O Anônimo

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Caminhei em silêncio, retornando ao centro da sala, a curiosidade estava me aguçando para tocar a maçaneta da porta, mas estava com receio de encontrar aquela suposta pessoa do lado de fora. Queria abrir a cortina e observar a rua, Taylor e sua tia não devem ter ido muito longe, mas o medo da escuridão estava me consumindo. O bairro estava com falta de energia, só para complicar tudo, então tive muita dificuldade tentando enxergar. Meu celular estava descarregado, imediatamente avistei uma estante ao meu lado com vários fios de carregadores, então peguei um com o formato ideal de meu celular, e encachei no interruptor, mas no mesmo instante lembrei que ele não iria carregar sem energia, fui impedida de ligar a eles por esse motivo... Arranquei o fio com raiva, e o joguei em cima do sofá.
Acendi a lareira na tentativa de iluminar o cômodo, e me sentei em frente dela, me aquecendo. Escutei um "Shi" vindo da escada, possivelmente me chamando, e após disso uma canção infantil, para dormir, choros de um bebê agonizado... olhei imediatamente, em seguida, senti a presença de alguém ao meu lado, e para agonizar ainda mais, o fogo da lareira apagou, deixando apenas o cheiro... Tudo retornou a ficar escuro como estava, e eu não conseguia ver praticamente nada. Levantei assustada, dizendo:

-Quem está aí? O que quer?

-Shiii. -Sussurrou o ser anônimo.
-Responda! -Ordenei, olhando para a escada.

Nenhuma palavra, nenhuma resposta, nenhum movimento, tudo ficou quieto... de repente o silêncio rompeu-se... uma forte luz quase cegou meus olhos... era uma lanterna, sendo segurada por um alguém que permanecia em pé diante da escada, era alto, magro... Conforme o ser descia cada degrau, eu me afastava, até que não havia mais para onde ir, já estava encostada na parede... ele vinha, sorrindo, dando uma risada sinistra, até que me senti pressionada a atacar, olhei depressa e um vaso de porcelana foi meu único alvo naquele momento, o atirei no ser, que invés de se machucar ou cair, atirou o vaso contra mim, cortando meu braço... Ele se sentiu ameaçado e correu em minha direção, ele me perseguia enquanto eu corria e dava voltas pela mesa de centro, mas o que me surpreendeu mesmo, foi ele começar a escalar as paredes, se encolhendo no canto do teto. Pensei que o mesmo iria desistir, mas ao soltar um único soluço, o ser anônimo saltou em cima de mim, passando seus dedos grossos e nojentos em meu queixo. Gritei, sem atitude, e me arrastei a porta de entrada, mas ao levantar minha face, vi que a porta estava aberta... Do lado de fora davam muitos trovões, e havia vários casais alegres que dançavam por ali... Sim, estava ocorrendo uma festa justo no bairro. Levantei depressa, e sai para a rua, tranquei o ser lá dentro, mas depois de um tempo lembrei que a janela do andar de cima havia ficado aberta... já era tarde, eu não iria voltar por nada só para fechar uma janela.
Desesperada, corri o máximo que pude, tive que cortar caminho pela festa, não havia outro rumo, então sai esbarrando de pessoa em pessoa, e só os escutava reclamando pela minha falta de comportamento. Uma moça jovem, foi outra a ser atingida por mim, notei suas expressões de desconfiada, mas não cogitei a voltar atrás. A mesma me puxou, e começou a questionar:

-O que está acontecendo? Você está bem? Anda, me diga! O que aconteceu? Qual o motivo de tanto alvoroço?

-Uma pergunta de cada vez, por favor. -Pedi, ainda tomando fôlego para responder cada pergunta.

-Então... poderia me responder agora? Tente se acalmar! -A moça perguntou.

-Eu estava lá dentro, e um anônimo queria me matar, e estava fazendo de tudo, consegui escapar por pouco, então por favor, me ajuda, me diga algum caminho seguro? -Pedi, aflita.

-Hum... -Murmurou a jovem colocando a mão sobre a testa, pensando em uma resposta para dar.

-E então...? -Perguntei.

-Eu te dou uma carona, vamos até meu carro, levo você a algum lugar. -Ela deu a sugestão, já puxando minha mão, me levando até o carro.

Entramos dentro do carro, fiquei ao lado dela, ela iria dirigir, mas antes de tudo, expliquei detalhadamente o que havia acontecido comigo, no mesmo momento que ela iria ligar o carro, gritos foram ouvidos, choros, barulhos esquisitos e atormentadores, olhei para trás, pela janela traseira do carro, e vi pessoas correndo eufóricas, cada um tentava fugir de alguma forma... foi aí que vi, era aquele ser, escapou da casa e agora está matando todos, o que vamos fazer? A jovem que me acompanharia até um lugar distante e seguro, assustada com o tumulto, pisou forte no freio, mas o carro não se movimentou, daí percebemos... O pneu furou!

-Oh não, o pneu está furado! E agora? -Ela gritou aflita.

-Não sei, não, sei, não podemos sair agora. -Gritei, fechando as janelas.

Já era! Ele começou a saltar nos carros estacionados, os deixando como velhas latarias, estava se aproximando...

The Midnight SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora