"O Artista" - {h. s.} - Completo

*-*Epílogo*-*

*6   A N O S   M A I S   T A R D E*

Rachel nunca fora uma pessoa que gostava de sonhar com o futuro. Sempre tentou ter os pés bem assentes na Terra, mesmo quando a sua cabeça estava na Lua. Bem, ela sempre preferiu viver o momento presente, ao invés de ser decepcionada e igualmente destruída pelas expectativas a que ela raramente se sujeitava. Porém, por alguma razão que o Universo desconhece, Rachel estava a ser invadida por expectativas, e permitia que os seus sonhos fossem ocupados pelo pensamento do futuro, no presente momento.

Sentada na desconfortável cadeira branca, e com Harry do seu lado, Rachel aguardava ansiosa e esperançosamente, pelo médico daquele pequeno hospital.

"Relaxa, Rachel, tudo vai correr bem." Harry sussurrou no seu ouvido, enquanto ela observava atentamente o brilho dos seus olhos.

Recuando um tempo atrás, quando Rachel ainda era uma jovem no início da sua adolescência, totalmente destroçada pela perda trágica da sua melhor amiga Daisy, se lhe perguntassem se ela, algum dia, se envolveria com alguém, muito certamente a sua resposta seria negativa e um revirar de olhos. Se do mesmo modo lhe perguntassem se ela se envolveria com alguém que fizesse troça dela, certamente a sua resposta manter-se-ia firme. Porém, ironicamente, a história amorosa de Rachel poderia ser contada através da inversão das suas respostas. Mas, inacreditavelmenre, esta não sentia um pingo de vergonha em ter errado na resposta de todas aqueles perguntas insignificantes. De facto, sentia-se agradecia em tê-o feito.

Contudo, se a questionassem, à seis meses atrás, se ela se imaginaria a ter um filho com Harry, provavelmente a sua resposta ter-sido-ia positiva. Na verdade, essa era uma das poucas sobre o futuro, a que ela não se privava de pensar.

"Rachel Marie Benson?" – um homem alto, que envergava uma enorme bata branca, chamou pela rapariga sentada nos bancos. Sim, apesar de já ter os seus 24 anos, Rachel ainda se considerava uma adolescentes, apenas com algumas responsabilidades agora. "É a sua vez."

Rapidamente o corpo de Rachel saltou da cadeira e o corpo de Harry seguira os seus movimentos logo de seguida.

"Vai tudo correr bem, Rachel!" – Harry sussurrou ao seu ouvido. – "Nós vamos conseguir, eu sei que sim."

"Sentem-se, por favor." O médico pediu, enquanto o casal obedecia. "Infelizmente, não trago boas notícias." – o médico iniciou o seu discurso.

O coração de Rachel começou a bater mais depressa, e uma súbita vontade de chorar apoderou-se do seu corpo.

Harry, por sua vez, não tentara impedir essa mesma vontade que também se apoderava de si. Uma lágrima solitária desceu pela sua bochecha, e um suspiro grave escapou-lhe dos lábios.

Apesar de Harry não o demonstrar, ele estava a sofrer tanto como Rachel. Era a 7ª consulta que eles iam, e era a 7ª vez que os seus poucos sonhos para o futuro estavam a ser destruídos.

"A senhorita Rachel não está grávida." – a voz do médico ecoou na sala silenciosa, destruindo aquela pequena parte de esperança que ainda existia em algum lugar do corpo deste casal. – "Porém, esta não é a pior notícia."

O olhar de ambos dirigiu-se para o médico no mesmo instante em que as suas palavras foram pronunciadas.

"A menina Rachel tem um pequeno tumor nos ovários, e é isso mesmo que não vos permite gerar vida dentro do seu organismo."

Rachel não reagira, pois a quantidade de informação que recebera era demasiada, pelo menos, mais do que aquela que ela conseguiria processar. Por outro lado, Harry começou a chorar.

O amor que ele sentia por Rachel era inegavelmente forte e verdadeiro. Da mesma maneira que Rachel não se imaginava a namorar alguém como Harry, ele não se imaginara a namorar alguém como Rachel. Ao contrário de Rachel, era um rapaz sonhador. Nunca se privara de pensar no futuro, apesar de saber que tinha de pensar sempre na sua pequena irmã. Sempre tivera um plano de vida bem definido e sonhos que queria realizar. E constituir família não estava presente em nenhum deles. Até Rachel aparecer na sua vida e trocar tudo aquilo que ele já tinha considerado como certo.