Pânico

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Eu precisava saber se realmente estava enlouquecendo, minha mente não aguenta mais. O que é real? Eu não sei.
Mamãe me chamou para almoçar, tirando-me de meus pensamentos. Almocei calada, fazendo charminho para poder ir ao cemitério, sim, sempre fui mimada desse jeito, e é assim que consigo o que quero. Por exemplo quando vou ao mercado e quero algo que meus pais(quando papai era vivo) não queriam comprar eu fazia birra, não à ponto de me jogar no chão e espernear como muitas crianças fazem, sério, acho isso ridículo! Mas sou muito mais inteligente, não preciso me rebaixar à esse nível, prefiro fazer jogos psicológicos.

- Tudo bem, nós vamos ao cemitério, agora pare de fazer essa cara de enterro! - mamãe disse, ou seja, eu venci novamente! Que ironia, cemitério e enterro na mesma frase...

- Eba, mamãe! Eu te amo! - eu disse depositando um beijo em sua bochecha.

Após o almoço escovei meus dentes e cabelo. Mamãe trocou de roupa e entramos no carro rumo ao cemitério. Acho que o universo está conspirando à meu favor.

- Nossa, a gasolina está acabando! - retiro o que eu disse anteriormente!

- Não acredito, mamãe!

Felizmente tivemos tempo de chegar ao posto. Enquanto mamãe abastecia o carro posso jurar que vi uma sombra masculina atrás dela. Para com isso, Clara! Isso deve ser coisa da minha cabeça!
Seguimos para o cemitério sem paradas dessa vez. Mamãe estacionou o carro em frente ao portão, acho que não vou entrar sozinha '-'
Entramos juntas, droga! Preciso dar um jeito de ficar sozinha lá nem que seja por cinco minutos, senão mamãe vai descobrir tudo...

Não teve jeito, mamãe estava decidida a entrar comigo. Entramos juntas e eu fingi algumas lágrimas e disse que estava com saudades, até que sinto sua falta, mas Fred me disse que papai era um idiota e que eu não deveria sentir falta dele.
Falando em Fred...

- Mamãe... deixa eu ficar aqui sozinha um pouquinho, por favor? - eu disse fazendo cara de criança inocente

- Eu não entendo sua vontade de ficar em um cemitério sozinha todas as vezes que viemos aqui, mas tudo bem... - ela disse se retirando e indo sentar-se no carro.

Desci rapidamente o gramado, chegando na área afastada, onde a lápide estava, eu realmente não entendo o porquê de Fred ser o único enterrado ali, ele deve ter sido uma pessoa muito importante. Fui me aproximando e pude ver com nitidez a mulher de cabelos longos, não me atrevi a chegar perto, ela me dá medo.

- EI! - gritei de longe, e ela virou-se no mesmo instante, sua aparência é terrivelmente horrível. - Onde está Fred?

- ECCE ENIM IN INFERNO! - ela disse girando a cabeça em um ângulo de 360°. Nem preciso dizer que saí correndo de lá, não é?

Corri ainda com as pernas trêmulas e entrei rapidamente no banco de trás do carro.

- Filha, que susto! O que aconteceu? - mamãe perguntou assustada, mas eu não estava em condições de explicar.

- Vamos embora! Ela vai me pegar! Ela tá vindo? - eu disse apavorada

- Do que você está falando? - mamãe perguntou acelerando

- FODA-SE! - gritei por impulso, fazendo com que mamãe se calasse e me olhasse assustada por dez intermináveis segundos, depois voltou o olhar assustado para a estrada.

Chegando em casa corri para o meu quarto e mamãe veio atrás de mim, é hoje que eu levo!

- Clara! Volte já aqui! Com quem você aprendeu a falar assim?! O Que aconteceu? Você tinha parado com isso! - ela dava gritos ensurdecedores.

Quando eu ia pensar em responder o telefone tocou (obrigado Deus), fazendo com que mamãe corresse para atender, mas antes ela fez questão de me fuzilar com os olhos.

- Alô! - mamãe estava na sala atendendo o telefone e eu estava me preparando em uma boa posição para ouvir toda a conversa, que coisa feia, Clara! Haha. - Sim, sou eu... do hospital?... ela acordou, ah! Sim, que coisa boa!... estou indo avisar sua família agora mesmo, tchau! - fiquei raciocinando para entender qual o assunto... Bingo! Estão falando de Sandra, é claro! Ela acordou!

Mamãe foi rapidamente até a fazenda ao lado avisar sobre a grande notícia, eu particularmente tinha até me esquecido da existência da minha babá, finalmente, achei que ela já tinha batido as botas!

Escutei um pequeno estalo vindo do sótão e já entrei em estado de pânico, estou sozinha em casa, isso não é bom!
Eu estava completamente imóvel no meio da sala, senti uma respiração pesada nas minhas costas e me virei rapidamente já com lágrimas nos olhos, meu Deus me proteja! Nunca te pedi nada!
Quando finalmente consegui correr e tentei subir no sofá alguma coisa puxou meu pé fazendo com que eu caísse no chão e me arrastou ferozmente até a escada do sótão.

- MAMÃE! Não! Socorro! - gritei o máximo que pude. - Me solta em nome de Jesus! - gritei, após essa frase, o suposto fantasma me soltou e eu corri tropeçando e me arrastando até lá fora, quando finalmente caí na estrada de pedras.

Vi alguém se aproximando mas tapei meus olhos com medo da visão que teria...

Fred, o Amigo ImaginárioOnde histórias criam vida. Descubra agora