Capítulo Trinta e Seis

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Abri o diário de minha mãe e me sentei na cama para lê-lo.

" Janeiro de 1988

É uma menina! Tão linda quanto o pai e muito parecida comigo, segundo Clark. Seus olhos são extremamente claros e muitos parecidos com os do irmão. Se chamará Charlotte, que na minha opinião é nome de princesa. E claro, ela é uma em nossas vidas.
Assim que contamos para a família que estávamos grávidos novamente, eles aceitaram muito bem, só ficaram um pouco assustados.
Minha cunhada resolveu ter outro filho também. Já disse que é coincidência? Acredito que já!
Não sei o que ela vê em mim para me odiar tanto. Eu não a conhecia até o dia em que meu cunhado nos apresentou. De início eu achei ela uma boa pessoa, mas logo que nos conhecemos bem, ela nunca mais foi legal comigo. Sinto muito pelo Pablo tê-la nos apresentado. Sinto muito por tudo o que aconteceu. Acredite diário, eu nunca quis que nada de ruim acontecesse entre nós ou eles."

Agora sei o que mamãe deve ter passado ao lado daquela mulher. Se ela já era sim, imagina o que realmente pode ter acontecido.
Peguei outro caderno dentro da gaveta do criado mudo e o intitulei como" Diário de Charlotte Davis." Seis páginas foram o suficiente para escrever o começo de minha história, contando todo o ocorrido desde o momento em que fui para o meu primeiro orfanato. Foi estranho relatar tudo o que aconteceu comigo durante todo esse tempo em um simples caderno. Dizem que os cadernos diários, são uma forma da pessoa aliviar toda sua agonia que está presa dentro de si. 

Eu até concordo. 

Guardei o mesmo de volta no seu lugar e caminhei até a banheira, despindo-me e entrando na água quente. 

— Você gosta? — dei um sorriso e passei minha mão na protuberância que já era minha barriga — Mamãe também adora água quente. — ela deu mais um chute em resposta, arranco suspiros de mim. Aquela pequena criança, já me trazia tanta alegria dentro da barriga, imagina quando estiver fora dela. — Vou cantar pra você. 

Me ajeitei melhor no mármore branco e passei as mãos no meu cabelo, olhando para o teto. 

Essa é uma velha história

De uma flor e um beija-flor

Que conheceram o amor

Em uma noite fria de outono 

E as folhas caídas no chão

da estação que não tem cor 

E a flor conhece o beija-flor

E ele lhe apresenta o amor

E diz que o frio é uma fase ruim 

Que ela era a flor mais linda do jardim

E a única que suportou 

Merece conhecer o amor e todo seu calor. 

Ai que saudade de um beija-flor 

Que me beijou depois voou

Pra longe demais 

Pra longe demais

Saudade de um beija-flor

Dupla Identidade (Readaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora