Tempo.
Não tenho noção nenhuma de tempo nesse momento. Não sei por quantas horas dormi, ou por quantas fiquei sem comer. Não sei por quanto tempo a porta continua trancada ou por quanto tempo estou encostada na mesma parede.
De uma coisa eu sei. Sei que eu nunca gostei de florestas, nunca gostei dos mosquitos que sempre me atacavam, nem do som de galhos quebrando. Sempre pensava ser um bicho ou algo do tipo. Mas não, era eu mesma. Pisando neles sem nem perceber. Mas agora percebo. Percebo tudo. O som dos pássaros cantando como se estivesse tudo bem, as folhas caindo das árvores, se preparando para o inverno, como se tudo estivesse em ordem. Não. Não está nada em ordem.
Eu fui sequestrada. Eu fui. Eu.
Mas o mundo não se importa. Pássaro nenhum se importa. Árvore nenhuma jamais vai se importar. Porque, apesar de mim, está tudo em ordem.
De repente, o cantar dos pássaros é interrompido, dando lugar ao barulho do motor da moto de Alex. Ele voltou. Nem percebi que tinha saído. Escuto ele conversar com alguém, provavelmente Jo. Dennis não parece ser muito fã de Alex, mas Jo é. Ela é bem mais que fã, pelo que pude perceber.
Vou até a fresta na parede para tentar ver algo, posicionando meu olho direito. Vejo que estava errada. Jo está ali, mas Dennis também. Os três parecem discutir sobre algo, e ela caminha de um lado para o outro da mesma forma que fez ontem. Ontem? Não tenho certeza.
Alex está encostado em sua moto, com a cabeça baixa. Em toda a minha vida, eu só vi Alex com essa postura uma vez. Foi quando vi ele discutindo com seu pai. Nunca soube o motivo da briga, mas sabia que Alex havia ficado chateado. E sei que ele está chateado agora. O que só pode significar uma coisa: seu plano não está dando certo, e se depender de mim, vai continuar assim.
Alex sai em direção à cabana, deixando Jo e Dennis discutindo sozinhos. A fresta da parede é pequena e não consigo acompanhá-lo, mas não preciso esperar muito para ouvir a tranca do quarto onde estou ser aberta. Volto ao meu posto inicial.
— Oi. — ele diz só com a cabeça para dentro do quarto, como se não falasse com a sua prisioneira.
Não respondo. Ele entra, trazendo consigo um prato.
— Você deve estar com fome. — ele comenta, analisando as migalhas de pão que estão no prato ao meu lado. Eu o esvaziei em algum momento enquanto estava aqui trancada. — Esse aqui tá melhor que o outro — completa, dessa vez olhando para o prato em sua mão.
Ele vem até mim e se senta ao meu lado, colocando o prato em minha frente. Continuo imóvel, observando o pão, que parece fresco e macio. Estou com fome, mas não posso agir como se estivesse tudo bem. Não posso aceitar ser mantida presa, e se isso significa fazer greve de fome, então é exatamente o que vou fazer.
— Fazer greve de fome não vai te tirar daqui, Emma. — Alex diz com um sorrisinho no rosto, como se tivesse lido meus pensamentos. Ele pega um pedaço do pão e o come. — É, com certeza tá melhor que o outro.
Fico olhando para ele, perplexa, enquanto ele mastiga o pequeno pedaço de pão. Como ele consegue fazer isso? Agir como se isso, essa situação, fosse a coisa mais normal do mundo?
— Parece que as coisas não estão indo do jeito que vocês queriam, hã? — digo, tentando soar o mais provocativa possível.
Ele apenas ri do meu comentário.
— As coisas estão indo exatamente como eu imaginei. Mas não quer dizer que eu queira que sejam assim. Isso - ele pausa um instante, observando o quarto ao nosso redor — é apenas a forma que eu encontrei de fazer você enxergar. A sua família...
Eu não o deixo terminar.
— Ah, por favor... Isso é a pior forma de me fazer enxergar qualquer coisa. Você trabalha para a polícia, Alex! Pelo amor de Deus! Como teve coragem de me sequestrar?
— Eu sei que isso parece surreal, mas só assim você vai entender que seu pai é um mentiroso e um assassino.
Fecho os olhos para conter minha raiva.
— O único mentiroso aqui é você — digo, rangendo os dentes. — Lavagem cerebral talvez teria sido um plano melhor para vocês, porque eu não vou acreditar em nada disso. Nunca. Eu sei que você quer descobrir o responsável pelo acidente que matou seu pai, mas culpar o meu não vai adiantar de nada e nem vai trazer ele de volta. Por favor, esquece isso...
Ele me olha nos olhos o tempo todo, com uma expressão um pouco decepcionada.
— Eu já descobri o responsável, Emma, e você também. Só não quer admitir que foi seu pai.
— Já chega. — ordeno, com um nó na garganta.
— Concordo. — ele diz, se levantando de forma brusca.
Sem olhar mais para mim, ele me puxa pelo braço e sai me arrastando até a sala principal. Ele é bem mais forte que Jo e dessa vez meu braço dói de verdade.
— Talvez você só acredite vendo — ele diz me empurrando em cima da cadeira e amarrando meus pulsos rapidamente.
— Talvez você devesse desistir — rebato.
Dennis e Jo percebem o movimento dentro da cabana e logo se juntam a nós.
— Que houve? — Jo pergunta.
— Eu vou fazer ela entender.
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Olá, amizadesss!
Desculpe pelo capítulo curto e pelo atraso, mas é que eu estou viajando e não tive muito tempo para escrever, então esse capítulo não está tão bom, peço desculpas de novo.
Enfim, o que estão achando? No próximo capítulo a gente vai ver mais sobre o pai da Emma. Vocês acham que ele é culpado pelo acidente? Ou será que o Alex tá maluco?
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Sequestrada #Wattys2016
Acak"- A partir de agora, eu quero que você esqueça tudo o que você acha que sabe sobre sua família." Quando um atentado a um avião do governo matou centenas de pessoas, a última coisa que Emma Wright poderia imaginar era que sua família tives...