Companheira peculiar

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Jones

   Resolvi me afastar de tudo, estes problemas estão me trazendo dor de cabeça. Tudo que quero é voltar para minha casa, para minha sala, minha cama, estou com saudade de quando tudo era normal. Depois que conheci Melissa minha vida virou uma revira volta total, coisas acontecem sem motivos, de uma hora para outra, e não entendo exatamente nada, não sei se sou o burro da história, ou se apenas bastava uma explicação para compreensão.

   Chego em minha casa finalmente, ela ainda estava com a porta aberta desde o dia em que saímos daqui. Provavelmente devem ter entrado aqui, pois a sala está uma zona. Algumas coisas estão fora do lugar, mas nada que uma organização não resolva. Entro, tranco a porta, abro as janelas, pois o calor estava forte. Sento na cadeira da cozinha, e começo a ingerir um suco de laranja gelado, que eu havia comprado antes de chegar aqui. Estava pensativo, refletindo sobre se contava ou não contava para Melissa... Assuntos que não quero compartilhar no momento.

   Enquanto pensava profundamente, uma mão com dedos compridos e frios estendeu-se em meu ombro. Levantei assustado, empurrando a mão para longe de mim. Ao virar-se, levei uma surpresa e tanto. Uma jovem, pálida, de cabelos longos e azuis, estava bem em minha frente, me encarando de uma forma estranha. Me afastei, mas a cada passo que dava para trás, mais ela se aproximava, até que estava bem perto. Não havíamos dito nenhuma palavra ainda, ambos permanecíamos calados. Eu só estava com medo, eu tenho certeza que tranquei a porta, ou estou enlouquecendo? Se bem que ela pode ter pulado a janela, mas isso é meio impossível, pois ela é justa e apertada demais:

-Você é diferente! Diferente de todas minhas vítimas. –Ela sussurrou.

-Vítimas? Do que está falando? –Perguntei, confuso.

-Isso não vem ao caso. –Ela deu uma risada sinistra. –É que só acho que seja impossível te matar, mas você é tão... Suculento! –Ela sussurrou maliciosamente.

-Você está me assuntando! Melhor parar, senão não irei agir por mim. –Eu brevemente passei a mão sobre a arma em meu bolso, ameaçando.

-Ei, não precisa de tanta agressividade. Só quero sentir um pouquinho. Não irá doer nada, prometo. –Ela cochichou em meu ouvido enquanto me rodeava, parecia me cheirar.

-Você é maluca! Dá para parar com esse joguinho? –Pedi, enfurecido.

   Ela praticamente saltou para cima de mim, e começou a massagear meu pescoço, estava me cheirando e rindo, só não estava entendendo o porquê daquilo:

-Eu não consigo! –Ela reclamou, triste.

   Entristecida, sentou-se na cadeira e abaixou sua cabeça. A apoiou em seus braços, e depois não disse mais nada. Me aproximei, tentando ver o que aconteceu, mas sem resultado, apenas escutava um soluço, ela parecia chorar, talvez um choro sem motivo. A tento consolar, toquei em seu braço, e por um instante sinto um choque... Como ela é fria. Afastei-me, e comecei a beber um copo de água, para aliviar o susto:

-Talvez você seja especial demais para morrer tão cedo... –Ela sussurrou me assustando, quando me viro, ela já está em pé novamente, bem ao meu lado.

-Você é esquisita, muda de jeito muito rápido, é tão bipolar. –Digo, enquanto tomo um gole de água.

-Existem razões para estar assim. Fui traída, duas vezes em um só dia. Só eu sei o quanto machucou. Agora não confio em nada, não amo ninguém, eu não tenho sentimentos... –Ela desabafou.

-Talvez eu entenda você. Foram tantas desilusões, tantos erros. Acho que devemos erguer a cabeça e continuar, mesmo sendo algo tão difícil. –Respondi, sincero.

-Você me entende? –Ela duvidou, e brevemente um sorriso apareceu em seu rosto.

-Sim, entendo. –Afirmei.

-Eu tinha certeza! –Ela disse, e sorriu de lado.

-De que? –Perguntei, confuso.

-De que você era único, de que era impossível fazer algo com você. O que está se passando comigo? –Ela se perguntou enquanto morria de preocupação.

   Antes mesmo de lhe responder, fui interrompido por meu celular que começou a tocar. Era Melissa, porque depois de tanto tempo está me ligando?

Ligação on:

-Jones? Por favor, nos ajuda, minha irmã simplesmente desapareceu, não sabemos onde está, saiu de casa faz um tempo, não voltou até agora e não atende o celular. Faz alguma coisa, por favor! –Ela dizia ofegante sem pausas para respiração.

-Melissa? Sua irmã sumiu? Como assim? deixaram aquela criança sair sozinha? Vocês são muito estúpidos. –Respondi, irritado.

-Sim, eu sei, erramos feio. Mas não tenho tempo para discutir, só peço que venha nos ajudar, ou tome alguma providência. –Ela pediu, enquanto chorava.

-Está bem. Mas por favor, diga direito o que aconteceu. –Pedi.

-De acordo com o que meu irmão disse, ela iria para casa de uma amiguinha do colégio, mas ligamos para lá, e a mãe da garota disse que minha irmã não havia passado por lá, é tudo muito confuso! –Ela disse, eufórica.

-Estranho! Como chama sua irmã? –Perguntei, curioso.

-Katheryn, mas a chamamos de Katy para facilitar. –Ela respondeu.

-Ok. Tente se acalmar, irei fazer alguma coisa, até. –Desligo a chamada.

Ligação off

   Começo a andar em círculos pelo cômodo, preocupado. Enquanto a jovem de cabelos azuis me observava:

-O que aconteceu? –Ela tomou atitude perguntando.

-A irmã mais nova de uma conhecida simplesmente desapareceu. Uma garotinha branquinha, de cabelos castanhos, conhece? –Perguntei, nervoso.

-Garotinha branquinha de cabelos castanhos? Meio difícil identificar, existem tantas assim. –Ela afirmou, e de certa forma tinha razão.

-É, de uma certa forma sim. Ela se chama Katheryn ou Katy, tanto faz, tem certeza de que não conhece? –Perguntei novamente.

-N-Não, n-não conheço. –Ela respondeu gaguejando.

-Então ok. Vou ir ajudar, quer vir junto? –Convidei.

-Melhor não. Prefiro ficar aqui. Obrigada. –Ela respondeu com uma expressão um tanto preocupada.

   Já estava prestes a sair quando fui interrompido por risadas. Viro-me e a vejo ainda sentada, virada de lado, parecia rir escondido:

-Do que está rindo? –Perguntei, curioso.

-Hã? N-nada, nada, um vídeo engraçado que vi ontem. –Ela forçou uma risada, mas não acreditei não...

-Certeza?

-Absoluta. –Ela respondeu, e continuou rindo, como se estivesse aprontando algo...


The Midnight SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora