Capítulo 1

6.5K 362 426
                                    


23 de Outubro.


- Já disse. Estou ótimo. Estou só cumprindo ordens do meu superior.

- O fato de que você nega seus problemas, senhor Payne, é o principal indicador de que você não está bem.

Liam bufou de raiva e encarou a mesa. Deu de ombros, parecendo conformar-se.

- Ótimo. Então eu fico até o final. Mas não vou ficar tagarelando, tudo bem? Você não entenderia mesmo.

A mulher do outro lado da mesa descruzou e cruzou as pernas novamente. Tirou os óculos sofisticados, deixando livre o belo rosto imponente. Os imensos olhos negros dela fascinavam Liam, de fato. Não era comum encontrar uma pessoa com um olhar interessante. Mas mesmo assim, os olhos dela eram mortos: assassinados pela rotina de ouvir pacientemente os problemas de pessoas problemáticas e enfadonhas. Liam não seria mais uma delas.

- Senhor Payne. Enquanto o senhor não se abrir, continuará tendo essa vida patética que está vivendo. Vai sair desse consultório, pegar seu carro familiar de classe média e voltar para uma casa vazia. Sim, não há ninguém lá, Liam, porque Sophia está morta. Mas você evita lidar com isso, então intoxica seu corpo com álcool e pílulas - as quais eu sinceramente não sei como você consegue. E você pratica seu ritual nostálgico diariamente, não é mesmo? Vivendo da sombra do passado, e se enterrando em trabalho para ocupar sua mente o suficiente para impedi-lo de pensar nela. Afogando-se na mediocridade. Diga-me, Liam, você visita o túmulo dela? Acho que não. É difícil, não é? É sim. Então, acho que eu entendo muito bem o que está acontecendo. E você está com problemas. E não quer sair deles.


When everyone's too scared to walk in your shoes, but can work up the nerve to be critics


Ele já não estava mais calmo. A pele se tornara de um vermelho forte, e ele respirava com dificuldade. Apontou o dedo para a Dra. Anya.

- Você não fale mais sobre Sophia! - gritou furioso, pequenas gotas de saliva sendo violentamente expulsas de sua boca e arremessando-se na direção da psicóloga.

- Não falarei, você o fará.

- Engano seu. Estou indo embora!

- Pode ir, querido, a sessão está acabada. Tive o progresso que queria por hoje.

Ele levantou-se violentamente, fazendo a cadeira estofada cair pra trás sobre o carpete salmão. Seu casaco, que estivera pendurado no espaldar da cadeira, ficou preso, e ele sentiu-se enrubescer ao lutar contra as pernas retorcidas que se prendiam às mangas de sua roupa com teimosia.

- Quer ajuda? - perguntou a Dra. Anya sarcasticamente. Ele não respondeu, apenas pegou seu casaco e nem se deu ao trabalho de levantar a cadeira antes de se encaminhar para a porta do escritório. - Não esqueça seu dever de casa! - ela gritou antes de ele bater a porta violentamente.

"Dever de casa, blá blá blá, que se foda aquele diário", pensou ele irritado, pisando forte à caminho do carro. Por mais que as palavras da doutora o tivessem irritado, ele sabia: eram verdadeiras. Desde que Sophia morrera Liam não era mais o mesmo. Antes da tragédia, ele era um jovem com um futuro brilhante, uma mente brilhante e olhos brilhantes. Agora, toda sua vida era cinza. E por mais que ele estivesse fazendo seu trabalho melhor do que nunca, seu chefe o obrigou a comparecer às sessões.


You were a star when you started, so bright out and ready, but now you just can't seem to shine

You're Eternal » ziamOnde histórias criam vida. Descubra agora