Não consigo me mover. Meus olhos estão abertos em choque e meu coração está quase parando. Um líquido quente e vermelho cobre meu rosto e o peso do homem contra meu peito parece esmagar meus pulmões.
Ele está imóvel. Pesado. Com um buraco em sua cabeça. Morto.
A pele dele encostando na minha me faz sentir suja. Quero tirá-lo de cima de mim. Preciso tirá-lo.
Com dificuldade, começo a recobrar meus movimentos. Tento me arrastar para sair debaixo dele e acabo conseguindo empurrar seu corpo, que vira para cima. Ele me encara. Com seus olhos abertos em minha direção. Completamente vazios.
O sangue, que escorre pelo meu rosto, chega até meus lábios. Posso sentir seu gosto. E é a pior coisa que já provei. Me faz querer vomitar.
Tento me segurar para não botar tudo para fora, mas ele continua ali. Me olhando. Me culpando. Me fazendo sentir ainda mais imunda.
Sem tentar mais evitar, permito que o gosto de bile chegue à minha garganta e deixo o pouco do que eu tinha em meu estômago sair pela minha boca.
Eu continuo ali, agachada, mesmo depois de já ter botado tudo para fora. Minhas mãos tocando as folhas secas, meus braços trêmulos. Minha cabeça abaixada. Quando uma mão é estendida em minha frente. A mão que disparou o tiro.
Olho para cima para ver quem é. Mas a minha visão embaçada me impede. Estou cansada demais. Arrasada demais. E desisto de tentar.
Apenas apago.
***
Minha cabeça balança em um movimento constante, de um lado para o outro. Sinto minhas mãos balançarem na mesma velocidade. Abro os olhos devagar e me deparo com uma visão invertida. As árvores estão de cabeça para baixo. Assim como o chão e o céu. E eu.
Eu estou de cabeça para baixo. Estou sendo carregada sobre os ombros de alguém, que segura minhas pernas com um dos braços.
Imediatamente, começo a me debater, querendo ser colocada no chão.
— Já tava na hora — ele diz, enquanto faz meus pés descalços tocarem o chão.
Não preciso vê-lo para reconhecer sua voz.
— Alex... — seu nome escapa de minha boca involuntariamente.
O peso de meu próprio corpo parece ser demais para as minhas pernas, e busco apoio nos braços de Alex. Seus dedos pressionam meus pulsos e há vestígios de sangue em suas mãos. As manchas vermelhas me fazem lembrar do homem. Do seu olhar vazio. Do seu sangue sobre minha face.
O sangue.
Começo a esfregar meu rosto, tentando tirá-lo.
— Emma...
— Não... Não... — esfrego meu rosto ainda mais forte, mas nada sai dali, meus dedos continuam limpos. — Não quer sair... Eu tenho que tirar...
— Emma, para!
Caio de joelhos, mas continuo esfregando, mal ouvindo o que sai da boca de Alex. Lágrimas começam a sair de meus olhos e a sensação de repulsa cresce cada vez mais.
— Emma, já tá limpo! Já saiu tudo! — ele se agacha, ficando na mesma altura que eu. — Eu limpei.
Deixo meus dedos tocarem minhas pernas e dirijo um olhar acusador a Alex. Ele tenta me ajudar a levantar, mas eu recuso suas mãos.
— Você matou ele...
— O quê? — ele pergunta, como se não tivesse escutado.
— Você matou ele! Seu assassino! — grito, empurrando as mãos dele que continuam tentando me levantar. — Assassino!
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Sequestrada #Wattys2016
De Todo"- A partir de agora, eu quero que você esqueça tudo o que você acha que sabe sobre sua família." Quando um atentado a um avião do governo matou centenas de pessoas, a última coisa que Emma Wright poderia imaginar era que sua família tives...