Capítulo Vinte e Um

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A primeira visão que tenho de dentro da barraca é de algumas pessoas vestidas com jalecos brancos. Provavelmente são os Curadores. Vejo algumas macas paradas ao lado de cortinas abertas. Algumas delas têm pessoas deitadas.

Começo a andar, procurando Harry ou Dylan em alguma dessas macas. Sou parada por um Curador que parece ser mais novo do que eu. Ele tem o cabelo loiro e os olhos castanhos claros. Sua altura deve ser mais ou menos de 1,50 metros. Eu tenho 1,65 de altura e me considero baixa para a minha idade.

— Quem é você? — o garoto pergunta.

— Sou Claire Roberts, eu e meus amigos fomos resgatados por vocês ontem. — explico.

— O que você quer aqui? — ele pergunta com um tom grosseiro.

— Quero ver meus amigos. Dylan e Harry. Eles estão aqui.

Ele ergue uma prancheta e escreve algo com uma caneta. O homem — ou garoto — tira uma etiqueta da prancheta e me dá.

— Cole isso em seu peito, assim não será parada por mais ninguém.

Ele sai sem dizer mais nada. Olho para a etiqueta e vejo escrito: "Clare Robert". Reviro os olhos. Meu nome não é tão difícil assim.

Colo a etiqueta em meu peito e continuo andando. Passo por diversos curadores e várias macas. A maioria delas está vazia. Percebo que os ferimentos das pessoas daqui são cortes fundos, fraturas ou ferimentos por bala. Não são muitos que estão baleados, mas fico me perguntando como eles levam o tiro.

— Claire! — levo um susto ao ouvir meu nome atrás de mim.

Me viro e então procuro de onde veio isso. Vejo Dylan em uma maca que está entre duas cortinas fechadas e eu acabei passando sem vê-lo.

Sorrio e caminho em sua direção. Ele sorri também. É bom ver esse sorriso. Despreocupado. Relaxado.

Paro em frente à maca dele. Seus olhos transmitem calma. Eu me sinto muito bem ao vê-lo vivi. Me sinto muito bem ao vê-lo feliz.

O problema é que esse sorriso é essa calmaria não vai durar para sempre. Ainda não acabou. Precisamos matar Max. Precisamos matar Brenda.

— Como se sente? — pergunto.

Ele ajeita seu travesseiro e se senta na maca.

— Estou me sentindo ótimo! — fala ele.

Vejo seu braço cheio de ataduras e curativos. Vejo uma gaze também em sua mão. Sei rosto está cheio de cortes pequenos e algumas marcas roxas, como se tivesse levado socos. Mas seu sorriso continua exibindo seus dentes. Ele se sente ótimo.

— É bom poder finalmente descansar — falo.

Ele afirma com a cabeça.

— Não precisamos mais usar uma moita de privada.

Solto uma risadinha, me lembrando do comentário que ele fez quando estávamos na nossa primeira casa. A primeira casa que tivemos que fugir da LPB. É incrível que passamos três dias fora do condomínio, lutando para sobreviver. Incrível que já estamos jo quarto dia.

Parece que se passaram oito meses. Enfrentamos tantas coisas...

— Se sairmos vivos daqui, teremos ótimas histórias para contar aos nossos filhos. — digo.

— Nós vamos sair vivos disso tudo — ele fala. — Todos nós.

Vejo seu sorriso se estender mais. Eu sorrio para ele de volta.

Me lembro de quando conheci Dylan. Não estava encontrando Demi no meio de todos aqueles Sinistros e ele me encontrou. Ele me ajudou a enfrentar tudo. Nunca imaginei que um dia estaríamos no meio de São Paulo tentando destruir a LPB.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraOnde histórias criam vida. Descubra agora