Capítulo 7 - Lembranças

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Eu estava correndo pela casa, escada a baixo. Era domingo e eu estava entediada. Meus cabelos loiros presos em duas tranças que sacudiam a qualquer movimento.

Não sabia que meu pai estava em casa quando passei em frente ao seu escritório, que ficava logo depois da sala de estar. Parei um instante, a porta entreaberta. Eu nunca tive permissão de entrar ali e a sensação de estar fazendo algo proibido, apesar de me causar calafrios, me fazia querer continuar.

Estava prestes a empurrar a porta, quando um barulho muito alto me pegou de surpresa e me fez pular. Meu pai havia dado um murro na mesa do escritório e só então percebi que ele estava ali. A princípio, achei que ele tinha me visto e que agora eu ia ficar minha vida inteira de castigo, mas me enganei. Ele nem sequer percebeu que eu estava ali, porque não estava sozinho. Discutia com alguém e agora suas vozes estavam alteradas, parecia muito sério.

Me inclinei um pouco mais, para ver quem era, mas não precisei fazer muito esforço. Identifiquei sua voz.

— Você está traçando um caminho perigoso George... — era Walter Holbrook — E eu não quero estar envolvido nessa sujeira quando descobrirem tudo. E acredite, eles vão. Corrupção, tráfico... Quando você vai perceber que está cavando a própria cova?

Meu pai não disse nada e um silêncio assustador tomou conta do lugar, logo antes do tio Walter se retirar. Me escondi atrás de um vaso de plantas para que ele não me visse e fiquei ali agachada, tentando entender o que tudo aquilo significava. Mas eu era uma criança tola e quando Mary anunciou que o almoço estava pronto, eu esqueci o que havia acabado de acontecer em um piscar de olhos.

Até agora.



Várias coisas passam por minha cabeça quando o monitor é ligado novamente. Pensamentos desordenados, lembranças pouco nítidas, como se eu não soubesse o que é real e o que não é.

A corda que envolve meus pulsos foi amarrada excepcionalmente forte desta vez e sua superfície áspera parece cortar minha pele. Tenho dificuldade para focar nas imagens que Alex me mostra por causa da dor e, em parte, porque não quero. Sei que estão falando comigo, posso ouvir suas vozes como múrmuros distantes, mas não consigo decifrar suas palavras.

Fecho meus olhos, desejando que por algum milagre eu possa desaparecer, simplesmente sumir daqui, mas algo atinge meu rosto e sou trazida de volta. Era a mão de Jo, que deixa uma mistura de dormência e dor em minha bochecha esquerda e faz minha boca emitir uma espécie de grito.

— Agora você tá ouvindo, não é?— ela diz num tom debochado. Sua voz soa alta demais, amarga demais. — Não me faça fazer isso de novo.

Dennis solta uma risada abafada.

— Alguém tá estressadinha hoje... — ele provoca Jo, que nem dá ideia.

Alex não diz nada, apenas dirige à ela um olhar repreendedor, ao qual ela responde revirando os olhos.

— Emma, olha para essas fotos, parecem familiar? — Alex me pergunta. Ele tem uma imagem na mão, uma espécie de recorte de jornal. Nela meu pai está acompanhado de um outro homem, e os dois parecem fazer um acordo. — Porque eu tenho quase certeza de que você conhece esse homem, Robert Jordan — ele pega outra imagem, dessa vez com o rosto de uma pessoa, um homem por volta dos 50 anos —, não conhece?

Observo a imagem e balanço a cabeça positivamente. Eu conheço ele, de fato. Já o vi em diversas ocasiões, inclusive na minha casa.

Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora