*59° Capítulo*

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Cerca de 1 hora e 10 minutos depois, finalmente começava a avistar o parque indicado.

As minhas costas doíam pelo peso do material e as minhas pernas tremiam pelo cansaço.

Os meus lábios estavam secos e a minha pele ressequida. O gorro que adornava os meus enormes cabelos loiros, fugia por vezes, quando o vento chocava contra o meu corpo, com uma maior intensidade.

Estava ofegante quando me sentei no banco, posicionado no meio daquele parque vazio.

"Pensei que não viesses!" uma voz pronunciou-se atrás de mim, fazendo-me gritar de susto.

59° Capítulo

"Meu Deus!" gritei assustada, vendo o vapor de de água dispersar-se no ar gélido de Londres.

Tentava regularizar a minha respiração devido ao susto que apanhara, mas tal ato tornava-se de certa forma impossível, uma vez que aqueles olhos impediam-me de fazer fosse o que fosse, inclusive, respirar.

Um breve momento de silêncio instalou-se entre nós, tão calmo e tão torturador. Em passos calmos e pequenos, o seu corpo dirigiu-se para perto do meu, sentando-se em seguida à minha beira, com um olhar atento na iluminação natalícia que preenchia a cidade atribulada que era Londres.

"Desculpa, Harry." pedi de forma insegura, sentindo, mais uma vez, arrependimento preencher cada célula do meu corpo. Os acontecimentos passados na sua casa, atravessam os meus pensamentos fazendo-me ficar ainda mais arrependida pela minha atitude estúpida.

O seu olhar foi frio e vago. Talvez ele nunca mais quisesse ver o meu rosto à frente do seu. Mas ainda assim um pequeno sentimento de esperança corroía o meu coração. "Porque é que ele me chamou aqui? " Era uma das milhares perguntas que ecoavam repetidamente dentro do meu cérebro.

"O que é que fazemos aqui, na véspera de Natal?" indaguei curiosa, quando não obtive qualquer tipo de resposta da sua parte.

"Eu queria que tu..." começou, meros segundos após a minha pergunta, mas interrompeu-se a si próprio, talvez escolhendo as palavras certas.

"Sim?" reforcei, tentando que ele prosseguisse. Eu temia pelas suas palavras, mas tudo o que eu desejava era que ele dissesse o que queria o mais rapidamente possível, mesmo que fosse para eu desaparecer para sempre da sua vida.

"Eu sei que tu nunca o fizeste com ninguém, e mesmo desejando nunca mais ter de encarar a pessoa que me partiu o coração, eu gostava de ser o primeiro a ensinar-te as coisas básicas." revelou calmo, articulando cada palavra para que eu percebesse correctamente o que ele pretendia transmitir.

Porém, após ter ouvido calma e meticulosamente todas as palavras expelidas pela sua boca, um calor estranho atingiu-me. Instantaneamente, um tom rosa adornou as minhas bochechas geladas pelo vento que percorria todas as ruas londrinas e uma súbita vontade de retirar algumas peças de roupa apoderou-se parcialmente de mim.

Que conversa é aquela? Como é que ele sabe que eu sou virgem? E porque é que ele quer fazer aquilo que eu estou a pensar que ele quer fazer, comigo, uma vez que está furioso comigo e nunca mais me quer ver na vida?

O seu olhar atentou no meu envergonhado e por momentos vi um pequeno sorriso crescer no canto direito da sua boca, tornando, assim, visíveis os seus dentes extremamente brancos e alinhados. Uma pequena gargalhada nasalada preencheu o meu canal auditivo e, mais uma vez, aquele sensação no meu ventre fez-me estremecer. Queridos artistas interiores, esta não é uma boa altura para pintarem o meu estômago!

"O Artista" - {h. s.} - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora