Uma dor lateja subitamente em minha cabeça. Vejo o fogo atrás do prédio com um enorme buraco nos seus últimos andares.
Meus joelhos desabam no chão. Meu coração bate como um tambor. Olho para trás e vejo Harry vindo. Ele corre em minha direção. Já posso até imaginar o que ele vai falar. Já posso imaginar a briga que teremos.
Eu precisei fazer isso. Se não tivesse feito, os outros poderiam ter morrido.
Fiz um jatinho atravessar um prédio e cair na rua de trás. Fiz ele me seguir pela rua inteira. Empurrei Harry com tudo para dentro de uma das lojas e sai correndo, o deixando para trás.
Ele deve estar furioso. Furioso por não ter contado e por eu ter quase me matado. Furioso por eu repetir o mesmo erro da outra vez. Mas pelo menos, eu sei que ninguém morreu — além do piloto. A estação do metrô fica do lado oposto do prédio, bem longe de onde o avião caiu.
Harry finalmente chega onde estou. Ele abre a boca para falar algo, mas nenhuma palavra sai. Ele abre a boca de novo, mas é interrompido por um barulho no céu que aparece aos poucos.
Ah não...
Olho para cima e vejo, bem longe daqui, três jatos vindo em nossa direção. Eles não são nada parecidos com o que eu derrubei. Parecem ser maiores e a pintura deles é de uma cor prateada. O que derrubei era totalmente preto. Eles não parecem ser tão rápidos quanto o outro, mas o barulho é tão alto, que mesmo de longe, nós os ouvimos.
— Tem uma estação de metrô na direção que estávamos seguindo — fala Harry. — Podemos ir para ela e tentar encontrar os outro nos túneis.
Concordo com a cabeça e me levanto. Sem falar mais nada, nós corremos para a rua em que empurrei Harry em uma das lojas. Nós corremos o máximo que podemos. Estamos indo na mesma direção dos jatinhos. Eles já devem ter nos visto. Os outros já devem ter entrado na estação de metrô, eles não estavam muito longe quando nos separamos.
Eu sei de qual estação Harry está falando para entrarmos. Ela está perto, mas os jatos podem nos alcançar e nos matar até lá.
Entramos em uma avenida com alguns carros parados nas ruas. Vejo as escadas que descem para debaixo do chão na calçada que estamos. Não está muito longe. É ali onde chegaremos a estação.
Ouço o som barulhento dos jatos se aproximarem cada vez mais. Meu coração tenta escapar de meu corpo. Meu pulmão arde. Meus pés doem.
O primeiro jato passa por cima de nós, disparando com suas metralhadoras contra o chão e deixando o asfalto cheio de buracos.
Nós nos disparamos em direção às escadas. Já estamos quase chegando. Podemos conseguir. Vamos conseguir.
E então, mais disparos. Outro avião suje em cima de nós e passa rugindo. Suas asas cortam o ar e suas metralhadoras disparam para baixo. Mais buracos são feitos perto de nós.
Finalmente chegamos nas escadas. Deixo Harry passar primeiro. Ele dispara nas escadas. Após nos afastarmos um pouco, eu volto minha corrida. No momento que piso no primeiro degrau, ouço o terceiro aviso passar. Mas não ouço os disparos de metralhadora. Ouço outra coisa.
Rapidamente, olho para trás. Vejo o avião soltar um de seus mísseis. Meu pulmão perde o ar e meu coração quase explode.
Volto meu olhar para frente e me disparo contra os degraus.
De repente, uma explosão atrás de mim. Sinto uma enorme nuvem de calor bater contra minhas costas. Eu sou lançada escada abaixo. Bato meu ombro contra um dos degraus e começo a rolar. Bato meu corpo diversas vezes contra o chão enquanto rolo. Tento controlar meu corpo, mas não consigo. Desço os degraus batendo meu corpo contra o concreto duro. Sinto o gosto de sangue na boca é uma forte dor nas costelas. Não acho improvável ter quebrado uma ou duas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Escolhida || Livro 2 da Trilogia Sinistra
AçãoEm um futuro distante, Claire Roberts é forçada a enfrentar uma cidade apocalíptica em busca de uma vingança pelo que a LPB causou. Após invadir uma parte do Centro, Claire e seus amigos fogem e começam uma luta nas ruas de São Paulo. Zumbis não s...