Capítulo Trinta e Sete

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Saímos do parque.

Não é como no condomínio. Estamos em mais de trinta pessoas. A única vez que juntamos mais de vinte Sinistros foi quando fomos ao shopping.

É muita gente. Algumas pessoas estão feridas da recente batalha, mas dois Curadores estão vindo conosco e cuidarão das pessoas caso aconteça algo grave.

Minha cabeça dói a cada passo que dou. Não sou a única. Muitas pessoas reclamam de dor em alguma parte do corpo. Saímos de uma batalha para entrar em outra.

Os prédios espelhados refletem o brilho do sol. Deve ser umas quatro horas. O dia está sendo mais longo do que eu pensava que ia ser.

Tomás nos guia pelas ruas desertas. Além de alguns zumbis e Infernus, não encontramos nada perigoso. Carros virados de ponta cabeça, pedaços de concreto no chão, buracos no asfalto... Tudo que já estamos acostumados a ver.

Nós seguimos nosso caminho. Obviamente, todos estamos cansados. Menos Tomás. Ele é o único que permanece com a mesma postura e parece mais determinado do que nunca. É como se um desejo ardente de vingança queimasse dentro dele.

Quando faz mais ou menos uma hora de caminhada, todos estão quase caindo na rua. Diversas pessoas abrem suas mochilas e pegam suas garrafas de água. Algumas até comem andando. Percebo que a maioria das pessoas está com mochila. Tomás podia ter providenciado uma para nós, pois eu estou totalmente desidratada e não comi nada o dia inteiro.

É nesse momento que percebo que seria melhor ter saído amanhã. Hoje estamos todos cansados e eu estou quase desmaiando. É um pouco difícil até para pensar. Quando olho para frente, às vezes vejo as coisas começarem a girar e eu penso estar prestes a desmaiar, por isso evito olhar para frente e fico com os olhos fixados no chão.

Tomás quer vingança e eu entendo. Eu também quero vingança. Eu quero destruí-lo por tudo que fez. Por todo sofrimento que causou. Mas sei que se continuarmos sem dar nenhuma pausa, nós iremos acabar morrendo. Do que adianta ter trinta soldados sendo que nenhum deles está em um estado bom o suficiente para lutar?

Levo um pequeno susto quando sinto uma mão pegar no meu ombro. Olho para o lado e vejo Harry. Ele está com uma garrafa de água na mão e uma maçã na outra. Quase choro de felicidade quando ele me oferece os dois.

Pego de sua mão primeiro a garrafa e bebo até a água ficar pela metade da garrafa. Logo em seguida dou mordidas desesperadas na maçã. Quando engulo os primeiros pedaços, meu estômago começa a me atacar com a fome.

— Vá com calma, Claire — ele fala.

— Onde arranjou isso? — pergunto.

— Pedi para Tomás. Ele me deu a mochila dele e disse que podíamos ficar com ela. Dei ela para Dylan e peguei só um pacote de salgadinho. Vi que não tinha comido nada e trouxe para você essa maçã.

Eu nem presto muita atenção no que ele disse por causa da maçã que está deliciosa.

— Já estamos chegando perto da estação? — pergunta Demi, aparecendo do lado de Harry.

— Não sei — ele responde. — Não conheço muito essa parte da cidade.

— Estou morrendo — ela fala. — Não devo ser a única extremamente cansada.

— Todos estão, acabamos de sair de uma batalha — diz Harry. — Precisamos descansar...

Um vento forte começa a bater contra nós. Folhas e algumas pedrinhas pequenas voam baixo. Meu rabo de cavalo tenta escapar do restante do meu cabelo.

Ouço Harry tossir e ele coloca a mão na boca. Ele fica tossindo por alguns segundos como se estivesse engasgado com algo.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraOnde histórias criam vida. Descubra agora