Lhe matando por palavras

37 5 2
                                    


   Já é de noite, e não estou mais naquele local, aquela última frase de Taylor ainda me rodeava. Estou caminhando pelas ruas sombrias da cidade, e lembro que não tenho casa, não sei quem é minha verdadeira família, não sei de nada. Sem querer, acabo pegando no sono, ao lado de uma árvore... Esbarro com minha antiga mãe, ela me observa preocupada, e parecia estar assustada e com pressa. Segurou forte em meu rosto e me entrelaçou, deixando suas lágrimas rolarem em minha face. Questiono, me afasto, essa aproximação não é ideal para mim. Mas ela recusa, e volta a me tocar. Disse que precisava urgentemente conversar comigo, e que estou em perigo. Confusa, a sigo até sua moradia, e dou de cara com meu antigo pai, com Taylor, e uma grande parte de minha antiga família. Estranho, pois não é um evento comum todos eles estarem reunidos, o que estaria por atrás de tudo?

   Estou meio desnorteada, olhando constantemente cada um deles, notando cada expressão, cada atitude, cada passo... Levam-me para dentro, e quando menos espero já estou sentada no sofá da sala, Taylor está ao meu lado, e meus "pais" de frente para mim, e o resto deles em pé, ou fazendo outras coisas. Antes de qualquer palavra, foi feito um suspense, um drama, todos encarando-me, pareciam receosos, ou talvez... Espantados!

   Exijo logo que contem o que estará acontecendo. Taylor segura em minha mão, e quando aparentemente iria abrir sua boca e começar a dizer, as luzes de repente, apagaram-se. Não movimento nenhuma parte de meu corpo, nem sequer nenhum deles. Um vulto passa em nossa frente, sinto o ambiente ficar quente e quando finalmente tudo parecia normal, me deparo com praticamente todos jogados no chão, ensanguentados e pálidos, feito... Mortos.

   Desesperada, começo a me debater rapidamente, e já soluçava de tanto chorar, caio de joelhos em cima dele... Tão branco, tão pálido, tão sem vida... Estava sozinha ali, observando cada um, sinto algo sendo enfiado em meu peito, minha respiração falha, minha visão embaça e sinto estar sendo sufocada por alguém, só não sei quem... Bato em meu rosto depressa, e ao abrir meus olhos me deparo ainda deitada naquele chão duro, embaixo da mesma árvore, quer dizer que aquilo tudo era um pesadelo? Será um aviso?

   Ainda era praticamente madrugada, me levanto e começo a andar sem um rumo definido, meu celular toca, um número desconhecido, atendo e risadas sinistras são ouvidas, assustada, pergunto imediatamente quem é, e o que queres:

-Quem é? O que deseja?

-Hahahaha... Melissa? Aqui sou eu, Jones, por favor, venha até aqui, estou correndo perigo, minha casa está em chamas, ainda sabe o endereço não? me ajuda, lembre-se do que já fiz por ti! –Ele responde.

   Desesperada, deixo o celular cair, e quando vou pegar, vejo que a bateria sumiu durante a queda, o que adiantaria? Pego o celular, e o guardo no bolso. Corro depressa, indo até a casa de Jones. Quando chego lá, vejo que a porta está meio aberta, mas quando entro, não vejo nenhuma fumaça, ou nenhum sequer, rastro de fogo. Indecisa, continuo caminhando entre os cômodos, e ouço a voz dele, falha e rouca, caminho em direção da voz, e acabo sendo levada ao porão da casa, que nem sabia da existência. Abro a pequena portinha, e desço devagar a escada. Quando estou em solo firme, observo o local atentamente, poeira, teias de aranhas, insetos pegajosos, móveis antigos e mofados, goteiras por todo canto. Um lugar escuro e um tanto assombroso.

-Jones? –Sussurro, enquanto ainda observava os detalhes.

