um poço.
-- Não, me solta, me solta! -- Júlia se debateu, mas a jogaram lá dentro.
-- JÚLIA!
-- Você vai se juntar a ela -- Balthazar riu, cravando uma faca de prata nas minhas costas. Depois me jogaram lá, com faca e cordas.
-- Trian -- Júlia veio até, a água batia na altura de seu peito -- eu te ajudo.
Ela me ajudou a me soltar e puxou delicadamente a faca. Segunda vez que ela fazia a mesma coisa hoje, o quão bizarro é isso?
-- Oww, mesmo depois de tudo, ainda são amigos -- Balthazar zombou. Ele estava na beira do poço nos olhando, o poço era muito alto e eu estava muito machucado no momento, precisaria de um tempo para me recuperar -- Vamos ver quanto tempo continuam amigos?
Cori trouxe um balde, eu senti o cheiro na hora. Sangue fresco de vampiro!
Eles tinham acabado de matar alguém, o sangue ainda estava quente, eu podia sentir, cheirava tão bem, tão atraente. Minha boca salivava, a sede tomou conta de mim, minhas presas se alongaram, meu corpo tremia, eu precisava daquilo.
-- Você quer? -- Balthazar riu -- Todo seu.
Ele virou o balde em nós, acertando a maior parte em Júlia, sangue escorrendo por seu rosto e por seus cabelos. Ela me olhou assustada, temos um péssimo histórico, da última vez eu quase a matei.
Me afastei o que pude, mas nosso espaço era muito reduzido. Ela tentou se limpar, mas não tinha muito o que fazer.
-- Alec e Aurora vão nos encontrar! -- ela gritou para Balthazar -- Você vai pagar por isso!
-- Alec… como está meu bom amigo Alec? Ele já se lembrou das atrocidades que fiz com ele? -- Balthazar perguntou divertido.
-- Do que você está falando? -- Júlia perguntou.
-- Vocês ainda não descobriram? -- ele riu -- Achei mesmo que não teriam inteligência para compreender. Vocês acham que agora que Alec está do seu lado, vampirinha, eu perdi? Eu ainda preciso dele. Vou contar um segredo, descobri que só o General pode achar a espada, isso quer dizer que Alec ainda tem serviço a fazer.
-- Ele nunca vai ajudar vocês! -- ela gritou.
-- Só porque ele sabe parte da verdade? -- ele riu novamente -- Se eu apaguei setecentos anos da sua memória, acha mesmo que não posso fazê-lo se esquecer de semanas?
-- Você vai mexer com a cabeça dele de novo? -- perguntei gritando, meu corpo quase convulsionava por causa do cheiro.
-- E o melhor de tudo é que eu nem preciso ir atrás dele, em algum momento ele virá atrás de mim -- ele deu de ombros -- Melhor aproveitar seu tempo com ele, pequena Júlia, porque esse tempo está acabando.
-- Você não pode fazer! -- ela gritou a beira dás lágrimas.
-- Eu posso e vou, trarei Alec para o meu lado quantas vezes seja necessário. Eu estou sendo legal, estou avisando: Alec voltará para o meu lado, por bem ou por mal. Se divirtam crianças -- Balthazar falou, tampando o poço, estávamos completamente presos, o cheiro circulando, preso junto conosco.
Júlia jogou água sobre seu rosto, mergulhou para tentar limpar os cabelos, mas ainda havia o cheiro, isso não ia embora.
-- Eu estou tentando… eu estou tentando… -- ela disse, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto -- mas não sai…
-- Júlia -- eu murmurei. Eu queria consola-la, mas não podia me aproximar. Meu nariz queimava e meu estômago rugia, eu precisava de sangue. Meu corpo implorava por isso -- Vamos ficar bem…
-- Ele vai tirar Alec de mim -- ela chorou -- eu vou perde-lo de novo. Trian eu não vou aguentar, eu não vou conseguir, eu não posso perde-lo de novo… eu… não posso -- ela tampou seu rosto com as mãos, chorando muito, meu coração se quebrou.
