Capítulo 14 - Dor

2.1K 171 39
                                    

Não me lembro de muita coisa.

Lembro de ser atingida por Jo algumas vezes mais, antes de Alex pedir para ela parar. Mas eu já nem sentia mais dor naquele momento. Tudo o que eu sentia era desprezo. 

Não conseguia entender — e ainda não consigo — como ele pôde ficar ali o tempo todo, apenas assistindo. Ele não me ouviu gritar nos primeiros golpes? Ele não percebeu que eu não aguentava mais?

Quando ele finalmente pediu que Jo parasse, já não fazia mais diferença. Seus socos não surtiam mais efeito e eu não sentia mais nada. A não ser o peso de minhas pálpebras sobre meus olhos. Vi Alex caminhar até mim e só. Apaguei.

Acordei hoje e estava novamente no quarto. Novamente trancada.

A dor que eu sentia somente nas costelas, agora sinto por todo meu corpo. Já posso imaginar o estrago que Jo fez em meu rosto. Sei que meu olho esquerdo está inchado, porque só consigo ver embaçado por ele, mas o direito está funcionando normalmente. Infelizmente. Porque assim posso ver Alex perfeitamente quando ele atravessa a porta do quarto. E essa era a última coisa que eu queria ver. Preferia ter que apanhar de Jo mais uma vez do que ter que ver Alex agora, ou em qualquer outra ocasião.

Viro o rosto na direção oposta a ele e passo a encarar a parede, esperando que ele entenda o recado: não quero vê-lo. Mas ele não entende, ou finge não entender. Porque não vai embora. Ele fica parado perto da porta, observando o estrago que ele mesmo permitiu que acontecesse.

Quero esconder meu rosto, quero enterrar minha cabeça embaixo da terra. Posso sentir seu olhar sobre mim e me incomoda. Não quero que ele tenha o direito de olhar para mim. Depois de tudo o que ele me fez passar, ele não tem esse direito. E eu acho que ele sabe e, por isso, desvia o olhar.

— Me desculpa — sua voz sai baixa e arrastada, como um sussurro; seus olhos estão focados no chão.

Tremo ao som de suas palavras. Não consigo acreditar. Me seguro para não esganar seu pescoço.

— Não — respondo, com os nós das mãos brancos.

Ele volta a olhar para mim.

— Eu... Eu realmente sinto mui...

Interrompo-o.

— Para... Para de mentir... — digo, retribuindo o olhar e prestes a desmoronar. — Você não tem o direito de sentir muito... Você não tem o direito de vir aqui e me pedir desculpas... Você não tem o direito de me trancar nesse quarto e nem de permitir que a sua namorada me dê uma surra! Você não tem esse direito!

Quando termino de falar, as lágrimas já escorrem pelo meu rosto. Limpo-as rapidamente. Não quero parecer fraca. Não quero fazer papel de idiota. Apesar de ser exatamente isso o que eu sou. Fraca e idiota.

Ele não responde. Não consegue, porque sabe que está errado.

Eu apenas continuo:

— Você acha que eu quero ver você? Você acha que eu quero ouvir a sua voz? Eu não quero! Eu tenho nojo de você!

— Emma... Você não entende... 

— Tem razão! Eu não entendo! Você pulou de um penhasco pra me salvar... Você matou um homem pra me salvar! Mas não teve coragem de me defender da Jo? — pergunto com a voz impregnada com indignação. — E aquela baboseira sobre não querer me machucar? Sobre não ter me sequestrado pra isso? Era tudo mentira, Alex? É isso?

— Não! Você não faz ideia do quanto eu queria fazer ela parar! Do quanto eu queria tirar você dali! Mas você acha que ia adiantar alguma coisa? Uma hora ou outra ela ia fazer aquilo e talvez seria até pior. Eu a conheço, Emma, e eu nunca havia a visto com tanta raiva. 

Me recuso a acreditar em uma palavra sequer que sai da boca dele. Me levanto do chão com dificuldade e me coloco em sua frente. Alex tenta não olhar pra mim.

— O que foi? Tá com medo de ver o estrago que você fez? — pergunto, chegando ainda mais perto, quase encostando meu corpo no dele. — Olha pra mim, Alex... — falo, fazendo-o encarar os cortes e os hematomas em meu rosto. — Você acha que esse é o problema? Eu não me importo em apanhar da Jo...  Acredite, eu já me acostumei. O problema foi ver você lá... Assistindo tudo, sem fazer nada... — sinto sua respiração pesada sobre mim e seus olhos, carregados de arrependimento. Engulo em seco, tentando conter minhas lágrimas. — Como você conseguiu?

Ele me encara por alguns segundos, antes de responder. Seus olhos viajam por todo detalhe, todo machucado de meu rosto. Depois, ele fecha os olhos, como se quisesse apagar aquilo de sua memória, e, então, responde:

— Não faço ideia. 

Dou-lhe as costas. Não há nada mais que eu queira dizer. Mas ainda há muita coisa que eu queira ouvir. Eu quero ouvir motivos ou sinais que me façam duvidar das coisas que Alex me diz, que me façam ter certeza de que ele é a pior pessoa do mundo, que me façam odiá-lo mais que ninguém. E nada do que ele me diz me causa isso. Pior, uma parte dentro de mim, bem lá no fundo, acredita em tudo o que ele diz, apesar de eu não querer acreditar.

Passo as mãos pelos meus cabelos curtos, querendo arrancar cada fio, um por um. Sinto o nó voltar a se formar em minha garganta. E eu quero desfazê-lo, mas não consigo. Meu organismo me faz chorar, como se não pudesse mais guardar toda essa mágoa, toda essa dor dentro de si. Nunca me senti assim antes e me assusta. Não consigo me controlar. 

— O que... o que você quer? — pergunto por entre soluços e lágrimas.— O que você quer de mim, Alex? Porque eu não tenho mais nada pra dar... Você tirou tudo... 

Como sempre, ele não me responde. Mas dessa vez, ele me olha como se não soubesse o que fazer, como se estivesse tão perdido quanto eu. Nem ele sabe o que quer.

— Diz alguma coisa! — grito, esperando uma resposta que não chega — Eu quero odiar você, Alex... Me faz odiar você... Por favor!

— Não posso.

É tudo o que ele diz antes de sair do quarto novamente e me deixar sozinha.

Solto um grito que venho guardando por não sei quanto tempo. Ele sai de minha boca como o rugir de um animal. E é exatamente assim que eu me sinto. Um animal em uma jaula.

Mas antes fosse eu um animal que não tem esses conflitos dentro de si, do que uma garota marcada pela dor.

------------------------x------------------------ 

Esse capítulo tá relativamente curto, perto dos outros, mas espero que gostem mesmo assim, amores!

Não sei direito o que foi esse capítulo, eu queria um conflito entre a Emma e o Alex, mas nem sei se ficou lá grandes coisas. 

Enfim..........Queria saber se vocês têm alguma sugestão para a história. Tipo, algum personagem que vocês queiram conhecer mais ou algo que vocês queiram que aconteça (além da Emma se vingando da Jo, porque acho que isso todo mundo quer, né? kdkdk).

Eu tenho mais ou menos a história na minha cabeça, então eu vou avaliar as sugestões de vocês e ver se dá pra acrescentar. Mas não sei. Vamos ver se dá certo hehe

Beijos















Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora