Porto Seguro

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NARRADO PELA JESSICA

Não consegui dormir direito, quase não preguei o olho e quando finalmente aconteceu eu sonhei com o Mark, na verdade foi como uma lembrança, revivi cada momento daquela noite horrorosa, mas meu subconsciente insistia em acrescentar cenas do que poderia ter acontecido. Acordei inúmeras vezes durante a madrugada, aterrorizada. Todas as vezes que eu conseguia dormir eu voltava a sonhar/lembrar.

Eram 5h00 da manhã quando eu desisti de tentar dormir, me levantei e fui o banheiro, me olhando no espelho constatei: eu estou um caco! Fiz minhas higienes e tomei um banho demorado, de pelo menos 30 minutos. Me arrumei pra escola e desci pra tomar café, meus pais já estavam na mesa quando cheguei.

- Bom dia filhinha - meu pai falou assim que me sentei à mesa.

- Bom dia pai. - respondi.

- Tá tudo bem querida? - olhei pra minha mãe e ela estava me olhando com a testa franzida. Minha cara deve estar péssima pela cara que ela está fazendo.

- Tudo bem mãe, só não dormi muito bem hoje, estou com um pouco de dor de cabeça! - respondi pegando uma fatia de bolo.

- Bom dia família... - o Henrique chegou e se sentou ao meu lado - Uh, que cara em maninha, quem morreu? - falou zombando da minha cara.

Revirei os olhos e não respondi, ele deu um risinho que começou a comer. Meu pai pegou minha mão, me fazendo olhar pra ele.

- Está com insônia filha? - perguntou.

- Não, eu tive um sonho ruim... - respondi calma.

- Tudo bem! - ele falou - Bom, já estou indo. - falou se levantando.

Nos despedimos e ele saiu, minha mãe se levantou e foi em direção a cozinha.

- Quer um remédio filha?

- Não precisa mãe, tá tranquilo, logo vai passar. - respondi observando ela desaparecer na porta.

Na verdade eu não estava tranquila, não foi nada calmante lembrar de cada detalhe daquele dia, mas eu não podia falar nada. Meus pais não sabiam o que tinha acontecido, lembram que eu falei que fui pra casa da Alexia? Pois então... Quando voltei pra casa no dia seguinte, depois da aula, eu não falei nada, fingi que nada tinha acontecido, claro que rolou alguns boatos, mas nada que os fizessem me questionar.

Mas alguém percebeu que eu não estava bem... O Henrique foi ao meu quarto depois do almoço e eu tive que contar a ele. Ele me conhece mais do que ninguém e sempre me apoiou, em nenhum momento jogou na minha cara as escolhas erradas que eu fiz, pelo contrario... Ficou comigo a tarde toda enquanto eu chorava baixinho para os meus pais não ouvirem... Foi meu confidente, meu porto seguro! E ele sabia que depois do ocorrido, durante um bom tempo, eu tinha pesadelos todas as noites.

- Porque não me acordou Jessica? - olhei pra o Henrique e ele parecia estar lendo meus pensamentos.

- Não precisou... - respondi encarando ele.

Ele levantou uma sobrancelha me encarando de volta... É óbvio que não acreditou em mim!

- Eu tô bem Rique... - ele não parou de me encarar - Eu vou ficar bem... - suspirei e ele segurou minha mão.

- Pode contar comigo Jess... Pra tudo, a qualquer hora do dia ou da noite... Em todos os momentos. - falou me fortalecendo.

- Eu sei... E eu te agradeço por isso - dei um abraço nele e ele me apertou forte. - Me leva pra escola hoje? Não quero ir no ônibus hoje...

- Claro - falou me soltando. - Agora vamos comer antes que a mamãe chegue e ache que estamos dispensando a comida dela - falou sorrindo, amenizando a tensão.

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