-- Ju -- eu a abracei, eu lidaria com a minha sede, ela precisava de mim -- não posso prometer que nada vai acontecer, mas prometo, juro pela minha alma, que sempre estarei com você. Se Balthazar realmente conseguir levar Alec, o traremos de volta!
-- Ele vai se esquecer de mim de novo? -- ela perguntou chorosa.
-- Eu não sei, mas ele nunca vai deixar de te amar -- respondi passando a minha mão pelos seus cabelos molhados -- Alec se apaixonou e lutou por você antes mesmo de te conhecer, lembra? -- ela confirmou com a cabeça -- Eu sei que ele te ama na mesma intensidade que eu amo Aurora e eu a amo com todas as minhas forças e com a minha alma. Mesmo que ele se esqueça de tudo que passamos, ele nunca esqueceria do amor que sente por você.
-- Você acha? -- ela perguntou limpando as lágrimas.
-- Eu tenho certeza -- eu beijei o topo da sua cabeça, o que foi um erro, porque​ senti vestígios de sangue nos meus lábios. Engoli em seco, aquilo estava cada vez mais difícil.
-- Trian -- ela disse hesitante -- eu estava pensando, você se alimenta de sangue de vampiro, eu sou uma, diferente, mas sou.
-- Isso é loucura, eu posso te matar -- me afastei imediatamente -- é isso o que Balthazar quer, que eu perca o controle e te mate.
-- Eu confio minha vida a você -- ela disse me estendendo o pulso -- Não tem problema.
-- Júlia, eu posso te matar!
-- Eu confio em você.
-- Eu não confio em mim!
-- Trian -- ela se aproximou -- confie em mim, vai ficar tudo bem, pode morder.
Eu não queria, eu juro que não queria, mas eu precisava. Mesmo com muito medo e jurando para mim que seria só um pouco, segurei seu pulso. Eu confesso que tinha lágrimas nos olhos, tamanho meu desespero, mas Júlia confiava em mim.
Minhas presas adentraram sua pele, perfuraram sua carne e o sangue invadiu minha boca. Era diferente de qualquer outro que eu já tinha provado. O sabor era mais forte, como se fosse concentrado.
Não era como o de Aurora, que era o melhor sabor de todos, que me fazia me sentir em casa e tão bem e confortável. O sangue de Júlia era como tomar uma ​grande lata do mais potente energético. Eu podia sentir o sangue circulando rápido nas minhas veias, como uma injeção de adrenalina.
-- Tudo bem? -- perguntei para Júlia.
-- Você tomou bem menos do que achei que tomaria, eu bebo mais do Alec do que você tomou agora.
-- Sério, estou saciado como se tivesse…
-- Tomado todo o sangue do meu corpo -- ela riu -- não, você passou longe disso.
-- Quem vai ficar mais louco quando souber disso, Alec ou Aurora? -- perguntei, a fazendo rir.
-- Não faço ideia.
Eu me sentia bem, como se tivesse acabado de acordar de um grande cochilo, totalmente descansado e revigorado.
-- Precisamos sair daqui -- eu falei, o poço era grande, mas poderíamos tentar subir -- Você está bem para isso?
-- Você vai ter que me ajudar, mas posso tentar.
-- Vou abrir o poço e venho te buscar -- eu disse e ela concordou.
Consegui escalar, mesmo estando muito úmido e liso, eu consegui. Destampar o poço foi um pouco mais difícil, tive que segurar com uma mão, enquanto a outra forçava a madeira, precisou de dois socos fortes para quebrar a tampa, então consegui empurra-lo para longe.
Não havia ninguém no porão, pelo menos isso. Pulei de volta, parando perto dela.
-- Se segura em mim -- ela subiu nas minhas costas, segurando no meu pescoço, escalei de volta até finalmente sairmos dali -- Temos que dar o fora daqui!
Quando fomos correr, a porta se abriu num estrondo, fiquei a frente de Júlia, a protegendo com meu próprio corpo.
-- Hora de ir -- Alec disse, Aurora estava do seu lado, ambos sorrindo e com espadas sujas de sangue.

-- Hora de ir -- Alec disse, Aurora estava do seu lado, ambos sorrindo e com espadas sujas de sangue

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