Capítulo Quarenta e Dois

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As portas dos vagões se abrem e nós entramos. Há marcas de sangue e algumas janelas estão quebradas, mas não tem nenhum zumbi ou Infernus.

Quero que esse trem chegue logo ao nosso destino, mas ao mesmo tempo quero ficar nesse vagão pra sempre. Não sei se estou preparada para invadir a LPB. Tenho medo de nosso plano não dar certo. Tenho medo de todos morrerem.

Suspiro. Niall continua tentando acertar o resto da história com Harry. Estou quase desistindo dessa brincadeira. Quem se suicidaria depois de comer uma gaivota? Quem comeria uma gaivota?

Olho pela janela. Vejo os prédios destruídos, fumaça feita por incêndios distantes, as ruas destruídas, as plantas crescendo em cima da destruição...

— Está pronta para se vingar dessa dor que está sentindo? — pergunta Tomás.

Não percebi que ele estava do meu lado. Eu o encaro. Percebo suas olheiras profundas que não existiam antes de eu chegar em sua vida.

— Parece que faz mil anos desde que tudo isso começou — falo, voltando o olhar para a cidade.

— É... — ele suspira. — Passar pelas coisas que nós passamos...

— É surreal — completo.

Agora eu suspiro. O som das rodas no trilho começa a ficar mais alto e eu percebo que o trem aumentou sua velocidade.

— Todo dia eu penso que poderia ter evitado tudo isso. Que poderia ter impedido Max...

— A culpa não foi sua — falo.

Ele balança a cabeça.

— Eu... eu tentei... — ele diz. — Tentei impedi-los. Mas eu fui burro demais. Confiei em uma pessoa que não deveria ter confiado.

Eu volto meu olhar para ele. Seu olho parece se encher de lágrimas. Normalmente, eu não perguntaria nada para não deixá-lo triste, mas ele me deixou curiosa — mais do que eu já sou.

— O que aconteceu?

Ele engole o seco e começa a falar:

— Eu descobri que eles iam lançar o vírus no Brasil inteiro. Então, comecei meu plano para impedir. Descobri onde estava guardado todas as armas biológicas, estudei sobre Max, estudei sobre o vírus... então, eu contei o que ia fazer para o meu melhor amigo. Mas ele já estava do lado de Max. Ele estava convertido para as ideias de Max e eu não sabia. Pensei que ele ia me ajudar no meu plano, mas ele se recusou. Disse que estava com medo de ser pego e implorou para que eu parasse com essa ideia.

Cruzo os braços. Já imagino o que deve ter acontecido depois. Deve ser horrível ser traído por quem você mais confia.

— Eu tinha planejado tudo. Seria uma semana antes da liberação do vírus. Mas então, o Dia da Liberação foi adiado e ficou cedo demais. Isso atrapalhou o meu plano inteiro. Então, quando chegou o dia, tentei seguir o plano antes da hora da liberação. Distrai os funcionários dando um curto-circuito geral na energia, o que ativou o sistema de segurança e matou diversos cientistas e soldados. Não era meu objetivo aquela matança, mas eu não tive escolha. Alcancei a sala de armas biológicas e quando estava fazendo o que tinha planejado, Max e meu "melhor amigo" apareceram e me prenderam.

Percebo a raiva em sua voz quando diz "'melhor amigo".

— Fiquei seis meses em uma cela suja com comida ruim e banhos mensais. Enquanto a cidade estava sendo destruída, eu estava lá embaixo. Preso. Consegui escapar quando estavam me levando para o banho. Foi pura sorte não ter nenhum soldado de vigia onde eu estava. Consegui subir para a superfície por um elevador. E então, eu fiz a maior burrice da minha vida.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraOnde histórias criam vida. Descubra agora