Fred foi empurrando a porta velha de madeira aos poucos e eu senti um forte odor vindo lá de dentro. Ainda estava escuro e não dava para enxergar nada.
- Ei, garota! O que pensa que está fazendo? - disse um homem ao se aproximar, o reconheci rapidamente, era o vizinho da fazenda ao lado.
- Eu..eu.. só queria brincar aqui. - eu disse apontando para a cabana.
- Você não pode entrar, tem uma maldição aí dentro. - ele disse, mas estava em sua cara que tinha algo a mais, algo que ninguém se atrevia a contar à uma criança de cinco anos.
- O que é maldição? - perguntei como se não soubesse. Eu já vi isso em um filme.
- É uma coisa ruim. - ele disse me encarando.
- Hmm. É.. eu vou brincar ali na árvore. - eu disse indo em direção à árvore que Fred tanto gosta. Enquando isso o fazendeiro se afastou.
Eu e Fred subimos na árvore e ficamos sentados em um galho um pouco alto. Fred estava com raiva, dava para perceber em seu rosto.
- Fred, por que você não me falou da maldição? - quebrei o silêncio
- Aquele fazendeiro está mentindo, todos estão. A maldita da sua avó que você nem conheceu morreu dentro da cabana! - ele disse e eu levei minhas mãos à boca, em sinal de surpresa.
- Isso é mentira! - falei com a voz alterada - Mamãe me disse que ela morreu atropelada!
- HAHAHAHA! E você acreditou, é claro! - ele disse rindo ironicamente. - Sua avó era má, e teve o que mereceu, e até hoje ninguém teve coragem de entrar aí, nem mesmo a polícia, apenas esse fazendeiro idiota.
- Como você sabe de tudo isso? Você só tem dez anos, você também não tinha nascido na época. - eu disse, fazendo com que Fred parasse de rir e fechasse a cara.
Fred desceu da árvore em um pulo só e me encarou, esperando que eu descesse.
- Me ajuda, Fred! Aqui é muito alto pra mim! - gritei de cima do galho
- Não! Você subiu sozinha, agora desça sozinha! - ele disse friamente.
- Por favor, os anjos ajudam as pessoas, sabia?! - usei isso contra ele, fazendo com que o mesmo me "ajudasse".
Foi a pior coisa que eu podia ter falado, Fred me puxou pelo pé, quase me derrubando. Mas ele era tão forte que me segurou de ponta cabeça.
Ao descer fui para casa e Fred me seguiu, acho que eu não tenho mais privacidade!- Fred, você não tem casa? - perguntei curiosa
- Eu morava naquela cabana. - ele disse sussurrando, mas foi alto o suficiente para que eu escutasse e arregalasse os olhos.
- Meu Deus! Não é possível! - eu exclamei
- Eu não sou um an... -ele ia completar a frase mas minha mãe interrompeu.
- Clara! Vem tomar banho para ir ao velório do seu pai! - ela gritou da porta da frente de casa.
Tomei um banho demorado e fiquei pensando no que Fred iria me contar. É claro! Ele ia dizer que não é um anjo! Será? Mas se ele não for um anjo, o que ele é?
Após tomar banho, eu e mamãe fomos ao cemitério da cidade. Fred preferiu ficar em casa, ou melhor, no sótão.
Chegando no cemitério o padre começou a rezar, só havia eu e mamãe lá, sem contar com o coveiro e o padre, é claro. Ao ver o papai dentro de uma caixa estranha comecei a chorar, só de lembrar que ele nunca mais iria acordar. Mamãe já estava chorando muito, já estava enterrando meu pai, então nós duas nos abraçamos e choramos juntas. Começaram a chegar pessoas e em poucos minutos estava acontecendo outro enterro ao lado do nosso, uma velhinha havia morrido. Enquanto eu observava, uma menina do meu tamanho me chamou para brincar, após mamãe me dar permissão, saímos andando pelo cemitério, eu ainda limpava as lágrimas, mas era melhor eu não olhar o papai ser enterrado, aquilo estava me fazendo mal.
Andamos um pouco e a menina finalmente puxou assunto, eu não aguentava mais aquele silêncio.- Como é o seu nome? - ela perguntou parando de andar.
- Clara, e o seu? - perguntei tentando parecer simpática.
- Gabi. Vamos brincar de esconde-esconde?
- Tá. Você conta! - falei e corri, enquanto ela tapou os olhos e encostou-se em um túmulo.
- 1...2...3...
Corri bastando, ela nunca iria me encontrar, eu já estava afastada do velório. Cheguei em um gramado, e nele havia uma lápide que me chamou atenção. Tinha a foto de Fred.
Frederico Cavalcante
Nascimento: 03/05/1802 Morte: 08/10/1811
Pai: Orlando Cavalcante
Mãe: Elizabeth Barros CavalcanteEntão é isso! Fred era como eu! Uma criança, então o papai do Céu deve ter mandado ele para me proteger. Acho que ele ia me dizer que não era um anjo. Será que era isso que ele queria me contar?!
- ACHEI!!! - Gabi gritou atrás de mim, me assustando.
- Aaaaaah! - gritei com o susto.
- O que você estava olhando aí? - ela perguntou esticando o pescoço para ver a lápide de Fred.
- A foto desse menino.
- Ah. Toda vez que eu passo por aqui para ir à escola tem uma mulher sentada abraçada nessa lápide, ela sempre está falando sozinha. Minha mãe disse que não vê ninguém, mas eu não sou louca, eu vejo. - ela disse, me deixando desconfiada e curiosa para descobrir sobre o passado de Fred.
Nem tive tempo de me despedir da minha nova amiga. Pois mamãe havia me encontrado, ela já estava preocupada e me arrastou para dentro do carro. Acenei para Gabi pelo vidro e avistei de longe uma mulher de longos cabelos castanhos abraçada na lápide de Fred. Só pode ser a mulher que Gabi me falou.
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Pessoal, mais uma vez quero pedir desculpas pela demora para postar. Mesmo assim comentem para eu saber a opinião de vocês, e se puderem deixe seu like. Obrigado, amo vocês
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Fred, o Amigo Imaginário
ParanormalApós um acidente de carro, o marido de Maria fica paralítico, para não passar necessidades os dois resolvem voltar à terra natal de Maria, onde sua filha arruma uma espécie de amigo imaginário, a partir daí, coisas estranhas passam a acontecer...