Capítulo 8 - Raiva

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Acordo com o som de pássaros. Se eles não me lembrassem que estou presa no meio do nada, eu até diria que esse é um belo jeito de se acordar.

Respiro fundo, sabendo que esse vai ser mais um dia em que vou estar longe da minha família, mais um dia em que eu vou ter que passar trancada em um quarto ou amarrada à uma cadeira. Seguro o choro. Eu não aguento mais. Toda vez que sou arrastada até aquela cadeira ou que Jo me diz coisas desagradáveis ou quando me trazem um prato com um misero pedaço de pão, eu me sinto humilhada, me sinto uma ninguém.

E o pior é que agora eu tenho mais uma coisa me incomodando. A lembrança que eu tive, de meu pai conversando com Walter. Não sei se é real. Não acredito que seja, mas ela plantou uma semente de dúvida dentro de mim. E agora estou com medo. Estou com medo de que Alex possa estar certo.

Continuo deitada no colchão velho que me dá dor nas costas, por alguns minutos, pensando na lembrança e sem vontade nenhuma de levantar. Até que percebo que estou coberta por uma manta marrom que não estava aqui ontem quando fui dormir. Me sento sobre o colchão e encontro uma bandeja ao meu lado. Nela estão um copo de água, um prato com três pequenos pãezinhos e uma muda de roupa. Olho para o vestido que estou usando desde que cheguei aqui, já estava na hora de trocar mesmo, o tecido está até um pouco rasgado.

Pego a roupa para ver o que eles trouxeram. É uma camisa branca, claramente masculina, e uma calça de algodão cinza, estilo legging, que, pelo tamanho, deve ser de Jo. Lanço um olhar de reprovação às roupas e depois à câmera. Sei que alguém está me vigiando de lá e essa é minha forma de dizer que as roupas são de muito mau gosto. Eu nunca usaria isso. Mas como não tenho outra opção, isso vai ter que dar.

Me viro de costas para a câmera. Dessa forma, eu me sinto menos exposta. Tiro meu vestido rapidamente e logo coloco a camisa branca que é grande de mais para mim, chegando até mais ou menos a metade das minhas coxas. Depois, visto a calça que fica um pouquinho larga. Até que a roupa é confortável, apesar de eu ficar parecendo uma sacola com essa blusa gigante.

Olho de relance para os pães. Parecem bem melhores do que os últimos que comi. Pego um deles e experimento. Solto um suspiro. O pão é muito bom e me faz sentir falta da comida de Mary, esses são quase tão bons quanto os dela. Como todos em um piscar de olhos.

Quando termino, espero eles aparecerem para me buscar, mas nada acontece. A porta continua fechada e o lugar continua quieto até demais. Será que estou sozinha? Não. Eles não seriam tão burros. Vou até a fresta da parede e dou uma olhada lá fora. Não há ninguém, mas a moto de Alex está estacionada em frente à cabana, o que indica que ele está aqui. 

Eles vão me deixar trancada aqui hoje? Começo a suar e a ficar sem ar, só de pensar nisso. Mais um minuto aqui dentro e eu vou morrer. É possível uma pessoa não claustrofóbica, ter um ataque de claustrofobia? Porque eu estou tendo um agora.

Vou até a porta e dou um murro na mesma.

— Ei! — grito, com esperança de que alguém me responda. Mas nada acontece.

Grito novamente. E nada.

Sinto um calor insuportável e o oxigênio do lugar não parece suficiente. Me preparo para tentar arrombar a porta. Sem ideia alguma de como fazer isso.

Seguro a maçaneta e dou um puxão na porta. Caio para trás com o movimento brusco que a porta dá. Ela já estava aberta. Estranho. 

Olho para o corredor e ele está vazio. Espero uns instantes mas ninguém aparece. Me levanto do chão e atravesso a porta com cuidado. Uma pontinha de esperança surge dentro de mim. Talvez seja agora. Minha chance de fugir. Caminho até a metade do corredor na ponta dos pés checando cada porta. Em todas elas, não vejo ninguém. Daqui posso ver a porta de entrada da cabana. Me preparo para correr até ela.

Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora