Passei a noite em claro. Parcialmente em claro, eu diria. Sei que dormi, mas não consegui manter os olhos fechados por muito tempo. Acordava assustada, as costelas doendo, como se eu tivesse levado um chute, de novo.
Sei que também chorei. Uma mistura de dor, medo e confusão. Tentei ver até que ponto eu conseguia chorar, até que ponto as lágrimas escorreriam. Mas não cheguei a conclusão nenhuma, porque adormeci. Acho que é automático, chega uma hora em que o choro vira sono.
E novamente, acordei. Nenhum chute dessa vez, mas um soco no maxilar, que fez meus dentes rangerem.
Agora estou de olhos abertos, encarando o teto. A única janela do quartinho permite que finos fachos de luz iluminem o ambiente de leve. Posso vê-los passando sobre mim, pois o inchaço de meu olho diminuiu, levando consigo o embaçado que me perseguia.
Sento-me devagar sobre o colchão desgastado, que me dá dor nas costas. Inspiro e expiro uma grande quantidade de ar, numa tentativa estúpida de tentar aliviar a dor. Quando vejo que não adianta, decido usar a dor para algo útil.
Pressiono os hematomas de meu rosto de leve, agravando meu sofrimento. Não faço isso por que quero sentir dor, faço porque preciso senti-la. Preciso senti-la para eu não esquecer do que fizeram. Para eu não perdoar.
Sinto meus olhos lacrimejarem, mas mesmo assim continuo. Até que escuto o ranger agoniante da porta do quarto sendo aberta.
Me encolho rapidamente no canto entre as paredes. Os joelhos junto ao peito em uma forma de proteção, não sei ao certo porquê. Espero Alex entrar no quarto. Sei que é ele, é sempre ele.
E não me engano.
Ele atravessa a porta com medo, devagar. Ele para ao me ver como se ficasse sem reação, como se não soubesse se pode continuar. Mas continua mesmo assim, revelando o prato que carrega em uma de suas mãos. Me encolho ainda mais, esperando que ele recue, mas ele não o faz.
— E-Eu pensei que talvez... você estivesse com fome... — ele diz, se aproximando ainda mais e colocando o prato sobre o colchão, do meu lado.
Não estou, por incrível que pareça. Encaro o pão macio contido no prato e não sinto vontade nenhuma de comê-lo. O prato não é mais de vidro, por sinal, e sim de plástico, o que me faz soltar uma espécie de riso abafado.
Empurro o objeto redondo com um de meus pés até que ele saia do colchão e chegue aos pés de Alex, numa devolução calada.
Ele solta um suspiro, colocando o prato novamente perto de mim.
— Você deveria comer alguma coi...
— Sai daqui.
Abro a boca pela primeira vez e minha voz sai rouca, carregada com raiva.
— Emma...
— Sai daqui! — grito mais uma vez, pegando o maldito prato e jogando-o em cima de Alex.
Vejo o pão rolar pelo chão e me arrependo pelo desperdício, mas não demonstro. Continuo com a mesma expressão determinada e brava.
Alex apenas balança a cabeça em negativa, em desistência, antes de sair do quarto sem nem ao menos pegar o prato.
Após ver ele atravessar a porta, dando as costas para mim, pego o objeto de plástico mais uma vez e o jogo em sua direção, querendo vê-lo se despedaçar, como o outro se despedaçou na cabeça de Jo. Mas nada acontece, ele continua intacto e seu barulho oco ao tocar o chão só me deixa ainda mais nervosa.
Respiro fundo, só então reparando na porta entreaberta. Ele não trancou a porta. Por que ele não trancaria a porta?
Decido que não quero descobrir. Caminho até a porta e a fecho, sentando-me em sua frente depois, para impedir que qualquer um tente entrar aqui de novo.
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Sequestrada #Wattys2016
De Todo"- A partir de agora, eu quero que você esqueça tudo o que você acha que sabe sobre sua família." Quando um atentado a um avião do governo matou centenas de pessoas, a última coisa que Emma Wright poderia imaginar era que sua família tives...