   Nenhuma palavra foi dita, isso me fez ficar um pouco perturbada. Continuo ali, encarando os armários, quando noto que a porta de um deles está levemente aberta, curiosa, caminho devagar até lá, abaixo, e me deparo com um papel aparentemente antigo e amarelado, com desenhos estranhos e escrituras em línguas diferentes, coisas que não consegui decifrar. Logo em cima, com letras grandes e destacadas, dizia:

"Killing you by words" Traduzindo: "Lhe matando por palavras" Ou algo relacionado a isso. Assustada, largo a folha onde achei e me vejo tremendo. Sinto uma presença próxima, mas eu era única no local, a não ser que Jones esteja escondido por ali... Sinto meus cabelos sendo puxados para trás, uma força anormal. Viro-me depressa e dou de frente para alguém sentado em uma cadeira, coberto por um lençol branco, encobrindo sua face. Confusa, me afasto devagar, até que acabo batendo nos armários atrás de mim. Tento voltar, mas vejo que a porta de saída havia simplesmente sumido. Daí caiu a fixa, aquele era apenas ele fazendo gracinha. Me aproximo, e irônica digo:

-Engraçadinho! Eu sei que é você! Saia daí Jones.

   Puxo o lençol em que o cobria, e acabo me assustando... Exatamente nada estava por baixo dele. Sinto que estou em perigo, e então retorno para trás depressa e me seguro forte no armário. Observo cada movimento estranho atentamente, até que de repente ouço um grito fino e ensurdecedor, tampo os ouvidos, e fecho os olhos. Sinto um impacto forte em meu corpo, e ao abrir os olhos vejo uma garota bem em minha frente, me pressionando contra aquele armário, me esmagando contra ele. Ela sorria maleficamente e dava gargalhadas sinistras, tento escapar, mas ela me agarra com força e me impede de fugir.

-Eu disse que pagaria pelo que fez, um dia, e agora estou cobrando. –Ela sussurra enquanto massageia meus cabelos.

-Quem é você? O que fez com Jones? Me solta! –Respondo enquanto tento me soltar, mas a força dela era bem maior que a minha.

-Jones? hahaha, como você é ingênua. Aquilo foi só um truque, para pegar minha preza. Sou a menina que em tempos passados foi sua amiga, mas foi levemente traída por você. –Ela respondeu enquanto me encarava.

   Milhares de pessoas se passaram por minha cabeça, mas a única em uma situação parecida era ela, mas não poderia ser... Ela morreu! Além de estar diferente. Seus cabelos estavam totalmente azuis, e seus olhos estavam vermelhos, será que realmente era uma... Vampira?

-Não pode ser, você está inventando, está simulando ser uma pessoa morta. -Respondo.

-Haha! 50% morta, mas os outros 40% viva, e os 10% restantes, com vontade de me vingar de você. -Ela sussurra.

   Ela se aproxima ainda mais, e me agarra de frente, fazendo meus ossos baterem um com os outros. Senti uma dor terrível... Ela segura em meu queixo e abre sua boca enorme, ferozmente me joga em seu colo, e por um impulso, sinto minha vida passando por meus olhos. Grito por socorro, mas tudo parecia distante, cada vez mais distante, estava praticamente perdida em seus braços:

-Shiii! –Ela sussurra enquanto me impede de gritar, colocando seu dedo indicador em meus lábios.

   Um flashback passou em minha mente, e quando finalmente cai na real, olho para ela e tenho certeza... Era ela realmente!

-Já te disse um trilhão de vezes! Não sou culpada. –Digo, e ela balança a cabeça negativamente.

-Pode até não ser, mas me matou, cometeu um crime. Não se lembra? Me fez perder a cabeça, ou melhor, me empurrou me fazendo bater naquela maldita rocha, me fazendo morrer instantaneamente... –Ela relembrou, enquanto me olhava com desejos.

-Isso não justifica! Você procurou, meteu uma pessoa inocente no meio, tive que me defender. –Digo irritada, enquanto a olhava com menosprezo.

-E por causa dessa sua defesa desnecessária, terei que lhe fazer sentir, o que eu senti... Naquela tarde. –Ela sussurrou, sorrindo maliciosamente.

   Me prendeu em seus braços, e com força me empurrou, me fazendo cair e bater com força minha cabeça naquele armário. Senti tanta dor, que meus olhos até lacrimejavam. Ela ria de satisfação. E eu apenas verificava minhas mãos, cheias de sangue. Quando a garota viu, sentiu-se atraída e se aproximou, agarrou forte minha mão, e esticou meu braço... Estava prestes a me morder, quando por sorte, alguém a puxou pela cabeça e a jogou para o outro lado da sala. Desesperada, observo, e a vejo caída no chão, sem sua cabeça. Nunca iria adivinhar, que uma garotinha, pequena como aquela, pudesse me salvar... Algum dia...

The Midnight SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora