Capítulo 4 - Trancada

2.6K 189 6
                                    

— Já tá chegando? — escuto a voz de uma mulher. — Acho que a vadia já tá acordando.

Não faço a menor ideia de onde estou. Um capuz preto me impede de ver qualquer coisa ao meu redor e sinto uma dor de cabeça insuportável. Tento me levantar mas um movimento brusco me joga contra uma parede e bato a cabeça. Percebo que estou em um automóvel. Tento tirar o pano de minha cabeça mas minhas mãos estão atadas. É então que me lembro do que aconteceu em minha festa e uma onda de pavor toma conta de mim. Estou sendo sequestrada.

Sem pensar duas vezes, começo a gritar por ajuda e tento me soltar, sem sucesso.

— Eu avisei. — a mulher volta falar.

— Anda logo, Jo, apaga ela. — dessa vez a voz é de um homem.

Sinto alguém se aproximar. A mulher tira o capuz de minha cabeça nos deixando cara a cara.

— Por favor... Me deixa sair... — peço desesperada, mas ela finge que não escuta.

Ela procura uma caixa no chão do automóvel que é espaçoso, como uma espécie de van. Ela tira da caixa um pano e um vidro com um líquido transparente dentro. Sei exatamente o que ela vai fazer e começo a gritar desesperadamente:

— Socorro! Por favor! Alguém me ajuda! — lágrimas escorrem pelo meu rosto e não consigo contê-las.

— Pode gritar o quando quiser, ninguém vai te ouvir aqui. — ela diz com um meio sorriso.

Ela vem até mim com o pano já molhado e o aproxima de meu rosto. Tento impedi-la mexendo a cabeça, mas não adianta. O cheiro forte começa a queimar minhas narinas e logo tudo a minha volta fica escuro novamente.

***

Minha boca está seca e minha cabeça dói, agora ainda mais. Abro os olhos com dificuldade e minha visão vai clareando aos poucos. Minhas mãos e pés estão amarrados e eu estou sentada em cima de um colchão velho, a única mobília do quarto trancado. O pouco de luz que ilumina o ambiente vem de uma janela alta e de algumas frestas da parede feita de madeira. Ao que tudo indica, estou presa em uma espécie de cabana.

Lágrimas começam a escorrer novamente pelo meu rosto. Tento pará-las, mas estou apavorada. Não faço ideia do que eles querem. Pela primeira vez na minha vida, não tenho controle sobre nada e não tenho a mínima ideia do que fazer.

Me arrasto até uma das frestas da parede e posiciono meu rosto de forma que meu olho direito consiga ver alguma coisa do exterior. Consigo identificar árvores bem altas e o chão repleto de folhas secas. Minhas suposições se confirmam. Estou em uma cabana. E pelo que tudo indica, em uma bem afastada da cidade. Não temos árvores tão altas por lá.

Desesperada, coloco meus dedos entre as frestas da parede e começo a puxá-las, tentando romper a madeira. Não obtenho sucesso nenhum, porque a madeira é grossa e a corda que envolve minhas mãos não ajuda. Decido, então, tentar quebrar a parede com meus pés.

Quando estou pronta para dar o primeiro chute, um barulho na porta do quarto me assusta e volto rapidamente para o local anterior, me encolhendo contra a parede. Fecho os olhos para fingir que ainda estou desacordada.

Alguém entra no quarto e se aproxima de mim. Ouço o barulho de um prato sendo colocado no chão.

— Come. — é uma voz feminina.

Continuo quieta sem me mover. Ela se irrita e me puxa pelo cabelo, nos colocando cara a cara. Ela é forte, e a dor que sinto me faz abrir os olhos involuntariamente. Seu rosto está descoberto e posso ver suas feições perfeitamente, é a mesma mulher que me apagou dentro do carro. Sei porque ela tem um rosto marcante, difícil de esquecer. Ainda mais na situação em que nós duas estamos. Mas não entendo porquê ela está me mostrando seu rosto. Ela não tem medo de que eu possa identificá-la quando sair daqui? Meu coração acelera quando entendo o porquê: eles não têm intenção nenhuma de me deixar sair.

Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora