A volta de Fred

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De repente acenderam-se sete velas pretas, separadas em vários cantos da cabana, que era terrivelmente maior por dentro. Eu sempre tive curiosidade de entrar, mamãe sempre me proibira, mas agora o que mais desejo é cair fora daqui!
Olhei em volta, havia muita coisa macabra, sem contar que a cabana era muito gelada.
Quadros de pessoas desconhecidas e alguns ossos espalhados, não sei dizer se era de algum animal ou de gente, espero sinceramente que sejam de animais, livros de magia negra empilhados em uma prateleira e uma pequena porta, nela, uma figura parada a me vigiar...

- Q... Quem é vo.. Você? - perguntei chorando, encolhida em um canto

- Não me reconhece, querida Clara? Eu sou Fred! - disse com uma voz completamente rouca e grave

Neste momento pequenos flashbacks passaram em minha memória, o amigo imaginário realmente existe, não é possível que eu esteja pirando, todos esses anos de tratamento não adiantaram nada? E agora, o que deseja de mim?

- Por que o silêncio pequenina?! - disse agora se aproximando, era a mesma figura com quem eu brincava na infância, cabelos loiros, olhos amarelados e palidez profunda. Inconfundível!

Fred sentou-se ligeiramente em minha frente, e passou a secar minhas lágrimas com suas pequenas mãos, sua face demonstrava tremenda maldade, não sei como pude ser tão ingênua, agora tenho certeza, ele é realmente um demônio! Agora entendo todas as perseguições, vultos e presenças que senti durante todo esse tempo, nunca foram crises psicológicas, sempre foi real. E agora? O que faço? Será que ele quer minha alma? Meu Deus, por favor me ajude!

- Não adianta chamar Deus, querida! Deus não entra na casa do Diabo. - disse agora com uma voz incrivelmente doce, capaz de enganar qualquer ser humano. Neste momento meu corpo todo se arrepiou, o que vou fazer? Ele sabe o que estou pensando!

Fred simplesmente levantou-se e deu cerca de quatro passos à frente, virando-se de costas para mim. Usava uma camiseta velha e suja, e vi com meus próprios olhos quando ela rasgou-se e de sua própria carne, de dentro de suas costas, surgiram um par de asas negras. Asas negras...asas negras... É claro! Já vi essas asas, não são nenhuma surpresa para mim, ele mesmo me mostrou há muito tempo atrás.
Depois, Fred virou-se para mim, parecia mais leve, mais calmo.

- Agora você deita aqui! - disse rígido, apontando para um círculo com uma estrela de cinco pontas no meio, feito de um pó que não descobri o que era. Não me lembro de ter visto essa estrela até agora, talvez porque estivesse apavorada. Chegou a ser engraçado, um garotinho tão baixinho querendo me dar ordens.

- Não quero me deitar. - eu disse tentando parecer corajosa, mas acho que não consegui.

- Eu não perguntei o que você quer, mandei deitar! -ele respondeu com a mesma voz grossa de antes, e parecia zangado. Antes que eu pudesse reagir, meu corpo simplesmente foi arremessado no chão, exatamente dentro do círculo, me causando muita dor, talvez eu tenha quebrado algum osso.

Gritei desesperada, e em questão de segundos meu corpo não respondia mais meus comandos, permaneceu paralisado, e até minha voz desapareceu. Senti apenas as lágrimas escorrendo novamente pelo meu rosto. Fred transformou-se em algo irreconhecível, uma criatura horrenda, com chifres enormes, rosto semelhante à um bode, uma enorme calda, e pelos e escamas espalhados pelo enorme corpo.
Não tive tempo de detalhar muitas características, ele simplesmente subiu em cima de mim e começou a arrancar minhas roupas, eu não tinha escolha a não ser permanecer ali, paralisada, apavorada, completamente nua.

- Eu disse que um dia te ensinaria, pequena. Você lembra? - disse com a mesma voz, grossa e rouca. Analisando meu seio nú. Desceu o olhar analisando cada centímetro do meu corpo, estava prestes a me penetrar, ou seja, cometer o crime que eu mais temia, o estupro, mas parou, sua face horrível pareceu estar completamente louca de ódio. - Sua VADIA, eu deveria ser o primeiro!!! VAGABUNDA! VAGABUNDA! Você deveria ser pura! - gritou atormentado, provavelmente percebeu que eu não era mais virgem.

Fred, ou sei lá o que era aquela coisa começou a estapear minha face, sua mão pesava sobre minhas bochechas, que ardiam e sangravam. Levantou-se e pegou algo em cima de uma mesa velha de madeira, parecia um chicote, assoprou a ponta e nela surgiu fogo, depois começou a me chicotear, minha pele rasgava a cada golpe. Tudo começou girar, a ficar embaçado, e finalmente apaguei, ainda recebendo chicotadas. Seria o meu fim?

Maria- narração

Finalmente cheguei em casa após tirar todo aquele arame farpado e comprar pneus novos, é muita maldade um ser humano deixar arames para prejudicar os outros.
Já são seis e quinze, Clara deve estar preocupada.

- Clara!? Filha, cheguei! - gritei entrando em casa. Estranho. A porta e o portão estavam escancarados e no chão pequenas marcas de sangue, como se alguém tivesse sido arrastado de lá ou até lá.

À esse ponto eu já estava preocupada, procurei Clara pela casa inteira, as marcas iam até próximo à cabana, paravam em uma árvore antiga. Pensei em entrar, mas a coragem não me permitiu, lembranças me remoíam por dentro.
Entrei novamente em casa, pensei em chamar a polícia, mas eles só procurariam após 24 horas do desaparecimento. Tinha algo diferente, ou talvez eu não tivesse reparado antes... A porta do sótão estava aberta, e a madeira da escada raspada propositalmente, estou com medo, não sei o porquê.

Subi cada degrau vagarosamente, atenta a qualquer barulho, a madeira raspada rangia a cada novo passo, lá em cima estava escuro, liguei a lanterna do meu celular, para minha sorte a bateria estava totalmente carregada, andei até a parede esquerda, onde ficavam as ferramentas de Armando, sinto tanto sua falta, no chão havia sangue seco, parecia ser de muito tempo atrás, estava embaixo de uma cômoda velha, mas uma parte estava visível, parecia, não sei, talvez vômito... Olhei para cima, na parede, com sangue fresco escorrendo estava escrito " Boa Noite Mamãe ". Fiquei completamente aterrorizada, não sabia se saia correndo escada abaixo ou ficava imóvel, desejando que tudo isso seja um pesadelo. Acabei inconscientemente optando pela segunda opção, meu corpo ficou plantado no chão quando pensei em correr.

Meu celular, que estava carregado, passou a descarregar rapidamente, vi com meus próprios olhos, a bateria descarregar por completo, acabei ficando no escuro, não estava completamente nas trevas, pois atrás de mim senti algo luminoso e quente.
Senti uma respiração forte em minhas costas, automaticamente me virei, era Clara, segurava uma lamparina, estava horrível, toda suja, rosto sangrando e corpo totalmente cortado, cortes tão profundos que não sei como ela estava de pé.

- Filha! Graças a Deus! Onde você estava?! - eu disse abraçando-a - O que aconteceu com você?

Ela simplesmente me jogou no chão com uma força sobrenatural, estava tão estranha, seus olhos não eram mais azuis, e sim amarelados.
Sua cabeça deu um giro completo e parou olhando para mim. Segurei meu terço que estava pendurado em meu pescoço e comecei a rezar em pensamento. O que está acontecendo?

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2016 ⏰

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Fred, o Amigo ImaginárioOnde histórias criam vida. Descubra agora