Capítulo 4

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O homem do chapéu guardou a arma no cós da calça e voltou para a van.

- Coloquem o garoto lá atrás. Podem deixar o outro - ordenou para o motorista e um outro homem na caçamba do veículo. - Rápido, seus palermas, antes que alguém passe aqui.

Os homens saíram do veículo, obedientes, e foram cuidar dos corpos inertes enquanto o homem do chapéu pegou um telefone celular e iniciou uma chamada.

- Sou eu. Sim. Podem fazer a ligação.

Desligou o celular e voltou para dentro da van, tamborilando os dedos no painel engordurado. Estava tudo dando certo. Até agora.


*


- Falta evidência, Jones! Pelo amor de Deus, como você espera conseguir um mandato com um arquivo incompleto desse jeito? - Liam já estava alterando seu tom de voz ao telefone. A incompetência alheia o irritava profundamente. Teria de reportar a indiferença de Jones ao Capitão McCluskey. O lugar dele era controlando tráfego, não investigando na Narcóticos. Mais algumas repreensões e Liam bateu o telefone. A cabeça vibrava pelas horas interruptas de trabalho, nenhuma comida e muito stress. Isso não era saudável para alguém de 22 anos. Não era mesmo.

Ele apoiou os cotovelos na escrivaninha entulhada de papel e enterrou o rosto nas mãos, massageando as têmporas inutilmente. A camisa branca já estava amassada, as mangas dobradas até a parte superior dos antebraços, exibindo a pele muito pálida. A gravata frouxa e o cabelo despenteado completavam a aparência péssima de Liam. E o capitão notou isso quando abriu a porta de sua sala sem bater.

- Payne! São sete e meia da noite, seu expediente acabou. Vá pagar um drink à uma bela moça! Saia desse lugar horrível. Olhe só pra você! - o capitão começava a falar e não tinha freio, mas Liam aprendera a interrompê-lo sem ser rude.

- Capitão, Stuart Jones está tentando conseguir um mandato contra Ribanez no meu caso da família colombiana, mas ele ainda não viu dinheiro algum e nem cheiro do pó. Por favor, não dê o mandato a ele, estragará toda minha investigação.

- Não entregarei se você estiver fora desse escritório em cinco minutos.

Liam suspirou.

- Capitão, sinceramente, eu não tenho nada pra fazer em casa. Aqui eu posso ser útil e...

- Cinco minutos ou mando sua investigação pelos ares! - e saiu, fechando a porta sem gentilezas.

Ele sabia que o capitão não arruinaria seu trabalho, mas não queria arriscar a ira de um superior. Levantou-se lentamente e se espreguiçou, sentindo todos os ossos de sua coluna estalarem sonoramente. Sophia detestava que ele fizesse isso; "te faz mal e me dá arrepios", dizia ela. Mas ela não estava ali para brigar com ele. Infelizmente.

Liam se inclinou pra frente para pegar o paletó pendurado numa pilha de arquivos do outro lado da cadeira, e quase caiu de susto quando a porta se abriu novamente, dessa vez de uma forma mais abrupta. Era o Capitão McCluskey de novo.

- Já estou indo, chefe...

- Esquece, Liam. Houve um homicídio. Preciso que você assuma esse por hoje.

- Homicídio?

- Infelizmente - o Capitão baixou a cabeça. - Um garoto novo, mais novo que você. Na saída para Leeds.

- Capitão... eu não sei. O senhor sabe que não gosto de homicídios... essa é a área de Louis.

- Bem, Tomlinson entrou de férias hoje e não tenho ninguém competente para substituí-lo ainda. Só por hoje, Liam. Vamos - era mais um pedido que uma ordem.

- Certo.. Certo - não protestou mais, apesar de estar lamentando cada passo que dava para fora do escritório.

Foi sozinho em seu próprio carro. Detestava homicídios... ainda mais depois de toda sua tragédia pessoal. Mas havia pessoas precisando dele, e ele não iria negar ajuda àqueles que precisavam dela. Alguém havia morrido, e ele sabia a dor que isso trazia à vida de alguém. Queria ajudar a pegar o responsável por tal atrocidade - já que não conseguiu encontrar aquele que tirou a vida de sua mulher e seu filho.

A noite estava gelada, os primeiros sinais do inverno se aproximando, e Liam aumentou a velocidade do carro, sentindo o vento em seu rosto e apreciando a sensação. Levou menos de meia hora para avistar as sirenes concentradas num lugar isolado da estrada. Parou o carro bem perto, e assim que desceu um oficial veio falar com ele.

- Investigador Payne? Sou o Tenente Duff. Temos aqui o corpo de um rapaz de 19 anos, filho de um magnata da cidade.

E o estômago de Liam gelou.


*


Zayn voltou à consciência lentamente. Sentia dores em seu corpo. Todo ele. Especialmente na nuca e nos pulsos fortemente amarrados às suas costas. Fez menção de se mover e sentiu a forte caimbra nas pernas também amarradas.

Sentia frio, muito frio. Não demorou a notar que estava sem roupas, apenas a boxer tinha sido deixada em seu corpo machucado. E estava completamente no escuro, desarmado e indefeso, sem poder sequer ver o local onde estava. Mas, apesar de não vê-lo, podia cheirá-lo, e o odor era horrível. Ouvia guinchos de ratos muito perto de seu rosto, mas não tinha energia sequer de franzir a testa.

Sabia claramente do que se tratava. Fora sequestrado. Por pessoas realmente nada gentis.

Pensou se os pais teriam recebido algum bilhete... quanto tempo demoraria até alguém vir tira-lo dali. Se iriam machucá-lo. Se iria sobreviver. Se iriam sentir sua falta. Se sua mãe iria derramar uma lágrima de agonia. Se iria rever sua família algum dia. Se iria morrer sem ter encontrado amor.

Não tinha as respostas. Ansiava por elas, ardia por elas. Gritou por socorro uma vez. Não houve resposta. Ele sabia que não haveria: eles viriam na hora em que quisessem.

O pânico tomou conta de Zayn. Estava, total e completamente, sozinho.


You're Eternal » ziamOnde histórias criam vida. Descubra agora